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Bala na Cesta

Com a saída de Zanon, o caos completo na seleção feminina

Fábio Balassiano

12/12/2015 02h09

zanon2Não há dia calmo no basquete brasileiro nos últimos tempos. A sexta-feira parecia que caminharia tranquila quando ali pelas 14h chegou o E-mail da Confederação Brasileira. Zanon não é mais o técnico da seleção feminina adulta. O (até certo ponto surpreendente) pedido de demissão foi feito pelo próprio técnico, que alegou problemas de saúde para não pode continuar no cargo (a nota completa está aqui). Há várias maneiras de analisar essa situação. Vamos lá:

zanon21) Em primeiro lugar, chama a atenção que em uma mensagem institucional se encontre isso aqui: "Conheci todas as dificuldades que as pessoas que lá trabalham têm na condução da modalidade e pude comprovar que todo o trabalho é limitado exclusivamente pela falta de recursos e não por falta de conhecimento ou comprometimento". Ou seja: a CBB expõe, sem o menor pudor, que tem problemas financeiros graves, é isso mesmo? Notem: não foi um jornalista que perguntou isso a Zanon, que puxou a informação do (agora ex-) técnico, mas sim o texto que está na própria nota oficial da entidade. Realmente bizarro.

zanon22) Longe de mim desconfiar de alguma coisa quando o assunto é Confederação Brasileira, mas a entidade tem um grave histórico de tratar o basquete nacional sem nenhuma transparência e credibilidade. Não sou apto a dizer que Zanon não tem problema de saúde (e até onde apurei de fato há uma questão na coluna dele gravíssima), mas é muita coincidência que o treinador, que fez a convocação para o evento-teste de janeiro de 2016 há uma semana, peça demissão no auge da confusão envolvendo o Colegiado dos 6 clubes da LBF e a entidade máxima da modalidade no país, como bem apontou a matéria do UOL. De todo modo, se ele está com um problema na coluna, que o trate e se recupere rapidamente.

zanon13) Não custa lembrar, obviamente, que a presença do técnico Zanon sempre foi motivo de desconforto por parte do tal Colegiado de clubes. Os times da LBF reclamavam com razão que o agora ex-treinador da seleção não acompanhava a modalidade como deveria, no que eles têm razão e assunto que também toquei aqui ontem (antes dos acontecimentos).

4) Vale lembrar que estamos a exatos 238 dias da estreia da seleção feminina nos Jogos Olímpicos de 2016. No atual momento a equipe não tem técnico, e para o evento-teste de janeiro do próximo ano (apresentação no dia 6 no Rio de Janeiro) as meninas ainda não garantiram que se apresentarão. Como diz o Romulo Mendonça, da ESPN, isso é o CAOS, o CAOS.

nunes14.1) Desde 2008 a seleção já teve cinco treinadores: Paulo Bassul, Luiz Claudio Tarallo, Carlos Colinas, Enio Vecchi e Zanon, treinador há mais tempo no cargo nos últimos tempos (desde março de 2013). A palavra 'continuidade', como se vê, não é apreciada nos corredores da Confederação Brasileira, né? Como a atenção para as meninas é quase ou igual a zero, Carlos Nunes e (de uns tempos pra cá) Vanderlei agem como se isso tudo fosse normal – e não é, não.

vanderlei5) Sendo bem pragmático, a saída de Zanon (vamos continuar partindo do pressuposto que a opção foi do técnico) abre uma oportunidade de ouro para que, enfim, clubes e Confederação Brasileira se alinhem. E explico. O objetivo do tal Colegiado era indicar o técnico da equipe nacional. A CBB não queria, porque Zanon estava lá. Agora não há mais a figura do treinador. Que as duas partes sentem em uma mesa com a intenção de RESOLVER a questão, e não de brigar mais. Quem sabe um meio do caminho, com um treinador indicado pela Confederação, e assistentes dos times da LBF, resolva isso.

nunes36) Pelo que apurei, porém, a Confederação não tem muita intenção de conversar com o tal Colegiado para aparar as arestas e caminhar com menos turbulência tanto no evento-teste quanto nas Olimpíadas. Três nomes já estão sendo analisados, esperando apenas o regresso do presidente Carlos Nunes, que estava viajando, para fechar a questão. Um deles, inclusive, era antigo adversário político de Nunes, mas de uns tempos pra cá tornou-se fiel escudeiro do atual presidente em clínicas e eventos da entidade. O mundo dá voltas, não é mesmo?

nunes27) Se continuar sem abrir mão de absolutamente nada, escolhendo o técnico que vier à cabeça (sem minimamente sentar para falar com os clubes), a Confederação Brasileira dará outro péssimo recado às agremiações, que têm se mostrado unidas e prontas para o embate até a última ponta. O que é mais inteligente, politicamente, neste momento? Que as duas partes cedam um pouco, ou que a entidade máxima ache que está tudo bem e que não deve seguir o que o outro lado lhe solicita?

grego1Estamos, como disse acima, vivendo o caos no basquete feminino brasileiro graças a uma gestão tenebrosa de Grego e Carlos Nunes, os dois últimos presidentes que parecem (ou são) exatamente a mesma coisa.

No dia 11 de dezembro de 2015 estamos sem técnico, com atletas ameaçando não jogar o evento-teste, com as divisões de base sucateadas, com clubes e CBB discutindo publicamente e sem a MENOR perspectiva de melhora. Tem tudo para dar errado nos Jogos Olímpicos, não é mesmo? Mas há algo pior: depois do Rio-2016 a tendência (com menos verba, menos atenção, menos tudo) é piorar – e muito. O fundo do poço basquete feminino brasileiro parece que ainda não foi cavado (infelizmente).

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