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Bala na Cesta

Entrevista: Guerrinha pronto para conquistar Sul-Americana com Bauru

Fábio Balassiano

25/11/2014 02h16

guerra4A fase final da Liga Sul-Americana começa nesta terça-feira em Bauru e traz um dos protagonistas do lado de fora da quadra. Francano de formação (como atleta e como pessoa), Jorge Guerra, o Guerrinha, pode conduzir os bauruenses a maior conquista de sua história a partir de hoje. Algo que não é novidade para o técnico de 55 anos e que conquistou o bicampeonato paulista (2013 e 2014) recentemente.

Responsável pela (até então) maior glória do basquete local com o Nacional de 2002, Guerrinha sabe que vencer o Malvin e o ganhador de Boca Juniors ou Mogi não será fácil, mas com um dos melhores elencos do país ele se mostra preparado para este e demais desafios de uma temporada que tem tudo para ser histórica para Bauru. Confira a entrevista exclusiva com ele. Falamos sobre filosofia de jogo, excesso de bolas de três pontos, seu trabalho desde o começo do NBB com a equipe e muito mais.

guerraBALA NA CESTA: Como chega Bauru para essa fase final da Liga Sul-Americana? Como foi a preparação de seu time para este jogo contra o Malvin e para uma eventual final?
GUERRINHA: A equipe chega bem individualmente na parte técnica e física apesar da sequência de jogos. Disputamos três competições (Paulista, NBB e Liga Sul-Americana) quase que simultaneamente (usando três bolas diferentes). Não é o ideal ainda como equipe-coletivo. Temos que trabalhar muito o lado coletivo e conceitos do jogo. Não tivemos pré-temporada juntos e nem espaço para treinamentos. Alex, Larry e Rafael Hettsheimeir estavam no Mundial e o Murilo e o Day tiveram contusões. O Murilo ainda não jogou essa temporada. O Ricardo e o Jefferson, por necessidades da equipe, tiveram que jogar muito tempo no início da temporada em função do Paulista. Estamos construindo a equipe sem treinos, como gostaríamos, e com os jogos, sendo a maioria decisivos. Mas os jogadores são muito profissionais, talentosos e comprometidos com os objetivos da equipe e compensam com muita dedicação todas as dificuldades.

guerra3BNC: O investimento do time nesta temporada aponta que vencer competições grandes, como a Sul-Americana, fazia parte do planejamento, mas a gente sabe que na quadra nem sempre as coisas acontecem rápido. Esperava que os resultados fossem aparecer assim, de cara?
GUERRINHA: Temos uma ótima estrutura fora da quadra e as oportunidades para podermos desenvolver e conseguir os resultados buscado por todos nós, patrocinadores, torcida e pela equipe. Depende somente de nós. Sabemos que do outro lado a cada temporada as equipes melhoram e se reforçam e essa competitividade aumenta a dificuldade da conquista, mas estamos também melhorando e queremos muito marcar uma época como equipe de alta performance. Queremos mostrar que uma equipe tem que investir não só em jogadores bons, mas no todo, e hoje o Paschoalotto Bauru Basketball está trabalhando muito em tudo. Temos contratos de dois, três e até 4 anos, investimentos na formação de jogadores para futuramente repor os atuais, na comissão técnica e todo staff administrativo.

guerranacionalBNC: Você fez parte, como técnico, da conquista mais grandiosa da história do basquete de Bauru que foi o Nacional (ainda da CBB) no começo deste século (em 2002). Como se sente a exatos dois jogos de voltar a escrever uma página importante do basquete local como protagonista da maior conquista do time da cidade?
GUERRINHA: Sou muito grato à todos que participaram diretamente do nascimento e desenvolvimento da nova fase do Basketball de Bauru. Fui o gestor do início da equipe. Era roupeiro, assessor de imprensa, diretor e até o técnico, mas desde o início nunca ficamos comparando orçamentos e nem elencos das equipes que estavam na nossa frente para nos justificar. Trabalhamos muito para chegar onde estamos hoje e estabelecemos um crescimento como empresa e num ciclo de cinco anos estamos tendo o retorno. Hoje posso falar tranquilamente e respeitando as demais equipes, mas Bauru se desenvolveu profissionalmente dentro e fora da quadra. Por isso temos uma diferencial hoje no esporte brasileiro, temos credibilidade. Isso ninguém dá, isso é algo que se desenvolve com muito trabalho e capacidade. Nosso maior patrocinador, a Paschoalotto Serviços Financeiros, entrou e está no projeto pelo marketing gerado e pelos valores pessoais das pessoas envolvidas na equipe.

