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Bala na Cesta

Zanon, Iziane, CBB, renovação e a falta de coerência na seleção feminina

Fábio Balassiano

20/06/2015 01h55

zanon5No final de março de 2013 Luiz Augusto Zanon foi anunciado como técnico da seleção brasileira feminina. Credenciado pelo ótimo trabalho que tinha feito em Americana, o treinador chegava para arejar as ideias de uma modalidade que precisa de novos métodos e sobretudo de nomes diferentes. Um mês depois e tudo o que ele havia prometido foi cumprido na primeira lista: renovação total de um elenco que estava lotado de meninas com mais de 30 anos (e sem nenhum resultado compatível com tamanho prestígio).

zanon2Respirei aliviado, conversei com Zanon e confiei que a renovação aconteceria até as Olimpíadas. Relevei o péssimo Mundial de 2014 (décima colocação) também por crer que "cortar na carne" era necessário para um grupo que praticamente estreava na competição que terminou contra a França. Entendia que passar por problemas era fundamental para chegar forte ao objetivo final, ou seja, ter um time construído e experimentado para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

zanon2Só que não se faz renovação simplesmente ao trocar nomes mais velhos por mais novos. É preciso mais – principalmente de rodagem internacional com amistosos de bom nível, clínicas, intercâmbio e estudo por parte dos técnicos. Esta "perna" da renovação foi esquecida. Erro básico, erro banal.

O tempo passou, nada mudou no basquete feminino (mais aqui e aqui) e aí veio a convocação de 2015 visando o Pré-Olímpico (que até agora vale vaga para o Rio-2016 já que a FIBA segue cozinhando a presença direta do Brasil em fogo bem morno) e o Pan-Americano de Toronto. Já comecei a não entender nada desde o anúncio da lista (mais aqui). Ali o cenário ficou tenebroso.

zanon1A renovação parou no meio do caminho. Veteranas pouco festejadas voltaram. Jogadoras não mais do que medianas seguirão sendo testadas (para quê?). Jovens perderam espaço. Amistosos de ótimo nível não foram feitos. Clínicas não foram pensadas. A renovação perdia força na própria convocação de um técnico que parece ter sido vencido pela ideia de voltar a fazer o mais fácil, o menos trabalhoso, o menos arriscado.

zanon1Sem Érika, Damiris, Clarissa e Nádia (todas na WNBA), o técnico recorreu ao mais fácil no garrafão. Bancou Fabiana Caetano, de 24 anos, mas não sustentou o seu discurso nas demais vagas. Trouxe Karina Jacob (29 anos), Gilmara (reserva de Americana aos 34 anos) e Kelly, jogadora de muito talento mas que está com 35 anos e longe das competições internacionais de alto nível há tempos. Na ala, Jaqueline e Cacá foram mantidas mesmo com LBF's abaixo da crítica. Não foram vistos novos nomes. Talvez pelo motivo óbvio que o treinador, preocupado com o desempenho do seu time, o São José, no NBB, não tenha visto muitos jogos da LBF. Com isso, a dificuldade em ficar a par das meninas que surgiram recentemente fica latente. A média de idade, que fora de menos de 23 anos nas competições anteriores, já saltou para 25,2.

izi1Mas ficaria pior (e nem estou falando das ridículas preparações da Sub-16 e Sub-19 ). Como vira e mexe faz quando deseja esconder algo, a CBB incluiu na metade de uma matéria sobre os assistentes de Zanon que Iziane estava de volta a seleção após três anos (mais aqui no site da CBB e na matéria do UOL). O problema da volta da ala não está na parte técnica.

Mesmo veterana (33 anos) ela ainda sobra em termos técnicos no atual estágio em que se encontra a modalidade. Sem ser craque, brilha contra meninas cujos fundamentos estão longe de estar lapidados. De todas as alas que estão no elenco é, disparada, a que tem mais qualidade para performar em âmbito internacional portanto. A questão central que fica é: por que o retorno dela agora? Se a ideia era renovar o elenco, faz sentido mesmo trazê-la de volta. Para mim, deste canto, é completamente incompreensível. É tanto paradoxo junto que não consigo pescar qual é a linha de raciocínio que Zanon e a Confederação Brasileira estão tentando seguir na seleção feminina. Se é que há alguma linha de raciocínio, claro.

nunes1O técnico, porém, não é o principal e único culpado. Comandada pelo presidente Carlos Nunes e pelo diretor Vanderlei (ambos na foto em uma sala de reunião na sede da entidade com uma camisa do Lakers jogada ao chão…), a CBB, que deveria planejar, organizar, fomentar, avaliar, analisar e cobrar desempenho e resultados, nada diz ou faz. Cala-se de maneira angustiante, anestesiante, desesperadora até. Afogada em uma crise financeira absurda (na próxima semana analiso o balanço financeiro) e sem nenhuma ideia do que fazer para salvar o basquete feminino, a entidade máxima tornou Zanon refém de sua própria falta de gestão.

vanderleiA emenda de Zanon e da CBB, portanto, ficou pior do que o soneto. Infelizmente. Faltou organização, planejamento, mas sobretudo coerência para terminar algo que ele havia começado em 2013. Que não esperemos resultados brilhantes e nem uma geração pronta para performar de maneira satisfatória a partir dos Jogos Olímpicos de 2016. A não ser que um milagre imenso apareça nada disso acontecerá. O basquete feminino brasileiro segue esperando por uma salvação.

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