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Bala na Cesta

Lakers, Kobe Bryant e o choque de realidade após 4 jogos na NBA

Fábio Balassiano

06/11/2015 01h02

kobe1A expectativa era grande antes do começo da temporada do Lakers na NBA. Como iria se portar a equipe que, mesmo sem contratar reforços de peso no mercado, trouxe três novos titulares para a provável despedida de Kobe Bryant?

Os otimistas pensavam em playoff até. Os pessimistas (realistas?) falavam que ir a pós-temporada seria quase impossível (eu estava neste grupo). Pelo bem, pelo mal, era conveniente esperar ao menos a nova configuração de um time que teria quatro dos cinco titulares diferentes em relação ao campeonato anterior.

lakers2Pois muito bem. Quatro jogos e quatro derrotas depois (a última na terça-feira para o Denver Nuggets em casa por surreais 120-109) já dá pra dizer: este time do Lakers pode, em um esforço descomunal de suas peças, até chegar a pós-temporada, mas o natural é que o último capítulo da vida de Kobe Bryant seja mesmo um fiasco (algo que a franquia deveria ter lutado fortemente para evitar, como disse meses atrás).

NBA: Preseason-Toronto Raptors at Los Angeles LakersKobe que, revoltado com seu próprio desempenho (15,8 pontos por jogo e 32,3% nos arremessos de quadra), abriu o verbo (contra si mesmo): "Neste momento, eu sou o 200º melhor jogador da liga. Eu simplesmente não consigo acertar um arremesso. Eu consigo os arremessos que quero. Só preciso voltar a converter. Uma hora você precisa apenas descobrir como colocar a bola no buraco", comentou no domingo após revés contra o Dallas com boa dose de razão. Seu jogo não é mais o mesmo (e nem dava para esperar atuações geniais de um ser de 37 anos e cujo elenco de apoio é bem fraco) e as instruções do corpo técnico parecem liberar todo e qualquer chute (o famoso hero-ball, que caía até cinco anos atrás, não faz mais sentido e continua sendo praticado).

scott1Coletivamente, na quadra o que vemos é um time ainda em formação, mas muito mal armado pelo técnico Byron Scott. Ele tem história na franquia como atleta, o que é ótimo, mas na prática não trouxe nada de excelente quando tornou-se treinador e tem muita dificuldade para fazer a equipe conseguir executar bem qualquer coisa – atacar, defender, transição, espaçar a quadra etc. . Até na seleção (e idenfificação) do melhor arremesso o Lakers vai mal.

scottA franquia é a que mais tenta bolas de três pontos (32 oportunidades/jogo), mas o aproveitamento de 28% é o quinto pior de toda NBA. Qual o motivo de tentar tanto de fora se as peças que lá estão não são talhadas para isso? Todos sabem que a liga, hoje, tem no arremesso externo uma de duas principais armas. É preciso, no entanto, saber COMO, COM QUEM e QUANDO usar este tipo de arma. O campeão Golden State é exemplo positivo disso. No Warriors quatro dos cinco titulares sabem arremessar (Curry, Thompson, Barnes e Green). E arremessam bem, com conversão altíssima (mais de 40%). Há o outro lado da moeda também. O San Antonio Spurs, por ter Tony Parker e Kawhi Leonard no quinteto inicial (não são especialistas nos chutes longos), não arrisca tanto de longe (18,2, com 33% de aproveitamento), mas se mantém competitivo porque sabe disso e não se arrisca a fazer algo que não deve. O Memphis, outra força do Oeste, tenta 19,6 de fora e acerta 24,5%. Identificar as qualidades do elenco e através delas escolher a melhor estratégia é uma arte que Byron Scott e os Lakers pelo visto não aprenderam nas férias.

clark2Individualmente o cenário não é animador (e nem poderia ser diferente, já que um depende do outro). Jordan Clarkson (foto à direita) parece cada vez mais promissor na alcunnha da segunda armação (ala-armador), mas seu companheiro de perímetro D'Angelo Russell ainda está tímido (natural para um calouro!) e vê a sombra de Jahili Okafor (escolhido uma posição depois dele no Draft pelo Sixers) crescendo dia após dia. No pivô, Roy Hibbert continua protegendo bem o aro, mas seu ataque segue inexistente. O banco de reservas, um dos antigos problemas angelinos, até que melhorou com Huertas, Lou Williams e Nick Young no perímetro, mas perto da cesta há um deserto difícil de se ajustar.

randle1As únicas boa notícias mesmo atendem pelos nomes de Julius Randle (foto à esquerda) e Jordan Clarkson. Escolhido ano passado no Draft e lesionado no primeiro jogo da temporada 2014/2015, Randle se preparou bem nas férias e atinge as boas médias de 14 pontos e 8,3 rebotes em 28 minutos. Se não é um jogador já formado (e nem dava para esperar isso dele, que, na prática, é um novato e que vai completar 21 anos no final do mês), ele dá um sopro de esperança de os Lakers terem um bom ala-pivô por muito tempo em suas fileiras. Aos 23 anos, Clarskon, por sua vez, parece cada vez mais habituado a função de segundo armador e contribui com muitos pontos (18,3 de média, 30 na terça-feira contra o Nuggets) e não tantas assistências (2,1/jogo).

randle2O problema é que Randle e Clarskon são a exceção e não a regra em um time que, sem confiança, perdeu para o Minnesota na estreia e depois perdeu as três seguintes por 10+ pontos. Vale se atentar ao fato de em TODOS os jogos os Lakers terem levado mais de 100 pontos, com o absurdo de ter sofrido 132 (132!!!!) do Sacramento na sexta-feira passada e 120 (120!!!!) do Denver na terça-feira. Os números de 116,8 pontos sofridos e 48,6% dos arremessos convertidos pelos rivais colocam os angelinos como a pior defesa do certame até o momento (de longe). Com o perdão da piada: Mike D'Antoni saiu da franquia, mas seus "ensinamentos" sobre marcação continuam bem vivos por lá. Defendendo assim não há como um time da NBA se segurar, né?

kobe3Para piorar os Lakers agora têm pela frente cinco jogos fora de casa (hoje contra o Nets, Knicks, Heat, Magic e Dallas) e o que já é ruim pode piorar e culminar, até, com o pior desempenho da história da franquia (21-61 em 2014/2015) graças as patacoadas do gerente-geral Mitch Kupchak (fraquíssimo) e do descontrole emocional do elenco neste início de certame.

Se antes do campeonato a expectativa era de uma força-tarefa para levar Kobe Bryant ao último mata-mata de sua vida, agora o que se espera é que o sofrimento de um dos melhores jogadores de todos os tempos não demore tanto assim para acabar. O camisa 24 pode ter todos os defeitos do mundo, mas é, certamente, um dos 15 melhores da história. Ter um final tão melancólico assim é algo que um grande ícone do esporte definitivamente não merecia.

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