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Bala na Cesta

As palavras mágicas e o mundo de faz de conta da CBB

Fábio Balassiano

07/10/2014 14h00

magicNo domingo eu coloquei aqui trechos da entrevista de Magic Paula ao Lance! . Foram palavras equilibradas, recheadas de verdades e com algumas ponderações importantes para o futuro do basquete feminino do Brasil, que, qualquer um sabe, vive um momento pra lá de preocupante. É uma das melhores jogadoras de todos os tempos, uma pessoa com senso crítico acima da média e com vivência tanto na quadra quanto em gestão (algo raríssimo no país).

"Vamos sofrer nos próximos anos. A Érika é a melhor pivô do mundo, Clarissa é uma promessa, Damiris promessa… E daqui a um ano e meio, vamos falar as mesmas coisas. Para mudar as coisas externas, não podemos ter tanta passividade. Não dá para pensar em um campeonato desse nível e só reclamar quando chega lá. Nossa geração também teve participações ruins, com 11º, 12º lugares, mas brigávamos, reclamávamos, por treinador, treinamentos, convocação, lutávamos por mudanças. Não podemos ficar nessa passividade de achar que não vai dar certo por algum motivo ou outro. É uma reflexão que deve ser feita", disse Paula.

vanderleiBem, aí passou um dia e eu li a entrevista que o companheiro Fábio Aleixo, aqui do UOL, fez com Vanderlei Mazzuchini (na foto à esquerda com Zanon, técnico da seleção). O basquete feminino feminino está na vala, está na maior draga de todos os tempos, e o que o Diretor da Confederação Brasileira diz sobre a continuidade do trabalho?

"Vai haver continuidade no trabalho do Zanon. Este é o desejo da CBB. Nas próximas semanas, teremos uma reunião com ele e com toda a comissão técnica para discutir as questões pendentes. Quando o contratamos, só não assinamos até 2016 porque trabalhamos com convênios do Ministério do Esporte e o atual vence agora em 2014. Então, estamos fechando todo o planejamento até a Olimpíada", afirmou Vanderlei ao Aleixo.

vanderleie2Peraí, deixa eu ver se eu entendi. O Diretor da CBB afirma que só está esperando os convênios do Ministério saírem (aqueles que relatei aqui há séculos, e que até agora não foram concretizados) para 'FECHAR' o planejamento ate a Olimpíada de 2016? Será que Vanderlei e a entidade máxima têm noção que os Jogos Olímpicos começarão em dois anos?

Desculpe dizer isso à turma da CBB, mas vamos lá: 1) Estamos em período eleitoral, e acho muito complicado que os tais convênios (aqueles de R$ 58 milhões) sejam assinados agora; e 2) Não se fecha um planejamento para 2016 em 2014. Fecha-se, corretamente, um planejamento com quatro, cinco anos de antecedência.

O que me choca, realmente, não é nem essa falta de planejamento da CBB, não. O que me deixa realmente maluco é notar que a entidade máxima não tem a menor ideia de como conseguir grana para colocar em prática o seu planejamento (se é que ele, o planejamento, existe, claro) se não for contando com a grana dos convênios Ministério do Esporte.

vanderlei1Projetos via Lei de Incentivo? Necas. Convênios com prefeituras? Nada. Parcerias com Confederações internacionais (Austrália, França, Espanha, Turquia, Rússia)? Nops.

Então é assim que vivemos. Não me choca, realmente, a falta de planejamento da CBB. Longe disso. Sabemos que existe isso por lá desde que o mundo é mundo. O problema está, na verdade, nesse mundo de faz de conta que a Confederação Brasileira tenta passar para quem ainda gosta de basquete. Será que, na real, Vanderlei tem noção do que as palavras que ele profere acabam por refletir para a "comunidade do basquete"?

Sendo bem objetivo, uma perguntinha final: se os tais convênios com o Ministério do Esporte não forem chancelados (e essa possibilidade existe), como ficará a seleção feminina? Não existe Plano B, pelo visto. Não há, na verdade, nenhuma via alternativa para tentar conviver com algo que ninguém sabe ao certo se virá (a grana do ME).

Paula falou, eu escrevo, todos que amam basquete e têm um mínimo de senso crítico sabem que o basquete feminino brasileira está na lama. A CBB pode até saber. Mas não faz nada de concreto para mudar o panorama. E isso é bem triste.

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