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Bala na Cesta

O excelente trabalho de Jason Kidd no Milwaukee Bucks

Fábio Balassiano

14/04/2015 13h20

Quando fechou a sua excepcional carreira de jogador Jason Kidd tirou breves férias, colocou na cabeça que queria ser técnico, impressionou a todos no Brooklyn Nets nas entrevistas e foi efetivado como treinador na temporada passada. Seu começo, com o episódio do refrigerante (vídeo abaixo), mostrou bem como seria seu ano de estreia.

kidd2Não é que ele foi mal. Os 44-38 foram razoáveis, a segunda rodada do playoff até que não foi um mico, mas aquele time fora montado para ir mais longe (Deron Williams, Joe Johnson, Paul Pierce, Kevin Garnett e Brook Lopez). A direção do time, no entanto, decidiu mudar os rumos ao mandá-lo embora, contratando alguém mais experiente (Lionel Hollins) para domar tantas feras.

Foi um momento ruim, e de muita dúvida, para Kidd. Como aquele armador genial (um dos melhores da nossa geração) reagiria ao primeiro baque como técnico? A resposta não demoraria a vir. Com donos novos (e isso sempre implica em mudanças na franquia como um todo), o Milwaukee Bucks decidiu apostar no cara para dar uma nova roupagem a equipe depois da pior temporada da história da equipe (15-67). Seria uma segunda chance para ele (mais aqui) e uma nova chance de transformar uma equipe (como ele fez com o Nets, lembram?).

kidd3O começo foi animador (leia mais aqui do que escrevi em novembro), mas sinceramente não sei se alguém imaginava que, com as saídas de Brandon Knight (o cestinha da equipe, cujo contrato vencia ao final da temporada, foi trocado por Michael Carter-Williams logo depois do All-Star Game), Kendall Marshall (joelho), Larry Sanders (com problemas psicológicos ele pediu para rescindir o contrato) e Jabari Parker (selecionado na segunda posição do Draft, ele rompeu os ligamentos do joelho e só retorna em 2015/2016), os Bucks teriam fôlego para continuar na briga pelos playoffs. Meses se passaram, e a franquia tem 41-40 com a vitória de ontem sobre os Sixers (107-97) e a sexta colocação garantida no Leste (enfrentará Toronto ou Chicago no mata-mata, voltando ao playoff com campanha positiva pela 1ª vez desde 2010.

kidd10As mudanças são claras na quadra e fora dela também, com os Bucks têm tentado dar uma repaginada na franquia como um todo. Quem segue o Milwaukee nas redes sociais vê o esforço deles para se tornar mais popular, mais visto, mais notado (inclusive com inúmeras promoções aos torcedores). Os resultados, porém, ainda são tímidos neste sentido (e isso implica em pouco acréscimo às receitas, principal preocupação dos novos proprietários, obviamente). A média de público ainda é uma das piores da NBA (os 14,8 mil por noite é a 27º pior da liga), a cidade é conhecida por ser uma das menos atrativas do país e os jogadores não são muito conhecidos ou carismáticos. Só que para quem gosta de basquete ver esse time de Jason Kidd jogar tem sido uma maravilha.

kidd8A receita de sucesso de Kidd não mudou muito desde o começo do certame (independente das peças que tinha à disposição). Como o ataque ainda não possui um grande matador de bolas, a orientação do técnico é seguir a escola Spurs de basquete – rodar a bola ao máximo e encontrar o companheiro livre. Os Bucks têm apenas 97,7 pontos por noite (uma das piores médias da liga), mas o oitavo melhor aproveitamento nos arremessos de quadra (46%), a sétima melhor marca em assistências (23,4/jogo) e o sexto melhor índice de assistência por arremesso convertido (0,62). Na defesa os resultados são ainda melhores: os rivais têm o quarto menor índice de conversão de arremessos (43%), o nono menor percentual de conversão de fora (34%) e 15,1 pontos feitos pela equipe em contra-ataques (mérito da marcação, obviamente).

kidd4Já seria muito, mas o mérito de Jason Kidd não tem sido apenas na quadra. Fora dela ele tem sido fantástico ao mostrar aos atletas quão bons eles podem vir a ser na NBA. Conversando com Giannis Antetokounmpo (ambos na foto à direita) no All-Star Game deu para perceber não só o respeito, mas principalmente a admiração ao treinador. E aí talvez seja a principal diferença do Nets para o Bucks. No Brooklyn a maioria dos caras tinha Kidd como um ex-rival. No Milwaukee, 90% dos moleques do elenco cresceram tendo aquele armador cerebral como ídolo, como referência. Pode ser que isso explique a facilidade que o treinador tem tido ao comandar este grupo.

kidd7E a evolução é nítida deste que é um dos times mais jovens da NBA. Depois do All-Star Game Khris Middleton (foto à esquerda) assumiu a posição de arremessador da equipe e tem 17 pontos por jogo. Antetokounmpo, cada vez mais pronto e "raivoso" (no bom sentido), faz jogadas plásticas como esta noite após noite e 14,5 pontos e 7,1 rebotes pós-ASG. O turco Ersan Ilyasova, um dos mais experientes do elenco, tem ido muito bem nos arremessos (14,3 pontos) e tem tido liberdade para chutar de fora (42% de aproveitamento). Michael Carter-Williams se adaptou bem ao estilo e já tem 13,7 pontos e 5,7 assistências. E OJ Mayo, também rodado, aceitou comandar os reservas.

MCWPor isso não é precipitado dizer que com Jason Kidd no comando a turma de Milwaukee tem tudo para voltar a viver dias de glória em pouquíssimo tempo, indo além de "apenas" chegar aos playoffs. Antetokounmpo é um desses fenômenos físicos que aos poucos se desenvolve na NBA. Carter-Williams terá um professor à altura para se tornar um bom armador. Jabari Parker já dava sinais de evolução e voltará bem para o próximo campeonato. Ersan Ilyasova e Khris Middleton tornaram-se peças confiáveis.

Os Bucks já têm um time bom no presente e potencialmente excelente no futuro (as principais peças têm contrato até o final de 2015/2016 – no mínimo). Basta que atletas e comissão técnica continuem melhorando. O futuro é brilhante.

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