guerra2BNC: Nesta temporada você recebeu Alex, Day, Hettsheimeir e Jefferson, que se juntaram a Fischer, Gui Deodato, Murilo e Larry Taylor. Como foi o processo de entrosamento da equipe de um modo mais amplo, e como foi para colocar o Larry, um dos ídolos da torcida, no banco de reservas?
GUERRINHA: É algo muito simples. Foi possível pelo profissionalismo e caráter desses jogadores. Eles se respeitam entre si e respeitam a comissão técnica e administrativa. Sabem muito bem a importância de mais jogadores de nível para atingirmos nossos objetivos e assim ter uma equipe vencedora. São pessoas que têm o DNA de vencedores e sabem o que precisam para desenvolver um trabalho duro e recompensador. Aprendi na minha vida dentro do basquete que os principais jogadores de uma equipe são aqueles que terminam o jogo e não os que começam. Hoje temos nove jogadores que podem iniciar e terminar o jogo dependendo do dia deles, as necessidades táticas do jogo e características para cada situação. O Larry é um exemplo como jogador e principalmente como ser humano. Muito fácil trabalhar com uma pessoa assim que tem respeito e pensa na equipe. Quando contratamos o Alex e Day, liguei para ele (estava de férias nos EUA) para falar sobre a equipe que estávamos montando para essa temporada. Ele me disse: "Agora temos uma equipe que irá marcar época em nossas vidas e para toda a cidade". Ele não pensa no "eu" e sim na equipe toda.

brasilBNC: Uma das grandes críticas que as pessoas fazem a seu time é que Bauru chuta muito de três pontos. No NBB, em três jogos, sua equipe arremessa igualmente de dois e de três pontos nas partidas (30 vezes). Arremessos de três fazem parte do basquete, mas há um excesso? Este tipo de crítica lhe incomoda?
GUERRINHA: Sou formado como jogador na escola francana da década de 70 e 80. Você sabe o que significa isso em questão de jogo? Quando fomos campeões Pan-Americanos em Indianápolis em 1987 me deu uma crise existencial logo após a euforia da conquista (risos). Tudo que havia aprendido de valores de equipe como defesa, trabalhar o coletivo, a posse de bola nos 30 segundo (na época eram 30), tudo foi por água abaixo naquele momento. A filosofia da Seleção do Pan era deixar o outro time fazer de 2 pontos que responderíamos com 3 pontos. E convertíamos. Aprendi que toda religião te leva a Deus. Não existe o certo ou errado e sim o que você tem em mãos para trabalhar. O Ary, com muita sabedoria, não podia desprezar um potencial que tinham Oscar e Marcel. Sendo assim, aquela geração foi vencedora do jeito dela. Sei da importância do jogo coletivo e interno. Isso está na minha formação como jogador e filosofia de jogo, mas temos jogadores hoje na equipe diferenciados tecnicamente e com potencial de fazer 40 pontos num quarto, como no jogo de Brasília na fase anterior da Liga Sul-Americana (sendo 10 bolas de 3 pontos). Não podemos tirar essa arma da nossa equipe, mas temos que achar um equilíbrio e saber fazer a leitura e ter estrutura tática e conceitos para variar o jogo quando for necessário. Treinamos, falamos, editamos as situações táticas, tiramos o jogador no jogo, mas o tempero (a arma) está na mão do jogador e no momento do jogo. Essa leitura só melhoramos com treinamentos e jogos. Quanto a se incomodar com a crítica, respeito as opiniões, mas aprendi desde os 15 anos, quando iniciei no adulto de Franca, que fazemos sempre nosso máximo e as vezes isso não corresponde às expectativas dos outros. Isso é normal, o importante é nós termos nossa consciência tranquila do que realizamos.

finalBNC: Você é o único técnico que está no mesmo time desde que o NBB começou há sete temporadas. Quando você olha pra trás e vê no que o projeto de Bauru se transformou o que você sente? E olhando para frente, o que dá para projetar?
GUERRINHA: Tenho muito orgulho das conquistas nesses anos, principalmente fora da quadra. Credibilidade, patrocinador forte, equipe competitiva, um público fiel e contagiante. Um verdadeiro filme me passa na cabeça do início. Exatamente fevereiro de 2007, a nossa primeira partida. Olhávamos para frente e tínhamos tantos sonhos a serem realizados. Sou uma pessoa muito intensa em tudo que faço, sou dedicado, comprometido e muito competitivo. Hoje estou na minha décima sétima temporada como técnico, 12 delas em Bauru, sendo 7 na nova fase de Bauru. São mais de 800 jogos como técnico pela cidade de Bauru. No NBB até o jogo de Sorocaba (20/11) foram 217 jogos e 126 vitórias, trabalhando com uma equipe em formação. Vamos continuar com a mesma humildade, trabalho, dedicação e ter o mesmo desejo de realizar o melhor nos treinos antes do jogo contra o Malvin e quem sabe na nossa primeira conquista internacional na quinta. Fazemos o nosso melhor e Deus sabe o que merecemos!

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