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Bala na Cesta

Campeão em Bulls e Celtics, lendário Robert Parish relembra carreira na NBA

Fábio Balassiano

02/04/2015 03h56

Robert Parish drivesQuatro vezes campeão da NBA, nove vezes All-Star, selecionado para o time dos 50 melhores dos 50 primeiros anos da liga, Hall da Fama e com o seu número 00 aposentado pelo Boston Celtics. É um currículo e tanto este de Robert Parish.

Pivô lendário da década de 80 com o Boston, ele estava na festa do All-Star Game em Nova Iorque com um sorriso no rosto cativante. Sentei para conversar com ele sobre sua brilhante carreira, que ainda teve um título com o Chicago Bulls em sua temporada de despedida (1996-1997) e uma série de feitos interessantes. Veja o papo com esta lenda do basquete!

parish4BNC: Dá tristeza ver o seu Boston Celtics na atual fase em que se encontra? O time está em reconstrução, você jogou com Danny Aingle, mas imagino que não seja fácil acompanhar…
ROBERT PARISH: De fato não é algo maravilhoso de se ver. Franquias grandes como Boston, Lakers, Sixers e Knicks têm um pouco mais de dificuldade de sair de seus buracos pois fica todo mundo em cima. A pressão é maior. Há times que ficam quatro, cinco anos para se remodelarem e ninguém nota. Com os Celtics é diferente, e todos lá em Boston sabem disso. Inclusive o Ainge. Ele tem uma série de escolhas de Draft nos próximos anos e precisará ser muito firme para colocar a franquia nos playoffs de forma rápida. A torcida entende isso, mas até um certo ponto. Creio que a próxima temporada será uma das mais importantes da história do time, pois haverá muitos atletas novos e ao mesmo tempo uma necessidade grande de retomar o caminho das vitórias. Não será fácil, mas confio no Ainge e também no técnico Brad Stevens.

parish9BNC: Você fez parte de uma década de 80 repleta de pivôs históricos como Karrem Abdul-Jabbar, Bill Laimbeer, Hakeem Olajuwon, Moses Malone, entre outros. Ter sido All-Star por nove temporadas jogando contra essa gente toda dia após dia é algo possível de descrever?
PARISH: Outro dia me perguntaram a mesma coisa e disse que ter jogado nessa época foi um grande privilégio para mim. Eu cresci vendo Wilt Chamberlain jogar e imaginava quão difícil seria marcá-lo, enfrentá-lo. Aí de uma hora para outra eu estava na NBA sendo selecionado pelo Golden State Warriors. O segundo jogo da minha carreira foi contra o Bill Walton, que depois acabaria sendo meu companheiro em Boston e um dos melhores pivôs de todos os tempos. Ali eu tomei um choque que deveria me preparar não para ser apenas um bom marcador e um cara forte, duro. Eu sabia que precisaria entrar pesado em todas as noites para não ser literalmente esmagado pelos pivôs do outro lado. Houve um jogo que o Kareem enterrou três vezes seguidas em cima de mim. No jogo seguinte eu sabia que teria que responder à altura. Fiz os primeiros 12 pontos do Boston. E assim você ia se estabelecendo, ia se tornando mais conhecido na NBA como um todo e respeitado pelos seus técnicos e companheiros. Não era fácil e meu corpo sente os impactos daqueles duros duelos até hoje.

Kevin McHale and Robert ParishBNC: Tem um caso engraçado de sua carreira. Em 1980 o Boston Celtics estava alucinado atrás de um pivô para tentar segurar o Karrem nos Lakers e foi atrás de você. O time trocou o Pick de número 1 no Draft daquele ano com o Golden State, que tinha a terceira escolha, para tê-lo na equipe. O Warriors, com a primeira escolha, selecionou Joe Barry, que não vingou muito. Os Celtics ficaram com você e selecionaram ninguém menos que Kevin McHale (foto à esquerda) com a terceira escolha do Golden State. E logo no primeiro ano com a equipe você foi campeão…
PARISH: (Me cortando) Com aquele time ali também! Larry Bird, Cecric Maxwell, Tiny Archibald, Chris Ford. O McHale mal entrava no ano de calouro dele. Já era muito bom, mas tinha muita fera junta naquela equipe. Para mim foi um sonho jogar em uma franquia tão forte como o Boston, principalmente porque o Golden State estava mal demais e nem ao playoff conseguia ir, e chegar ao sonhado título da NBA logo de cara. Fui efetivo (19 pontos e 9,5 rebotes de média), reconhecido pelo Larry Bird como peça importante do esquema, algo importante em Boston, e posso te dizer que a sensação do fim do jogo 6 naquela final contra o Houston, quando nos sagramos campeões, é algo que eu não me esqueço até hoje.

