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Bala na Cesta

O fator Draymond Green no invicto Warriors

Fábio Balassiano

07/12/2015 01h32

curry1O Golden State Warriors venceu o Toronto no sábado (112-109) com 44 pontos de Steph Curry. Pegou o avião na mesma noite, desembarcou em Nova Iorque na madrugada de domingo e à noite bateu o Brooklyn Nets por 114-98 com 28 do magriça para chegar a surreais 22-0. Temos o melhor início da NBA cada vez mais consolidado, um jogador mudando o basquete (Curry), a mudança de uma franquia mediana para uma das mais modernas do planeta e a melhor campanha (72-10) na alça de mira para ser batida.

green1Temos, também, Draymond Green, um senhor jogador que passa quase despercebido tamanho é o (justo) foco que há em cima de Steph Curry e seus lances geniais neste último ano e meio que o camisa 30 tem feito de tudo um muito (neste domingo o camisa 23 beirou de novo o triplo-duplo com 22 pontos, 9 rebotes e 7 assistências). Com 2,01m e escolhido na posição 35 do Draft de 2012, pouca gente esperava que o "gordinho e baixinho" de Michigan State fosse vingar na NBA (os termos eram esses mesmos que apareciam em suas avaliações pré-Draft). Seus 13 minutos e 2,9 pontos de média em 2012/2013, sua temporada de estreia, apenas reforçaram essa impressão.

green4Tudo mudou quando Steve Kerr chegou ao Golden State na temporada passada. Reparando na capacidade única de seu atleta para espaçar a quadra e gerar pânico na defesa adversária (vale marcá-lo no perímetro e deixar o garrafão vazio, ou é preferível afastar um pouco e permitir que ele arremesse?), o técnico optou por colocar David Lee, um dos maiores salários do elenco, no banco pra fazer com que o camisa 23 tivesse total liberdade para seus drives em direção a cesta e que sua defesa no perímetro (e também fora dele) desse a tônica da equipe. E foi o que aconteceu. Com uma personalidade absurda (beira a loucura em alguns momentos), Green assumiu a responsabilidade de ser o líder emocional do elenco (algo fundamental em qualquer grupo vencedor), tornou-se peça fundamental da franquia de Oakland e o final dessa história a gente conhece bem (título do Warriors em 2015).

green2Seu prêmio foi um novo contrato de 5 anos e US$ 85 milhões. Muito para quem olha apenas as suas médias (12,9 pontos, 8,5 rebotes e 7,2 assistências), pouco para quem assiste às partidas do Golden State e vê o que acontece quando o rapaz está em quadra (seja na formação com Andrew Bogut ou Festus Ezeli no pivô, seja na matadora com Andre Iguodala e ele como "jogadores de garrafão"). Mesmo se desgastando quando marca pivôs e alas muito mais altos que ele (vídeo abaixo), Green é o líder em rebotes e assistências do time (a turma que olha apenas as posições vai surtar quando ler isso, afinal, para ela, quem deve passar é o "armador", não?), o responsável por puxar os contra-ataques (não é raro vê-lo pegando um rebote na defesa e quicando a bola até a bandeja do outro lado da quadra), por chamar algumas jogadas (sua habilidade como passador é incrível!), por ser uma fortíssima arma nas bolas de três pontos (seu aproveitamento é de ótimos 37,2% de fora) e por arremessar de todos os lugares da quadra como mostra o seu mapa de chutes.

pip2Sem querer comparar o nível dos dois, mas sim suas FUNÇÕES e IMPORTÂNCIAS, é exatamente isso que acontecia com o Chicago Bulls de Phil Jackson. O show ficava com Michael Jordan, mas uma rápida passada em vídeos antigos e/ou livros do Mestre Zen e é possível entender o papel de mola propulsora que Scottie Pippen tinha no Bulls seis vezes campeão (aliás, diminuir a sua participação, como recentemente fez Shaquille O'Neal, é uma das maiores bobagens que alguém que gosta da modalidade pode fazer). Foi com ele, aliás, que o termo point-forward (armador-ala) ficou mais latente na década de 90.

pip1Pip pontuava com facilidade (e de diferentes maneiras – com bolas de três, em jogadas de costas pra cesta, em infiltrações etc.), defendia os alas dos adversários, fazia as coberturas no garrafão e não raramente ele mesmo mudava a forma de defender do Chicago por conta própria. Foi assim que, em alguns momentos das finais da NBA, o camisa 33 foi em cima de Gary Payton (Seattle) e John Stockton (Utah), armadores que causavam estragos contra Ron Harper. Nem sempre se percebe isso no calor da partida, mas no final dela eram os tentáculos de Pippen que faziam do Chicago um time realmente mais perigoso do que um que teria "apenas" Michael Jordan como o fenômeno que era (o lado cerebral de Pip complementava a genialidade de MJ portanto).

west1Consultor da franquia Warriors desde 2011 (dizem até que tem um percentual dela), Jerry West, um dos grandes jogadores da história da NBA, disse recentemente que Draymond Green está entre os 10 melhores da liga na atualidade. Considero um exagero, mas entendo bem onde o craque eterno do Lakers quer chegar. A "beleza" do jogo de Green, que entretanto merece estar no próximo All-Star Game em minha opinião, não está exatamente nos números e nem em seu potencial físico. Está, justamente, nas coisas que um cara como ele proporciona aos seus companheiros e (principalmente) no transtorno que causa às defesas adversárias com um jogo agressivo que mistura arremessos longos, infiltrações, passes e "ganchinhos" perto da cesta. É um cara muito difícil de marcar justamente porque a marcação rival não tem noção do que ele pode fazer, né?

green7Steph Curry é o craque do Warriors. Klay Thompson, seu companheiro letal nas bolas de três. Sem Draymond Green, porém, o Golden State não seria tão mutante, tão camaleão, tão heterogêneo assim. E essa é a mágica do basquete. Não é sempre o time formado pelo maior número de craques que vence. É o time que tem os jogadores mais bem encaixados e com a maior chance de ser imprevisível (para desespero dos adversários).

Exatamente como é o Golden State Warriors.

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