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Bala na Cesta

Após temporada de calouro, Raulzinho projeta próximos passos na NBA

Fábio Balassiano

01/06/2016 13h15

Você leu aqui a primeira parte da entrevista com Raulzinho. Vamos à segunda, sobre NBA.

raul5BALA NA CESTA: Como você avalia a sua temporada de estreia na NBA? Te surpreendeu o fato de você ter começo o campeonato como titular do Utah Jazz?
RAULZINHO: Foi uma primeira temporada muito positiva. O que me surpreendeu foram as oportunidades que eu tive. Eu não esperava que algumas coisas fossem acontecer tão cedo. Não só começar de titular, mas a quantidade de minutos que tive, essas coisas me causaram uma surpresa positiva. É lógico que tudo isso foi decorrência do meu trabalho. Logo que cheguei lá no verão americano de 2015 eu não saí da quadra. Fiz musculação pra ganhar forças, treinos específicos principalmente de arremessos e acho que deu resultado. Foi muito boa pra mim essa temporada.

raul1BNC: Você falou de surpresa, e pelo que a gente leu daqui você foi avisado pelo técnico Quin Snyder que seria titular da armação pouquíssimos dias antes de começar a temporada. Como foi receber a notícia do Snyder sobre a titularidade?
RAULZINHO: Quando cheguei lá muita gente já falava que a franquia estava buscando um armador com as minhas características. Alguém que jogasse mais pro time, essas coisas. E no caso o meu estilo de jogo se adaptava bem ao que o time precisava muito mais ao time do que o do Trey Burke (também armador). Isso era conversa dos atletas também. Só que eu não imaginava, né? O Burke foi escolha número 9 do Utah em 2013, teve todo um projeto que fizeram em cima dele e eu estava chegando, meu primeiro ano. Não esperava isso, e ainda tinha o fato do Dante Exum, o australiano, não ter se lesionado ainda. Joguei a pré-temporada inteira de reserva, mas fui bem nos jogos e treinos, e aí foi isso mesmo que você falou – três ou quatro dias antes da estreia o técnico chegou pro grupo e avisou que não só eu como o Rodney Hood, que estava entrando em seu segundo ano, iríamos começar nas posições 1 e 2. Lógico que fiquei feliz. Todo mundo quer jogar, né? Foi um momento especial.

neto2BNC: Aí veio o Jogo das Estrelas em Toronto, você esteve lá no desafio dos calouros. Foi o segundo brasileiro a participar da festa, mas o Nenê quando foi lá no começo de século foi para um tipo de jogo diferente – o dele era de calouros contra atletas de segundo ano; o seu, de estrangeiros contra norte-americanos. O que mais te chamou a atenção do All-Star Game?
RAULZINHO: Foi muito bom. Além da minha felicidade, pude levar meu pai e meu irmão mais novo a um evento deste tamanho. De tudo, isso foi o melhor, sabia? Poder proporcionar uma alegria imensa para a minha família, para pessoas que sempre torceram muito por mim. A estrutura, a quantidade de pessoas trabalhando para o evento, a quantidade de reuniões que tivemos para entender papéis e responsabilidades, tudo isso é muito impressionante. Tinha uma sala só para familiares, com comida, videogame, essas coisas. A grandiosidade do evento me assustou. A cidade toda parada, você consegue imaginar.

raul1BNC: A primeira vez que falei com você foi em 2009, quando você foi jogar um Jordan Classic. Você tinha até cabelo encaracolado. Foi a primeira vez que você apareceu pro mundo do basquete Sete anos depois você estava em um All-Star Game…
RAULZINHO: Sempre passa um filme na cabeça disso tudo, do momento que comecei até chegar à NBA, não há como negar. Foram situações bem diferentes. O Jordan Classic eu precisava mostrar, precisava fazer com que as pessoas me conhecessem, olhassem por mim. O All-Star Game era mais um evento festivo, tinha acabado de ser convocado, então eu não precisava me pressionar pra mostrar tanta coisa assim. Passa um filme de tudo. O Jordan Classic, o Nike Hoop Summit, os torneios com as seleções brasileiras de base, a experiência na Europa e aí chegar à NBA, que é o sonho de todo atleta.

