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Bala na Cesta

Analisando os brasileiros na temporada 2015/2016 da NBA

Fábio Balassiano

23/04/2016 06h00

raul1Vocês tinham me pedido, então aqui vai um resumão do que foi a temporada 2015/2016 para os brasileiros. Vamos lá:

1) Raulzinho – A temporada do armador novato do Utah Jazz pode ser dividida em duas partes: antes e depois de Shelvin Mack. Antes da chegada do ex-jogador do Hawks Raulzinho era o titular da equipe e, embora não terminasse as partidas, ganhava a confiança do técnico Quin Snyder dia após dia com uma condução de jogo segura, com ótimos passes e com um pick and roll perfeito com o francês Rudy Gobert (pesava contra ele apenas uma natural falta de agressividade para atacar a cesta – algo compreensível para um calouro). Foi ao Jogo dos Calouros em Toronto, teve uma sequência bem boa entre a metade de janeiro e a metade de fevereiro, mas logo que Mack virou titular seu lugar foi, mesmo, se tornar suplente do armador que iniciava (e fechava) as pelejas.

raul3Foi com Mack, aliás, que o Utah, confortável ali na sétima posição, começou a ruir, a cair. Não dá pra fazer uma relação de causa e efeito nisso, mas os estilos de atletas são completamente diferentes (o brasileiro é mais passador; o norte-americano busca mais a cesta) e trocar o condutor da equipe (e seu respectivo estilo) no meio da temporada normalmente causa este tipo de coisa. Nada contra e faz parte do aprendizado de um calouro. O problema para Raulzinho é que na próxima temporada serão quatro de sua posição: Trey Burke, ele (Raulzinho), Mack (o time tem a opção de não renovar com ele) e o australiano Dante Exum, que perdeu todo campeonato devido a uma lesão no joelho. Se o final de 2015/2016 não foi animador, é impossível saber que espaço Raulzinho terá na rotação da franquia em 2016/2017.
Médias: 5,9 pontos, 2,1 assistências, 1,5 rebotes e 18,5 minutos (81 jogos)

felicio2) Cristiano Felício – Sabe aquele Emoji com o sorriso aberto que você envia para seus amigos de vez em quando? Então. É assim que a gente tem que reagir quando falar da temporada 2015/2016 de Cristiano Felício na NBA. O ex-jogador do Flamengo chegou ao Bulls sem ser escolhido no Draft e teria a concorrência de jogadores renomados como Joakim Noah, Pau Gasol, Nikola Mirotic e Taj Gibson no garrafão (além do também novato Bobby Portis). Ou seja: descolar minutos na rotação de Fred Hoiberg seria MUITO difícil. E como Felício se saiu? Muitíssimo bem. Aproveitando toda chance que surgia, o brasileiro foi ganhando a confiança da comissão técnica por ser um bom defensor, por ter braços longos para cobrir espaços e por conseguir executar muito bem as finalizações tanto em pick and roll quanto arremessando de média ou longa distância (algo que ele já estava evoluindo no Brasil no último ano aliás).

feliciioQuando as lesões dos homens de garrafão começaram a surgir (primeiro Noah, depois Gasol, Mirotic e também Gibson), o brasileiro foi aumentando seus minutos e mostrando que pode fazer parte da rotação da equipe sem grandes problemas. Teve dois jogos brilhantes na última semana da temporada regular (16 pontos contra Cleveland e Pelicans) e provavelmente garantiu presença no elenco do Bulls para a próxima temporada. A franquia tem a opção de renovar com ele automaticamente por US$ 870 mil, algo que sinceramente creio que aconteça (principalmente porque Cristiano tem 23 anos e o Chicago precisará se reciclar urgentemente).
Médias: 3,4 pontos, 3,3 rebotes, e 10,5 minutos (31 jogos)

