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Bala na Cesta

Brasileiro Julio Pacheco recebe prêmio de técnico do ano nos EUA

Fábio Balassiano

05/03/2016 01h07

julio30Não é muito comum termos técnicos brasileiros no exterior (em qualquer esporte). No basquete norte-americano então, menos ainda. Por isso o caso de Julio Pacheco, de 36 anos, é especial. Natural de Santa Catarina, ele foi assistente técnico da Universidade de Arkansas Tech, da Divisão II da NCAA, por sete anos e no começo desta temporada assumiu o comando da Southern Arkansas, tornando-se o primeiro treinador do país a chegar a um estágio tão avançado dentro do concorrido mercado da modalidade nos EUA.

E em seu primeiro ano como técnico principal Julio já alcança resultados expressivos. Após levar o time a uma surpreendente campanha de 18-8 (a faculdade estava cotada, antes da temporada, para ficar em décima-primeira na classificação, mas terminou em quarto lugar), ele foi eleito o melhor técnico do ano em sua conferência, a Great American Conference. Nesta sexta-feira, já no Torneio que pode levar a faculdade ao March Madness, a Southern Arkansas venceu Henderson State por 80-71, avançou à semifinal e enfrentará Arkansas Tech (ex-agremiação do brasileiro) neste sábado às 20h (dá pra ver por aqui). O blog conversou com ele.

julio12BALA NA CESTA: O que representa pra você ser eleito o técnico do ano em sua conferência?
JULIO PACHECO: É uma conquista muito especial. Passa um filme pela minha cabeça de todos os anos de muito trabalho, enfrentando desafios e dificuldades. O basquete está em minha vida desde os 11 anos de idade e sempre tive foco e disciplina para seguir nessa trilha. Quando assumi a equipe, tinha noção que teria muito trabalho pela frente pois o time sempre foi um dos piores da liga e da região. No ranking da temporada estávamos na penúltima colocação dentro de 12 equipes e finalizar a temporada regular empatado em terceiro é algo incrível. Estou muito honrado pela conquista do prêmio em tão curto período de tempo.

julio20BNC: Para nós, no Brasil, que acompanhamos pouco a NCAA NCAA feminina, consegue explicar como está seu time agora? Ele jogará o March Madness de sua divisão?
JULIO: Terminamos a temporada regular com 18 vitórias e apenas 8 derrotas. Nós competimos na Conferência Great American, que é afiliada da NCAA/Divisão II. Essa semana disputamos o torneio da conferência, que reúne as 8 melhores equipes da liga numa chave no sistema de mata-mata. Neste sábado teremos a semifinal. Domingo é a grande Final. A equipe vencedora desse torneio terá o passaporte carimbado para entrar no tão sonhado torneio nacional da NCAA, o March Madness, que reúne as 64 melhores equipes do país (na Divisão II).

julio2BNC: Consegue descrever como foi a sua trajetória até se tornar o primeiro técnico brasileiro a ser treinador principal em uma universidade americana?
JULIO: Basquete foi algo que me apaixonei desde a primeira vez que tive contato. Tudo começou lá em Itajaí (SC), onde praticava basquete no colégio Salesiano. Como atleta, nunca tive uma carreira brilhante, mas a oportunidade de trabalhar em comissões técnicas veio cedo quando me mudei para Florianópolis com 19 anos para estudar Educação Física na UFSC. Fiquei muitos anos por lá junto ao amigo e mentor Gilberto Vaz e com ele trabalhei em diversas categorias do basquete na capital Catarinense. Durante aquele período, através de um convênio da UFSC, tive a oportunidade de vir aos EUA fazer um intercâmbio na Kennesaw State University. Mal sabia falar inglês e muito menos sabia que daquela viagem tantas portas se abririam para mim. Após 6 meses retornei ao Brasil, concluí o curso de educação física e então fui trabalhar com um outro grande amigo e mentor, o professor Romu Farias, que está há muito anos trabalhando e desenvolvendo trabalho de base na região de Balneário Camboriú (SC). No meu último ano no Brasil trabalhei durante 6 meses no Colégio Salesiano em Itajaí, local onde tudo começou e foi onde recebi um convite de Dave Wilbers para integrar a comissão técnica da Arkansas Tech. Como assistente técnico na Tech por 7 anos conquistamos muitos títulos, e levamos a equipe ao torneio nacional por dois anos consecutivos. Foram 7 anos de muito esforço para alcançar meu emprego atual como técnico principal aqui na Southern Arkansas, que participa da mesma liga da Arkansas Tech.

julio35BNC: Você está feliz na faculdade, acaba de receber um prêmio importante, mas quais as aspirações para sua carreira? Pretende seguir no circuito universitário americano?
JULIO: Gosto muito do basquete universitário aqui nos EUA. Estou há muito tempo nesse ramo e me sinto confiante em executar esse trabalho pela experiência que tenho em conhecer bem a região e as atletas que estão por aqui. Estou muito feliz aqui na Southern Arkansas pela confiança e oportunidade que me deram. Temos uma estrutura muito boa aqui. Como todo técnico aqui nos EUA possuo o desejo de chegar às universidades que participam na divisão I da NCAA. Mas, além disso, tenho um sonho muito grande de um dia representar e comandar a nossa seleção brasileira em competições internacionais.

julio1BNC: Recebeu alguma mensagem que o emocionou depois de ganhar este prêmio?
JULIO: Foi uma emoção muito grande a conquista desse prêmio. Recebi mensagens de muitos técnicos, ex-atletas, amigos e familiares. Eu, a Christine (minha esposa) e nossas meninas (as filhas são Gillyan, de 11 anos, e Isabella, de 4) nos emocionamos muito conversando pelo FaceTime pela batalha e dificuldades que enfrentamos para chegar aqui. Tenho uma família maravilhosa e sou abençoado por poder contar com o apoio das minhas meninas em casa.

Sobre o blog

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