BNC: Bacana. Depois do All-Star Game veio a segunda metade da temporada, e aí as coisas começaram a ficar difíceis para o Utah e um pouco pra você também. O time estava ali em sétimo, oitavo do Oeste, mas optou por fazer uma troca que trouxe o armador Shelvin Mack do Atlanta, dono de estilo bem diferente do seu (ele mais agressivo, você mais organizador de jogadas). Ele chegou, logo virou titular e você foi pro banco. Coincidência ou não o Jazz caiu e não entrou nos playoffs. Como foi esta segunda metade do campeonato?
mack1RAULZINHO: Este foi meu primeiro momento de dificuldade na temporada. Meu pai mesmo me dizia: "Muita gente passa pelo que você está falando logo que começa a temporada. Você está passando por isso no meio do campeonato. Faz parte do aprendizado". Ele me dizia sempre isso. Eu aprendi muito com isso também. Tive menos minutos, mas a competitividade nos treinos aumentou muito também. Por incrível que pareça, a responsabilidade não diminui quando você vira reserva, mas sim aumenta, porque você precisa fazer o que vinha fazendo, ou mais, em menos tempo, em situações diferentes. É diferente você jogar 30 do que jogar 10 minutos. Com 10 minutos nem sempre você consegue entrar no ritmo de jogo. Às vezes você acerta uma, duas bolas e já está saindo. É bem distinto e foi bem difícil pra te falar a verdade. A vida e o basquete são assim, e o atleta precisa estar preparado pra jogar o tempo que for. O Mack chegou, fez bons jogos, e é normal o time mudar um pouco com a chegada de um elemento diferente na química que tínhamos. Não é uma crítica a ele, mas sim algo natural pela chegada de um novo atleta. Não sei se perdemos esses jogos importantes que nos levariam ao playoff por causa disso, mas ele fez bons jogos. Mereceu os minutos que teve. Eu consigo levar pelo lado positivo, que é de ter aprendido com ele nos treinos e da competitividade que tivemos juntos.

raul4BNC: Você parou pra pensar o que será na próxima temporada em Utah? Te digo isso porque o Mack mesmo tem a opção do time em mantê-lo (o Jazz ainda não decidiu). O australiano Dante Exum voltará. O Burke entra em último ano de contrato. E tem você entrando no segundo ano. Preocupa?
RAULZINHO: Lógico que a gente fica um pouco preocupado. Quero jogar, quero ter um crescimento do meu primeiro para o segundo ano, mas neste momento meu foco está mesmo na Olimpíada do Rio de Janeiro. Aí quando tiver que me apresentar lá pra pré-temporada a gente vê o que irá acontecer. Boatos há aos montes e de todos os tipos. Tenho que me preocupar com o que posso controlar, que é minha parte física, a parte técnica, que é no que venho trabalhando. Se tiver a oportunidade de jogar, preciso estar preparado. Pego um avião amanhã mesmo pros Estados Unidos, e passarei este tempo até a apresentação da seleção brasileira treinando lá. Há uma academia em Santa Bárbara (Califórnia) e treinarei lá.

raulkobe1BNC: Antes de entrar na seleção brasileira queria falar sobre seu último jogo na temporada 2015/2016 da NBA. Calhou de ser contra o Lakers, e do Utah Jazz já entrar em quadra eliminado porque o Houston Rockets havia ganho o seu jogo (os dois times disputavam a oitava vaga do Oeste). Aí a gente viu aquele show de despedida do Kobe Bryant com 60 pontos. Consegue nos descrever aquele momento? Em alguns momentos você chegou a marcá-lo. Você chegou a falar algo com ele?
RAULZINHO: Eu brinquei com ele uma hora lá. Ele chegou perto do Marcelinho Huertas e foi chamar a jogada falando em espanhol achando que eu não entenderia. Aí brinquei falando: "Ó, não adianta falar em espanhol que eu entendo, hein. Já sei o que você vai fazer". Mas foi só isso mesmo. O fato é que foi uma oportunidade que é difícil de explicar. O último jogo da minha temporada de estreia caiu justamente naquele que foi o de despedida de um dos melhores de todos os tempos. Isso é incrível. Ainda por cima do jeito que foi aquele jogo, né. A gente perdeu, ninguém gosta de perder, mas o que ele fez foi um show à parte. Estar lá dentro, poder jogar contra ele é algo pra poucos e que levarei pro resto da minha vida. O jogo estava meio controlado pra gente mesmo. Faltavam meio que cinco minutos, ele deu dois air-balls (quando o jogador arremessa e a bola não bate nem no aro) e aí pensei que a partida era nossa porque o gás dele teria acabado ali. Só que faltando dois minutos eu não o que deu nele que ele voltou a ser o Kobe que ele sempre foi. Começou a meter uma bola, falta, lance de três. Não conseguíamos parar o cara de jeito. Impossível de marcar. Teve gente que perguntou se era combinado, mas isso não existe. A gente é profissional, ganha pra estar ali e jamais aconteceria. No banco, quando estava assistindo, eu não tinha nem reação pro que ele fez. Foi de outro mundo. A loucura dos torcedores, o clima no ginásio, foi lindo ter participado disso tudo. Não tem como falar muito.

raul1BNC: Você lembra de algo diferente com o Kobe, ou só isso mesmo?
RAULZINHO: Teve um lance engraçado, sim. Antes dos jogos há sempre a conversa dos árbitros com os dois capitães de cada time, você sabe como é. Os juízes sempre falam sobre as regras, dão alguns toques, não é nada demais. Tinha vezes que o Gordon Hayward, nosso capitão, não estava na quadra por causa dos rituais pré-jogo dele. E nenhum atleta gosta muito de parar a preparação antes dos jogos, né. O que acontecia? O time me colocava pra ouvir os árbitros. Em uma dessas foi contra o Lakers no meio da temporada (em 28 de março) e com o Kobe do outro lado. O Hayward não estava, e lá fui eu fazer essa de capitão do time. Cumprimentei, troquei uma rápida ideia e teve uma foto desse momento que guardo com muito carinho.

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