NBA: New Orleans Pelicans at Golden State Warriors3) Leandrinho – O ala-armador do Golden State Warriors tem uma das funções mais difíceis de toda NBA. Ser reserva de Steph Curry e Klay Thompson não é lá uma tarefa simples, e é exatamente isso que ele faz na rotação do técnico Steve Kerr em Oakland. Sabendo que não é de ponto que o time precisa dele Leandrinho precisou adequar seu jogo para continuar na liga. E nisso ele foi brilhante. Passou a defender muito melhor, passou a arremessar muito bem do córner (mais de 40% de conversão), onde recebe os passes livres após as infiltrações dos companheiros, vez por outra ainda consegue armar o jogo junto de Shaun Livingston e tem papel fundamental de liderança no vestiário, onde é ouvido pelos mais jovens e muito querido por todos. Seu contrato termina ao final desta temporada e é muito provável que a franquia renova seus vencimentos por outro ano.
Médias: 6,4 pontos, 1,7 rebotes e 1,2 assistências e 15,9 minutos (68 jogos) 

varejao14) Anderson Varejão – A meta do capixaba era terminar a temporada em quadra, diferentemente do que ocorreu nos últimos anos, quando se machucou e viu o certame de terno (e não de uniforme). Isso ele está conseguindo com louvor. Com exceção de 2014 (65 jogos), ele não jogava tantas partidas (53) desde 2010. O problema no meio disso tudo é que ele saiu do Cleveland, time em que tinha uma legião imensa de fãs, para o Golden State Warriors. Por mais que tenha chances potencializadas de conquistar o tão sonhado anel de campeão em Oakland, pessoalmente para ele é óbvio que trocar de time durante um campeonato não é o ideal, e há uma perda imensa em relação a adaptação, entrosamento etc. .

varejao2Varejão faz parte do elenco de Steve Kerr (8,5 minutos/jogo no Warriors), mas está sendo muito pouco utilizado desde que Festus Ezeli voltou de lesão (exatamente como eu previa). Poderá ser mais útil em séries contra times que têm dois pivôs mais pesados (Spurs e Clippers por exemplo) e também em uma eventual final contra o Cavs. De todo modo, ele será agente-livre ao final da temporada e prestes a completar 34 anos. Vale a pena ficar de olho nisso desde já.
Médias: 2,6 pontos, 2,7 rebotes e 9,4 minutos (53 jogos)

huertas95) Marcelinho Huertas – Está aí um bom caso de persistência e perseverança no esporte. Huertas saiu do Barcelona, onde era ídolo, para um contrato não garantido no Lakers. Fez boa pré-temporada, mas logo caiu no (mau) gosto do técnico Byron Scott, que teimou em não colocá-lo mais depois de uma sequência inicial não muito boa do camisa 9.

Ali muita gente pensava que nem ao final da temporada 2015/2016 ele chegaria. Alguns mais apressados, como o técnico da seleção Rubén Magnano, pediram para que ele forçasse uma troca (isso, aliás, foi de uma deselegância incrível, hein…).

huertas110Nada disso ocorreu e Huertas voltou a ganhar espaço no final de fevereiro. Sem reclamar, sem peitar técnico, sem bater boca pública (a não ser uma vez no Twitter, algo que ele se arrependeu – ainda bem!). Só treinando, só esperando a oportunidade aparecer. E ela apareceu. Em quadra ele demonstrou que, se não é o melhor defensor do mundo, pode ser muito útil a qualquer franquia da NBA que precise de um armador bom de passe, bom de visão jogo e brilhante na leitura de quadra. Teve ótimas partidas, como a contra o Golden State (10 pontos e 9 assistências), momentos incríveis como a roubada contra Goran Dragic, passes geniais, e sai da temporada muito mais fortalecido do que quando entrou. Será agente livre para o próximo certame e tem boas chances de conseguir novo contrato. Desta vez com o mercado americano sabendo exatamente o que ele pode ou não trazer para seu time.
Médias: 4,5 pontos, 3,4 assistências, 1,7 rebotes e 16,4 minutos (53 jogos)

nene16) Nenê – O brasileiro mais experiente da NBA teve, como também tinha previsto, uma temporada difícil. Por opção de seu técnico (muito ruim) Randy Wittman, o Wizards adotou o estilo Warriors de jogar – com apenas um pivô fixo e quatro alas rodeando o gigante. O gigante escolhido foi o polonês Marcin Gortat, e Nenê teve que se contentar em ser reserva do europeu na maior parte do certame.

