Topo

Bala na Cesta

Memphis Grizzlies e o basquete da 'contra-cultura'

Fábio Balassiano

11/05/2015 02h15

Memphis GrizzliesNos últimos anos as tais estatísticas avançadas dominaram a NBA. Não há time que não use as analytics para destrinchar os adversários e/ou construir a sua identidade. A tendência tem sido: muitos arremessos de três, poucas oportunidades de vermos dois gigantes em quadra (o "quatro abertos" nunca esteve tão em moda) e muita aceleração de movimentos. O melhor exemplo disso na temporada é o Golden State Warriors, dono da melhor campanha, do melhor ataque e do MVP do certame (Steph Curry).

gasol2Nesta semifinal de conferência o rival do Warriors é justamente o seu oposto, a sua antítese. Do outro lado da quadra está o Memphis, que representa a "contra-cultura" em relação ao basquete que é praticado por 90% das equipes da melhor liga de basquete do planeta. Com seu jogo físico, pesado, sua defesa pra lá de imponente, a equipe do técnico David Joerger lembra muito os times dos anos 80, 90, que usavam e abusavam da intensidade na defesa para sedimentar suas vitórias.

Não deixa de ser emblemático que os Grizzlies estejam ganhando de 2-1 do Golden State jogando quase sempre com dois homens pesados no garrafão (Marc Gasol e Zach Randolph tem dominado a tábua como quase sempre fazem), com um ala que tem ganho as manchetes não pelas bolas de três, mas sim pela fúria defensiva. Tony Allen, que grita para quem quiser ouvir que faz parte da melhor defesa desta liga (vídeo abaixo), é um trator na marcação. Beira o absurdo o que ele faz.

allen2E já que falamos em números, vamos a eles. O Memphis tem um dos piores ataques da NBA (98 pontos por jogo, com 48% de conversão nos arremessos), é um dos que menos pontua em contra-ataques (apenas 11,7), o segundo que menos arremessa de longe (15 por jogo) e um índice de 14 lances-livres por noite (baixo número). O que faz deste time especial é justamente a sua furiosa defesa, algo que muito se fala, mas que tem não tem sido a grande chave de títulos conquistados recentemente.

memphis2A marcação do Memphis é um verdadeiro estouro, algo raríssimo de se ver no basquete atual. Passando do meio da quadra o adversário já é incomodado, "alvejado" pela defesa e vê as suas opções de pontuar diminuir de maneira radical. São apenas 94,9 pontos cedidos nesta temporada, com 15,2 erros forçados e 13,8 pontos de contra-ataque do rival. O recado, e é algo que venho falando desde o começo da temporada sobre o time, é muito claro: "Você pode me vencer, eu realmente não sei atacar muito bem, mas pra fazer mais ponto que eu você terá que batalhar loucamente por cada cesta".

zboPor isso o que temos visto nesta pós-temporada principalmente é lindo – lindo por ser tão diferente e, digamos, "fora de moda". O Portland não conseguia andar com Tony Allen destruindo Damian Lillard. O Golden State até que tenta, mas Allen, Mike Conley (um dos mais subestimados jogadores desta liga) e Marc Gasol não deixam Steph Curry (23/58 e 11 desperdícios de bola) e Draymond Green (9/30 e 11 desperdícios) respirar em momento algum. Os 2-1 de virada empolgam, mas sabemos que os Warriors têm um dos melhores ataques e defesas da NBA e não deixarão assim tão solto nesta noite no jogo 4 (22h30, com Sportv).

timeIndependente do que aconteça (e eu acho realmente difícil que este time do Warriors perca três partidas seguidas), o Memphis merece ser aplaudido. Não pelas vitórias que têm conseguido nos playoffs. Não pelos triunfos das últimas temporadas. Mas por insistir em algo que muita gente já havia largado de mão – jogar com dois pivôs pesados, em acreditar que uma ótima defesa pode te levar longe mesmo com um ataque travado e sem tentar loucamente as bolas de três. Ser fiel a um estilo, por menos plástico que ele seja, e ir com ele até o final é realmente maravilhoso.

Abaixo vídeo em que analiso o duelo de logo mais!

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.