Fala, Leitor: Josué Seixas e a emoção com a despedida de Kobe Bryant
Por Josué Seixas
Vinte anos. Meu coração bate agitado… Quase como se pudesse sair do meu peito. Relutei em aceitar a máxima da vida. Tudo encontra o seu devido fim e cá estou. Agora, abraço-o com a dignidade que mantive por todos esses anos. Visto o meu uniforme em silêncio. A singela despedida que posso oferecê-lo enquanto estamos sós. Honro-o com minhas lágrimas neste nosso momento derradeiro. Já o havia honrado tantas vezes com tudo o que pude… Lágrimas, suor, sangue. Entreguei o melhor de mim e recebi o melhor de si.
Descrevo a trajetória em passos curtos, a fim de adiar um pouco o momento inevitável. Os corredores são meus conhecidos, também: a fúria em uma derrota e o fervor de uma vitória… Comemorei e sofri neles, noite sim e noite não. Quantas milhares de histórias poderiam contar sobre as minhas passagens? Deus… Muitas. Piso, agora, o meus pé neste certame e, neles, percebo a ausência de força. "Precisa mesmo ser a última vez?", martela a minha mente. "Precisa", digo a ela quase em lamento. "Meu corpo já não aguenta mais", completo. Ergo os olhos, quase não acreditando em toda a recepção que recebo desses tantos torcedores… Pessoas que, querendo ou não, são essenciais para todo o caminho percorrido. Levanto os braços, recepcionando-os… É a minha única forma de dizer, quase como um sussurro, "obrigado". Talvez eu nunca tenha ficado tão nervoso e emocionado num jogo quanto agora… Como poderia? Um homem só conhece os seus limites até enfrentá-los.
Meu primeiro toque na bola é como reencontrar aquele melhor amigo que sempre esteve presente e… Puff, vai embora. Recebo os gritos alucinados conforme faço o rascunho de meus melhores tempos… Vinte anos culminam nesses quarenta e oito minutos. É quase tudo como eu imaginei aos meus seis anos de idade. Eu consegui… Eu consegui. Assim como os segundos finais partem, talvez por ironia ou merecimento, recebo a bola pela última vez. Vem, daquelas que pede um arremesso, da mão do novato. "O que me aguarda quando não houver esta emoção tão intensa?". Seguro-a com a firmeza que merece e preparo-me. Não para um arremesso… Mas, para o meu arremesso final. A mecânica me parece perfeita. Não existe hesitação… Nunca existiu. Deixo que a bola escape das minhas mãos com toda a suavidade que posso – uma despedida precisa ser digna, afinal. Deixo-a traçar o caminho pré estabelecido por mim, sozinha. Fecho os meus olhos… Ouço a torcida com o máximo de meu foco.
Um flash de memórias atravessa-me. Já ouvi vaias, palavras ofensivas… Hoje tudo se transformou em alegria. Meu coração, agora aquecido, abraça a novidade. Vinte anos… Meu nome é entoado pela plateia. Todas as memórias, os títulos, os arremessos vencedores… Mesmo em jogo, não consigo segurar a descida de uma singela lágrima dos meus olhos A sirene toca, para mim, uma última vez. Bato no peito, segurando o símbolo que ostentei com todo o meu orgulho por toda a minha vida. Ficará tudo guardado, em meu íntimo, para sempre. Não poderia pedir outra coisa à vida".
– Obrigado, Kobe, por tudo o que representou ao basquete mundial. O jogo não será o mesmo sem você.
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