kareemBNC: Você é um cara que jogou muita bola e nunca quis ser técnico. Houve algum motivo em especial para não ter seguido nem a carreira de consultor de pivôs, algo que o Kareem Abdul-Jabbar e o Hakeem Olajuwon fizeram?
PARISH: Não, não e não. Eu já tinha perdido todos os meus cabelos quando era jogador (Risos)…

BNC: Muita gente tem falado sobre a ausência de pivôs e de jogadas de pivôs nos jogos da atualidade. Você sente falta de um gigante ali no meio do garrafão que domine as partidas com ganchos, essas coisas?
PARISH: O jogo mudou muito, e é realmente estranho não ver jogadores atuando de costas para a cesta como eu fui, como Karrem Abdul-Jabbar foi, como tantos outros foram. Hoje em dia há pivôs, mas que atuam muito mais de frente para o aro do que de costas. Não sei se é melhor ou é pior, mas a verdade é que faz a forma como o basquete é jogado ser totalmente diferente. Atualmente são cinco caras que chutam de fora, arremessam de longe. Se na minha época eu pensasse em arremessar de fora do garrafão eu seria sacado do jogo e o Larry Bird não me olharia com uma cara muito feliz. Hoje a gente vê pivôs arremessando de três com naturalidade e incentivo de seus técnicos. Acho uma evolução, mas ao mesmo tempo eu gostaria de ver mais aqueles duelos de um-contra-um perto da cesta. Faz falta.

parish3BNC: Ser tão reverenciado em uma festa como é o All-Star por jovens que certamente viram pouco, ou não viram, você jogar é um motivo de orgulho, né?
PARISH: Mais do que um orgulho é uma honra, um prazer e algo que me faz refletir bastante sobre o nosso papel no esporte. Sou um cara que viveu em praticamente duas gerações, a dos anos 80 e dos anos 90, e hoje consigo ver que muito mais gente do que eu poderia imaginar me conhece. Faz parte da globalização que o David Stern começou na NBA na década de 80 e que se refletiu nos anos 90 em diante. Certamente você não estaria aqui me entrevistando e me conhecendo caso a nossa liga não tivesse se tornado tão conhecido mundialmente.

parish6BNC: Você jogou em duas franquias muito famosas (Celtics e Bulls). Poderia falar de períodos tão distintos da sua carreira?
PARISH: Foram épocas diferentes da minha vida. No Boston eu era titular, tinha uma presença efetiva em quadra e fazia parte de todas as ações ofensivas e defensivas. Não era a peça principal do ataque, mas a bola passava por mim e tinha condição de finalizar mesmo com Larry Bird e Kevin McHale ao meu lado. E você deve imaginar que arremessar com eles dois do meu lado não era fácil (risos). Era um tempo bacana, onde nossa rivalidade principalmente contra o Lakers ficou muito conhecida. No Chicago foi uma situação de fim de carreira. Fui levado pelo Phil Jackson para ajudar o Luc Longley no pivô e para dar um pouco de experiência ao banco de reservas. Por menor que tenha sido a minha participação, foi maravilhoso terminar a minha carreira com mais um anel de campeão. Era como se alguém estivesse me dizendo: "Você fez tudo certo em sua carreira e merece um final assim tão bonito".

jordanBNC: Em Boston e Chicago você conviveu com duas personalidades muito distintas, mas que foram dois gênios do basquete. Larry Bird no Celtics e Michael Jordan no Bulls. É possível compará-los?
PARISH: Apenas na vontade de vencer e na forma como treinavam intensamente. De resto, da maneira de se vestir a maneira como lideravam a equipe, era diferente, bem diferente. Bird era mais tranquilo, mas não era bacana tirá-lo do sério. Michael Jordan era ligado na tomada o tempo inteiro. Ao mesmo tempo que era lindo vê-lo focado nos treinamentos, não era, digamos, saudável deixar de fazer as coisas como ele realmente queria. Foi uma honra ter jogado ao lado dos dois. Levarei para sempre os momentos, principalmente os fora da quadra, quando a convivência era muito boa com os dois.

birdBNC: Pra fechar, uma pergunta muito "fácil": Michael Jordan ou Larry Bird?
PARISH: (Risos) Vou sair pela tangente nessa. Assim como houve apenas um Michael Jordan, só houve um Larry Bird. Cada um a seu modo foi fantástico. Cada um, a sua maneira, modificou o jogo. O melhor você mesmo pode escolher. Eu não me arrisco…

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