Fala, Leitor: O motivo da comoção com a aposentadoria de Kobe Bryant
*Por Igor Puga
"É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade".
É com essa frase consagrada no comercial da Folha de São Paulo de 1988 que se deve apreciar a diversidade de opiniões, análises, crônicas e artigos publicados nos últimos dias sobre a aposentadoria de Kobe Bryant. Corrigindo, sobre a carreira e sua relevância polêmica mais do que a aposentadoria em si.
Não falta informação, estatística e repertório para suportar a tese que mais convém ao autor. Minha decepção fica registrada pelo prisma populista e superficial da grande maioria do que pude ler – não faz sentido construir parágrafos para avaliar se o fulano foi semelhante ao Jordan, o segundo ou nem sequer um dos 10 melhores jogadores de bola ao cesto da história.
Convenhamos que é de um oportunismo rasteiro dissertar no caminho de teses tão pouco relevantes. O mundo está cansado de rankings e opiniões absolutas, ainda que a disponibilidade de dados, estatísticas e premiações sejam matéria prima farta para jornalistas, colunistas e blogueiros – aliás, pouco importa essa distinção.
Atenta contra minha natureza não celebrar e admirar algo que é notável sem necessidade dessa polêmica toda – a importância do Kobe não passa por nada disso de 3o maior pontuador da história ou 5 títulos de NBA, pra não seguir em frente aqui com uma lista infindável de marcas e chancelas.
É tão difícil de perceber o valor de um cara que jogou 20 anos no mesmo clube ? E esse clube era da cidade de Los Angeles, a metrópole do ego ? Que renovou o orgulho de ser atleta olímpico, respeitando os adversários com a classe e a humildade carentes em qualquer jogador americano da modalidade ? Frequentando vila olímpica e assistindo outras partidas como apenas mais um como qualquer outro? Um cara que apesar de um talento singular, sempre justificou seus feitos por ser o que mais treinava disciplinadamente, algo comprovado em relatos de colegas e treinadores ? Um cidadão que ainda sustentava uma condição de mais esportista que celebridade, algo óbvio mas infelizmente incomum nos dias atuais.
Sua aposentadoria representa o fim de uma era. Afinal, depois dele, quem foi protagonista sozinho de um título? A geração de Wade, Carmelo e LeBron não atingiu essa unanimidade e os Spurs e Warriors devem marcar uma nova era mais coletiva que já é realidade.
O basquete é um exercício de imaginação e sem Kobe desaparece o último ícone do espetáculo improvável porque a plasticidade que se espera dessa linha de jogadores habilidosos, capazes de arremessar de três, do perímetro, infiltrar com pontuação expressiva é um atributo que catapulta o esporte a condição de entretenimento. O que, sabemos, alavanca audiência e consequente faturamento – que é o ponto central do sucesso da NBA.
A morte desse estilo é o velório de toda uma geração enorme, vide a longevidade dessa carreira. É daí que emerge a comoção de milhões de pessoas que inconscientemente sentem que esse tempo não voltará tão cedo.
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