Jogos Escolares expõem ainda mais as falhas de gestão da CBB
Terminou neste fim de semana, em Londrina, no Paraná, a etapa para meninos e meninas de 12 a 14 anos dos Jogos Escolares da Juventude. Seria leviano de minha parte fazer qualquer análise sobre a competição organizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mas uma notícia que está no site da competição me chamou a atenção. O link está aqui, e o título já diz muita coisa: "CBV divulga seleção brasileira escolar para treinamento no CT de Saquarema".
Lendo a matéria, fica ainda mais claro. Vinícius Gomes, o Alegrete, técnico da seleção brasileira infantil, e João Luís Klein, o Juca, assistente técnico da seleção brasileira feminina juvenil, foram enviados pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para acompanhar a competição. Eles acompanharam as partidas na semana passada e pinçaram 40 atletas (20 meninos e 20 meninas), que passarão uma semana treinando no Centro de Treinamento da modalidade em Saquarema (RJ).
Se olharmos a lista, é possível ver jovens de RJ, SP e MG, mas também de locais que normalmente não possuem times disputando a Superliga (Sergipe, Rio Grande do Norte, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul etc.), o que prova que há MUITO talento espalhado pelo país mesmo em localidades que não têm times jogando a principal competição da modalidade no país e cujo investimento esportivo, sabemos, não é muito alto. O garimpo, por parte da CBV, parece ser bem feito – e desde muito cedo. Imagine a felicidade de um menino de 12, 13 anos que terá a oportunidade de treinar por uma semana no CT de Saquarema onde Jaqueline e Bruninho (foto à esquerda) pisam anualmente antes de vestir a camisa da seleção em competições internacionais (competições que quase sempre terminam com alguma medalha para o país).
Aí eu fiquei pensando: e o basquete, o que fez nesta competição em termos práticos, objetivos? A resposta é: quase nada. Josuel (foto à direita), ex-jogador da seleção brasileira, esteve por lá, é verdade, mas não como olheiro/observador da Confederação Brasileira. O ex-pivô foi como Embaixador dos Jogos, convidado pela organização do evento, o que é bem diferente. Apenas Victor Mansure, responsável pela Escola Nacional de Treinadores (ENTB), apareceu em Londrina com o intuito de observar jovens atletas, recrutar promessas do basquete ou incentivar os recém-iniciados na modalidade, mas sem nenhuma perspectiva, sem nenhum plano CONCRETO no horizonte para estes meninos e meninas (nenhum técnico efetivo da base foi lá, portanto). Mansure viu, mas não há nada planejado para os jovens observados. Ia falar, além do já exposto, que o vôlei possui um Centro de Treinamento, que o basquete está longe de ter a sua pedra fundamental (ou pedra essencial…) neste sentido, mas é melhor ficar quieto.
A CBV está longe de ser um primor de gestão (e as denúncias recentes feitas pelo Lúcio de Castro, da ESPN, mostram isso), mas este tipo de "garimpo" não é novidade e deve se repetir na etapa de João Pessoa dos Jogos Escolares da Juventude para jovens de 15 a 17 anos em novembro. Com isso, e cada vez mais, o vôlei se posiciona à frente do basquete. E acho que ninguém discute isso, certo?
As comparações entre dois esportes olímpicos são quase sempre reprováveis, mas neste caso cabem e fazem todo sentido. São duas modalidades que "disputam" o interesse de meninos e meninas altos/altas desde muito cedo e que precisam cada vez mais de material humano para renovar seus quadros. Quanto mais gente estiver praticando, mais as chances de surgirem novos integrantes das seleções e times brasileiros. E é na capacidade de "atração" destes jovens que as diferenças, em termos de gestão, se acentuam absurdamente (notem que nem falei da parte financeira, pois aí a situação ficaria ainda pior para o basquete).
De um lado temos um esporte que ganha medalha em todos os Jogos Olímpicos desde 1992 e que leva dois de seus principais técnicos da base para acompanhar, e garimpar para uma semana de treinamento, jovens de 12 a 14 anos de todo o Brasil. De outro, a Confederação Brasileira de Basketball não fazendo força alguma para mandar algum olheiro/observador focado em descobrir jovens promessas que certamente apareceram por lá.
Pergunta boba para fechar o texto: qual esporte você acha que um menino de 10, 11 anos escolherá para praticar pensando em seu futuro profissional? Basquete ou vôlei? Pois é…
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