Liga Nacional lança segunda divisão sem evolução
No dia 16 de janeiro deste ano escrevi o seguinte a respeito da segunda divisão do NBB (a Liga Ouro): "A segunda divisão era um sonho antigo de quase todo mundo. Jogar uma pá de cal simplesmente porque à primeira vista o produto não é o ideal não me parece o mais inteligente. Na modalidade, sabemos disso, nem tudo acontece com a rapidez que gostaríamos, com a rapidez que desejamos".
Abordei o tema porque a primeira edição do torneio surgia apenas com quatro times e muita gente reclamava. Fui contra (a grita). Achei que, por ser uma iniciativa inovadora, e difícil, valia a pena colocar de pé um campeonato mesmo com tão poucos clubes assim. Rio Claro jogou, foi campeão e está no NBB desta temporada.
Eu e todos que acompanham o basquete nacional também esperávamos uma evolução, algo diferente, fatos novos para a edição desta temporada. Saiu o release da divulgação da segunda edição da Liga Ouro e o que se viu foi mais do mesmo – apenas quatro times (CEUB, do DF, Campo Mourão, do PR, Sport-PE e Caxias, do RS), duração curtíssima (nem três meses completos) e pouquíssimos jogos. As partidas serão jogadas entre 27 de fevereiro e, no máximo, começo de maio. Nem 75 dias, portanto.
Ou seja: em relação ao campeonato passado não houve absolutamente nada de animador, de diferente, de ganho. Sei bem que esta é uma situação conjuntural e que a turma da Liga Nacional acaba "pagando" por um legado não muito agradável recebido da Confederação Brasileira em relação ao estado deplorável em que o basquete se encontrava. Mas isso decididamente não é desculpa. Depois do pontapé inicial o que se esperava era um mínimo de evolução.
Do jeito que o campeonato está formatado uma série de questões podem ser levantadas. Será que não valeria a pena encher a competição com times Sub-22 de clubes do NBB (Flamengo, Pinheiros, Paulistano, Brasília etc.)? Isso acontece na Espanha e é ótimo para dar espaço aos jovens (texto sobre isso aqui recentemente). Como fazer para que os clubes que têm as tais revelações sem muito espaço emprestem seus atletas para a segunda divisão sabendo que este torneio terá menos de três meses de duração? Será que realmente não havia mais time disposto a jogar a competição, principalmente com a chegada da NBA por estas bandas (a notícia já estava circulando e a Liga Nacional sabia disso no mínimo há três meses)? Por que os clubes que estão na Liga de Desenvolvimento e não no NBB (Náutico, Anápolis, Taubaté, Blumenau etc.) não jogam a segunda divisão?
Estou muito à vontade para criticar a Liga Nacional neste ponto pois nos últimos dias só tenho feito elogios (aqui e aqui), e neste espaço é assim que funciona (elogia-se quando é para elogiar e critica-se quando é para criticar). Acho que este fato cabe uma reflexão grande. A Segunda Divisão é a porta de entrada de quem quer fazer basquete profissional no Brasil. É a partir dela que os clubes que pensam em chegar no NBB devem começar.
O problema é que, hoje, a tal porta de entrada não é muito atrativa. Como uma equipe vai conseguir patrocinador para um certame com quatro clubes, três meses, baixíssima exposição e chance pequena de chegar à elite (apenas o campeão sobe de divisão)? Na real eu não vejo como – e se fosse investidor não colocaria dinheiro em uma agremiação neste torneio, não.
O foco, o objetivo, a motivação do campeonato de acesso deveria, em minha modesta opinião, ser menos de exclusividade e mais de estar acessível. A LNB deveria "abrir" mais o torneio, incentivar a entrada de equipes novas, mostrar que, sim, vale MUITO a pena investir na modalidade. Não me parece tão difícil assim criar um conceito
No final das contas, porém, a segunda divisão acaba por funcionar muito menos como um convite a equipes que querem participar do NBB e mais como um obstáculo para quem ainda quer fazer basquete profissional no país.
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