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Bala na Cesta

O caldeirão que se transformou o basquete feminino

Fábio Balassiano

26/11/2015 12h40

molina3Foi só falar que estava tudo muito calmo no basquete feminino (aqui , aqui e aqui ) que o caldo entornou para o esporte das meninas esta semana. Como foi divulgado no UOL em matéria de Fábio Aleixo e em entrevista aqui do blog nesta quarta-feira, os clubes, em movimento liderado pelo presidente do Corinthians / Americana (Ricardo Molina – na foto) e pelo seu técnico (Antonio Carlos Vendramini), desejam, até o final dos Jogos Olímpicos de 2016, cuidar da parte técnica da seleção feminina.

Em português claro: ter uma comissão técnica decidida pelos 6 clubes da LBF e que esta (comissão) realize convocação e preparação visando a competição mais importante de 2016, deixando com a Confederação Brasileira apenas a parte de planejamento – amistosos, viagens, intercâmbio etc. . Vamos lá ao que penso:

zanon21) Em primeiro lugar, entendo a urgência dos clubes e o péssimo momento que vive o basquete feminino (momento dos últimos 20 anos, diga-se de passagem). Compreendo, de verdade, que a medida adotada pelos seis (heróicos) clubes da LBF tenha o objetivo de evitar um vexame nos Jogos Olímpicos de 2016. Quanto a isso, não há necessidade de explicação para mim, não. É, aliás, um objetivo lícito, justo e pra lá de compreensível. Alguns estão chamando de instinto de sobrevivência (o Luis Araujo, muito bem em seu texto aliás, disse isso), um último suspiro para se salvar ou um apelo desesperado para chamar atenção para um problema crônico – e todas as definições são corretas. Os últimos resultados internacionais do basquete feminino foram horrorosos, e ter mais um fiasco (desta vez em casa) colocaria a modalidade em uma lama praticamente irreversível.

nunes21.1) Se o tal colegiado (como o grupo dos seis clubes deseja ser chamado) queria diálogo com a Confederação Brasileira, aparentemente conseguiu. A CBB emitiu Nota ontem à noite informando que haverá um encontro "encontro com as lideranças do basquete feminino para debater a sua atual situação (…) no dia 3 de dezembro com dirigentes, técnicos, atletas e presidentes de federações que estão disputando a LBF 2015-2016, além de representantes do Ministério do Esporte, Comitê Olímpico do Brasil (COB), Associação de Atletas Profissionais de Basquetebol, Associação de Treinadores de Basquetebol, da LNB e o presidente da LBF". Se o objetivo era debater, também foi atingido.

zanon22) De todo modo, considero que o problema da modalidade (principalmente no lado das meninas – totalmente ignoradas pela CBB) é muito maior e demanda um planejamento muito mais profundo que simplesmente trocar a comissão técnica (seria a quinta vez em 5 anos, aliás). Que Zanon, o técnico, não acompanha a LBF (e as atletas) como deveria é um fato. Que Vanderlei, o Diretor Técnico, não liga muito para o desenvolvimento das meninas, outro. Que Carlos Nunes não tem a menor ideia do que fazer para massificar o esporte e reverter o gravíssimo quadro da modalidade está mais do que claro. Fica, portanto, a pergunta: por que, então, não mexer na base da pirâmide TODA, fazendo com que, ao invés de um remédio de curto prazo, as palavras 'planejamento', 'desenvolvimento' e 'massificação' façam parte do dia a dia da Confederação Brasileira? Seria muito melhor, mais sustentável e mais profundo.

cbb3) Para conseguir o que menciono acima só há uma alternativa (e isso fiz questão de colocar também para Molina na entrevista de ontem): os clubes pressionarem os presidentes de Federação (eleitos por eles) por mudanças nos Estados e estes (das Federações) pressionarem o presidente da CBB a trazer algo de inovador em relação a gestão na entidade máxima do basquete brasileiro. Qualquer coisa diferente disso é simplesmente trabalhar no curto prazo, na troca de pessoas de pessoas e não de filosofia, na manutenção de um status quo tenebroso e na perpetuação de um modelo de gestão que, sabemos bem, não tem dado certo no basquete. O ponto central, insisto nisso, não está sendo atacado – que é o da gestão, da administração da modalidade no país.

4) Fica, aqui, uma perguntinha boba para os envolvidos nisso tudo: e se a Confederação Brasileira não tiver NENHUM planejamento para as meninas em 2016? Eu, particularmente, duvido que ela tenha uma série de amistosos tão bacana quanto tem para a masculina (mais de 10 jogos de preparação). O colegiado irá aceitar isso? Se não aceitar, qual a proposta? Ser planejamento + parte técnica em 2016? Ou seja: o naipe feminino inteiro?

nbb15) O que a turma da Liga Nacional de Basquete achou dessa tacada? Não custa lembrar que a LNB tem ÓTIMAS (na medida do possível) relações com a CBB, sempre evitando problemas e/ou choques que minariam não só a relação das duas partes mas principalmente o nome da modalidade. A LBF acaba de começar uma parceria com a Liga Nacional e em menos de um mês criticou o técnico (justo), o diretor técnico (justo), o presidente da entidade (justo), e partiu para essa ideia do colegiado de forma bem diferente do que a Liga Nacional faz para resolver os problemas com a Confederação Brasileira. São situações diferentes, claro, mas a forma de "batalhar" por algo que considerava justo é bem diferente daquilo que vemos da LNB. Que tipo de resposta a LBF recebeu dos dirigentes da LNB/NBB?

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