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Bala na Cesta

Em defesa do craque Russell Westbrook, armador do Thunder

Fábio Balassiano

13/05/2016 00h01

russ1"Russell Westbrook não pensa". "Russell Westbrook é uma besta". "Russell Westbrook não arma o jogo". "Russell WestBurro". "Russell Westbrook não tem cérebro". "Russell Wesbtook se preocupa mais com suas roupas do que em jogar basquete. Olha como ele se veste. Depois tem jogo e aí perde". É assim que a internet brasileira se acostumou a "acarinhar" Russell Westbrook, o armador que levou ontem o Oklahoma City Thunder a final do Oeste ao vencer pela terceira vez seguida o fortíssimo San Antonio Spurs para fechar o duelo em 4-2.

russ2Em primeiro lugar, vamos lá: Russell Westbrook não tem o jogo mais fácil do mundo para que as pessoas compreendam. É mais física quântica do que álgebra, digamos assim. Lembro que quando comecei a vê-lo reclamava constantemente de sua falta de atenção ao passe, de sua feroz corrida em direção a cesta e de sua nem loucura para decidir nos momentos críticos com muita velocidade. Isso foi há uns cinco anos. Embora não o chamasse de burro, como vejo aos quatro ventos por aí na internet brasileira, entendia que dava para aquele birrento camisa 0 ser melhor. Ele tinha 20 e poucos anos e estava aprendendo. Eu também.

russ6Westbrook evoluiu. Do meu lado, me esforcei para entender seu jogo. Aprendi que não posso querer que o cidadão com mais de 1,90m e com a força física descomunal para um armador jogue da mesma maneira que seus pares mais baixos, mais fracos e menos ágeis que ele.

Querer que Russ simplesmente passe a bola de lado 715 vezes por ataque e veja o que seus companheiros vão fazer é simplesmente pegar tudo aquilo que ele (Russ) tem de bom e jogar no lixo (além de ser o cúmulo do narcisismo, pois o cidadão só será bom se ele agradar ao estilo de jogo que você, como crítico, quer). Em português claro: seria uma burrice colossal.

russ8Ou seja: a tal vantagem competitiva que o cara tem a dar ao seu time é justamente inverter a "lógica" dos armadores, aquela que diz que todo cara da posição 1 deve passar a bola antes de qualquer coisa. Devido a sua força física e sua fúria, Russ pontua rapidamente em cima de armadores mais lentos e fracos que ele ou abre espaço para seus companheiros arremessarem com passes seus. Aí eu inverto a pergunta: não é justamente isso que o tal "armador de verdade" faz? Ou seja: passa e chuta? A diferença é que Westbrook faz tudo isso ao mesmo tempo, só que muito mais rápido e nem sempre passando em primeiro lugar na sua tomada de decisão. Quer ver como ele distribui bem o jogo? O líder em assistência na temporada 2015/2016 da NBA? Rajon Rondo, com 11,7. O vice? Russell Westbrook, com 10,4. Por que diabos, então, alguns ainda teimam em "analisar" o basquete como se fosse o mesmo jogo da década de 90? O jogo mudou, e ficar repetindo conceitos (hoje) irreais é simplesmente fechar o olho para o novo jogo que estamos vendo por aí.

west2É meio básico, mas vale dizer o seguinte: ninguém que joga na NBA há 10 anos e tem médias de mais de 20 pontos e 7 assistências na carreira é BURRO. Nenhuma MULA consegue cravar quase 20 triplos-duplos em uma temporada, feito comparado ao que Magic Johnson fazia no Lakers da década de 80. Nenhum IMBECIL consegue ganhar praticamente sozinho um jogo do San Antonio Spurs no Texas em uma semifinal do Oeste. Qual é a dificuldade de entender e valorizar um cara assim? Qual o problema em admirar alguém que não joga o SEU ideal de basquete, mas que faz algo simples de forma ILÓGICA, DIFERENTE, FORA DOS PADRÕES? Nenhuma, né? Ou quase nenhuma pelo que ainda lemos por aqui.

west1Amo o San Antonio Spurs e tudo o que a franquia tem feito pelo basquete. São aulas, aulas e aulas todos os dias, meses, semanas, campeonatos. Daqui a 60 anos o que Gregg Popovich e seus comandados estão fazendo no esporte será estudado com profundidade. Mas o Spurs é a perfeição. O Spurs é o filho que termina de comer, tira a mesa, lava a louça e vai fazer a lição de casa sem tirar uma soneca depois de almoçar.

Westbrook é a imperfeição que a galera candinha prefere não admirar. Turma candinha que exalta a louça por lavar (passes não dados), mas esquece que quem foi ao mercado (correu a quadra toda), arrumou a mesa (driblou seu marcador) e cozinhou a refeição (infiltrou para anotar mais dois pontos) pra família toda foi o filhão hiperativo. E há beleza na imperfeição. Há beleza na imperfeição justamente porque o ser humano é imperfeito. Porque o ser humano é mais instintivo do que racional – como é Westbrook na quadra. A tal turma candinha AMA, também, reclamar da "tomada de decisões" de Russ, como se tomar decisões em uma quadra de basquete fosse assim binário (ou é isso, ou é aquilo). O ser humano toma decisões erradas. O que faz com que a gente coloque um atleta na categoria craque não é ver o cidadão acertar TODAS, mas sim ter uma média considerável de excelentes performances, algo que o camisa 0 tem de sobra (sua média é altíssima).

russ9Por fim, registro que terminou ontem a série entre Oklahoma City Thunder e San Antonio Spurs. Terminou porque em playoff da NBA o que vale é o verbo estar no pretérito imperfeito e não o verbo ser no presente do indicativo. O Thunder não É melhor que o Spurs. O Thunder ESTEVE melhor que o San Antonio Spurs e por isso fechou o duelo em 4-2.

No futuro (do presente) o Thunder enfrentará o Warriors na final do Oeste. Para o San Antonio Spurs a temporada 2015/2016 da NBA já é passado (do indicativo). Tão passado, ou antiquado, quanto analisar o basquete de Russell Westbrook com os clichês, estereótipos e cantilenas dos últimos 70 anos. Os "argumentos" são tão infantilóides que eu me pergunto se o que leio não são piada.

russ10Russell Westbrook tem 27 anos. Eu aprendi a admirá-lo faz uns bons três anos. Quem ainda não o fez aqui vai uma boa dica: ainda dá tempo.

Ainda dá tempo de abrir o coração e a mente para, no presente e no futuro, apreciar o genial jogo imperfeito do camisa 0, um dos melhores jogadores da atualidade.

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