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Bala na Cesta

Sem acordo, dúvida sobre apresentação das atletas permanece no Feminino

Fábio Balassiano

29/12/2015 01h11

molina6Nos últimos dias você tem acompanhado aqui o embate imenso que se formou entre Confederação Brasileira e o Colegiado dos clubes da Liga de Basquete Feminino. Houve, até, uma explosiva entrevista de Ricardo Molina, presidente do Corinthians / Americana e um dos líderes do Colegiado, neste espaço em que ninguém foi poupado de críticas.

O que mais me impressiona nisso tudo é a que ponto chegou o Basquete Feminino Brasileiro. Nas cordas, quebrado, totalmente sem planejamento por parte da Confederação e com os clubes fechando dia sim, outro também, choca o fato de as duas partes não terem conseguido chegar a um debate sério, amplo, profundo e sustentável para a modalidade. Impressiona, também, o fato de a LBF ter três clubes fortíssimos em regiões tão diferentes do Brasil (interior de São Paulo, com o Americana, Maranhão, com o Sampaio Correa, e Recife, com o América), algo que o masculino pena há anos para conseguir (a tal descentralização do eixo Rio-São Paulo-Brasília), e isso tampouco ser levado em consideração como algo pra lá de positivo por quem deveria pensar na popularização do esporte (a CBB, claro).

negociaca1Em uma dessas coincidências da vida, estou fazendo um curso online da Universidade de Michigan (aqui o link) que fala sobre Técnicas de Negociação (há uma versão com legendas em português para quem se interessar inclusive). Pelo que aprendo por lá, CBB e Colegiado estão fazendo TUDO errado (se o objetivo é chegar a um entendimento, claro). O mediador, tão importante em situações de conflito, foi colocado há cerca de duas semanas pra escanteio (por opção das duas partes envolvidas, diga-se de passagem) e o que vemos agora são tiros, secos, de Confederação e clubes via imprensa. Creiam, isso é péssimo para a modalidade e meios de comunicação – e vocês sabem o que penso sobre a entidade máxima, né?

robertoVale, desde já, dizer que nessa "guerra" toda não há NENHUM santo (nenhum mesmo!). A CBB utiliza métodos de pressão e de "convencimento" nas atletas pouco ortodoxos (e sabemos muito bem o que a entidade máxima faz quando se sente pressionada), e mostra uma arrogância surreal ao não abrir as portas da entidade para um diálogo que lhe favoreceria, pois trataria do Feminino como há anos não faz. Os clubes, por sua vez, são os empregadores das meninas e também puxam a corda para seus lados. Repito: não há ninguém que esteja jogando de forma, digamos, totalmente lúdica nessa.

feminino3Aqui, aliás, cabe uma observação pertinente. Pelo lado do Colegiado, movimento pelo qual tenho simpatia porque minimamente briga contra um establishment bizarramente mal administrado e porque lança luz contra uma Confederação que literalmente ANDA para as meninas há mais de 20 anos, vale dizer apenas a seu (dele) favor que houve inúmeras tentativas de resolver a situação dialogando, mas a Confederação sequer abriu a porta para conversas iniciais razoáveis. Qual o singelo motivo para a CBB não querer minimamente trocar uma ideia com os seis (heróicos) clubes que ainda fazem basquete feminino neste país? Sinceramente isso para mim é um mistério.

nunes1Mas, bem, voltando, Não saberemos, no entanto, NUNCA se as jogadoras irão se apresentar porque discordam do movimento ou se estarão com a seleção no evento-teste de janeiro de 2016 por medo de represália do presidente Carlos Nunes, do diretor Vanderlei e da entidade na grande cereja do bolo do próximo ano (a Olimpíada, obviamente). No dia de hoje, aliás, o UOL publica matéria em que a entidade máxima afirma, de forma categórica, que "o único pedido oficial de dispensa recebido até o momento foi o da ala-pivô Damiris (Corinthians/Americana), que tem uma fratura por estresse na perna". Tampouco teremos noção de quão engajadas estão as meninas que pedirem dispensa da equipe nacional. Será que de fato elas estarão pedindo para não atuar em janeiro porque acreditam no Colegiado e em seus líderes, ou será que se ausentarão da seleção porque o Colegiado é o movimento dos empregadores que bancam seus (bons) salários? A verdade, portanto, estará longe de ser desvendada, antecipo a vocês.

janeiro1Por isso o Dia D para o basquete feminino brasileiro é mesmo o 6 de janeiro de 2016. Lá saberemos quem vai se apresentar para o evento-teste, quem terá pedido dispensa e como continuará a ser configurado o Colegiado dos times.

Infelizmente não houve acordo (muito por conta da CBB, que não aceita dialogar com os clubes; muito por causa dos clubes, que exigem coisas que sinceramente não é de sua alçada). Quando isso acontece, quando chegamos a esse ponto, perdem TODOS. Jogadoras, times, imprensa mesmo e, sobretudo, o combalido basquete feminino brasileiro. É uma lástima.

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