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Bala na Cesta

O incrível Blake Griffin e a saga do Clippers na NBA

Fábio Balassiano

06/05/2015 03h00

ballmer1Não há, neste começo de playoff da NBA, roteiro melhor que o do Los Angeles Clippers (o antigo primo pobre da cidade). Com dono novo, o animadíssimo Steve Ballmer (o ex-chefão da Microsoft é uma figuraça – na foto à direita), a franquia entrou na pós-temporada na terceira posição do Oeste. O presente? O San Antonio logo de cara. No duelo vencido em sete incríveis jogos, o craque Chris Paul saiu como herói, mas caiu lesionado após matar a bola final e enterrar alguns de seus fantasmas. O que fazer no primeiro jogo da semifinal de conferência contra o Houston, no Texas, menos de 48 horas depois do triunfo épico contra o Spurs? O jovem, e errático, Austin Rivers de titular. E dá pra ganhar? Deu.

blake1E deu graças a Blake Griffin, autor de 26 pontos, 14 rebotes e 13 assistências na imponente vitória contra os Rockets fora de casa por 117-101 (ele se tornou o primeiro atleta desde Jason Kidd, em 2002, a ter triplos-duplos seguidos em playoff). Sem CP3, o camisa 32 decidiu assumir as rédeas do time (como há muito tempo decidiu fazer aliás) e em alguns momentos chegou até a conduzir a bola e a chamar as jogadas ofensivas, lembrando em alguns momentos o que Phil Jackson convencionou chamar de point-forward (na melhor definição do que Scottie Pippen fazia no Chicago Bulls dos anos 90). Não creio que alguém imaginasse que isso seria possível duas temporadas atrás, mas o jogo de Griffin mudou muito de tempos pra cá. E pra melhor. É só dar uma olhadinha no gráfico de arremessos dele nesta temporada para verificar uma grande mudança (notem que a quantidade de arremessos perto da cesta é muito parecida com a mais afastada do aro).

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blake2Mas a transformação não veio apenas nos arremessos. No lugar do acrobata de suas primeiras temporadas na NBA apareceu um cara com arremesso pra lá de confiável (e que arrisca 59% de seus chutes em tiros de média ou longa distância – não mais quase tudo em enterradas), um ótimo passador (ele tem 8,1 assistências de média neste playoff, mais até que as 7,9 de Chris Paul, o armador natural da equipe) e um líder que às vezes se enrola como no final do jogo 2 contra o Spurs, quando foi desnecessariamente quicar uma bola entre as pernas e deu a chance de empate aos texanos ao perder a poasse de bola, mas que não deixa de tentar.

blake4Seus números da temporada regular, que já eram ótimos (21,6 pontos, 7,6 rebotes e 5,3 assistências), saltaram absurdamente neste começo de playoff (24,4 pontos, 13,3 rebotes e as tais 8,1 assistências), numa prova não só de maturidade, mas principalmente da fome de vitória que ele tem apresentado. Sua melhora ofensiva não é acaso. É resultado de um rigoroso treinamento de 300 arremessos de média ou longa distância POR DIA nos últimos três anos ao lado do técnico Bob Thate (quase 250 mil no período de acordo com cálculos do atleta) de modo a melhorar uma técnica pouco lapidada e a dar confiança para resolver jogos não só com ferozes enterradas (algo raríssimo em playoff). Não resta dúvida alguma: o cara tornou-se uma ameaça ofensiva completa devido ao seu físico, ao seu arremesso, a sua evolução ne leitura de jogo (nos picks ele está cada vez mais inteligente para achar o espaço livre) e a sua condição de passar com sabedoria.

Hoje o Clippers volta a enfrentar o Rockets no Texas (22h30 de Brasília), e nova vitória coloca a franquia de Los Angeles muito próxima de sua primeira final de conferência de sua história. Ainda não se sabe se Chris Paul jogará (provavelmente Doc Rivers, o técnico, segurará o seu armador para uma série que promete ser longa), mas independente de CP3, que é excelente, é bom manter os olhos bem abertos com o que vem fazendo Blake Griffin na temporada em particular e no playoff em especial.

blake6"Se não gosto de dar uma enterrada ou duas? Gosto. Faço pelas crianças. Mas não há nada que me dê mais satisfação que acertar um arremesso". A frase é dele mesmo em artigo pro Players Tribune meses atrás. Não há a menor dúvida. O menino saltador deu lugar a um ala-pivô ainda explosivo, mas cada vez mais técnico e regular.

O Clippers confia nele pra seguir escrevendo o roteiro mais incrível do playoff da NBA até o momento.

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