Suas médias nem são tão ruins assim, mas a verdade é que, aos 33 anos, é muito provável que ele tenha que procurar um novo lar para fechar a sua brilhante carreira na NBA como agente-livre que é a partir de agora. O Washington é um time agora em busca de um novo treinador e sabe lá que rumo tomará daqui pra frente. Nenê ainda pode ser muito útil em um time organizado e/ou que esteja já no meio de um processo de reconstrução (um Lakers da vida, por exemplo).
Médias: 9,2 pontos, 4,5 rebotes, 1,7 assistências e 19,2 minutos (57 jogos)

tiago7) Tiago Splitter – Não dá pra falar muito da temporada de Tiago Splitter no Atlanta na verdade. Desde o começo do campeonato o pivô jogou no sacrifício e teve, no final das contas, mesmo que ir para a mesa de cirurgia, perdendo assim o restante do certame. Seus números e seu basquete foram prejudicados pelas dores, e agora é esperar o que acontecerá depois que a sua recuperação for concluída.

Em 2016/2017 será seu último ano de contrato e é fundamental que ele consiga chegar já a pré-temporada em boas condições de mostrar o bom basquete que a gente sabe que ele ainda tem.
Médias: 5,6 pontos, 3,3 rebotes e 16,1 minutos (36 jogos)

lucas18) Lucas Bebê – Lucas Bebê teve alguns bons momentos (anotou 14 pontos e 4 rebotes contra o Golden State Warriors), ganhou bons minutos quando Jonas Valanciunas se machucou), mas a verdade é que seu futuro no Toronto Raptors é muito complicado. O lituano Valanciunas tem jogado cada vez melhor (no playoff é o melhor atleta do time inclusive), o reserva Bismack Biyombo mostra-se uma sólida opção como suplente (marca muito bem e tem um potencial físico incrível) e com isso as opções de Lucas Bebê ser efeito no Raptors ficam reduzidas. Ele foi bem na D-League (10 pontos e 6,9 rebotes em 25 minutos de média), mas sinceramente não sei como ele fará para conseguir ganhar tempo de quadra na rotação de Dwane Casey (e digo isso com tristeza, porque sei do seu sonho de brilhar na NBA).
Médias: 2,2 pontos, 1,6 rebotes e 7,8 minutos (29 jogos)

caboclo19) Bruno Caboclo – Mais uma temporada de aprendizado para o brasileiro do Toronto. Caboclo foi muito bem na D-League com 14,7 pontos, 6,5 rebotes e 34,3 minutos por jogo de média. O problema é que nem sempre exibições de gala na D-League se refletem em sucesso na NBA. Para piorar as coisas para ele, todos os alas do Toronto foram muito bem nesta temporada (menos DeMarre Carroll, que chegou e logo se machucou). Caboclo imaginava jogar um pouco mais de tempo na temporada 2015/2016. Não aconteceu. Quem sabe ele consiga mais em 2016/2017.

Deu pra ver movimentos interessantes dele na D-League, um crescimento físico notável, melhoria na técnica do arremesso, mais força para defender e uma vontade imensa de querer mostrar a todos no Toronto que ele pode, sim, fazer parte do elenco principal do Raptors. Por enquanto, porém, ele ainda é uma aposta – esperando que ela (aposta) seja concretizada.
Médias: 0,5 pontos e 7,2 minutos (6 jogos)

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