A cinco dias da estreia no Mundial, um resumo da preparação do Brasil
A seleção brasileira masculina estreia neste sábado contra a França na Copa do Mundo da Espanha, em Granada, depois de ter feito oito bons amistosos (ainda terá o México nesta semana, diga-se). Consegui ver todos os jogos (alguns ao vivo, outros em reprise) do time de Rubén Magnano e acho que dá para traçar um panorama do que veremos no torneio a partir de 30/08. Vamos lá.
O QUE DEU CERTO
1) Defesa – É o grande mérito de Rubén Magnano desde que assumiu o comando técnico da seleção masculina em 2010. Disso ninguém tem dúvida. O Brasil consegue encurralar seus adversários com a marcação, e tem, via de regra, levado poucos pontos devido a pressão que tem conseguido fazer na bola. Como só se ganha em nível internacional defendendo bem, a seleção masculina acaba, mesmo com um ataque hesitante, se colocando em posição (notem a expressão) de competir em igualdade de condição contra qualquer time.
2) O jogo com os pivôs – No ataque, a insistência (ótima, por sinal) em se jogar com os quatro pivôs (Varejão, Splitter, Nenê e Hettsheimeir) tem se mostrado muito efetiva. O Brasil castiga seus rivais com pontos perto da cesta (alto índice de conversão e alto número de faltas dos pivôs adversários) e acaba gerando ajustes do outro time. Nos 8 amistosos, o quarteto conseguiu, quase sempre, ter mais pontos do que a soma dos outros 8 atletas do elenco (e em alguns casos mais de 60% da pontuação total também).
3) Os tiros de três de Hettsheimeir – Está aí uma grata surpresa. Rafael Libório Hettsheimeir (foto à esquerda) matando bola de fora. Acompanho a carreira dele há algum tempo, adoro a intensidade de seu jogo, e confesso que não me lembrava de ele ter esse tipo de golpe em seu arsenal ofensivo. Se ele adicionou recentemente ou se só agora está se sentindo à vontade para arriscar, só nos resta aplaudir (ou pela persistência em treinar ou pela coragem em tentar). Ala-pivô com chute longo é algo raro no mundo e acaba gerando desequilíbrio defensivo, espaço no garrafão (pois seu marcador precisa sair) e oportunidade para formações diferentes (quem sabe até em alguns momentos com três gigantes…).
4) As rotações de Magnano – O técnico brasileiro sabe que tem um elenco fortíssimo nas mãos, com 8, 9 atletas em iguais (ou parecidas) condições técnicas. Corretamente adota bom rodízio, dando preferência à intensidade (menos minutos, mais intensidade) e forçando todos a defender muito forte no tempo em que estão na quadra. Pode ser que nas partidas do Mundial a rotação fique mais "curta" em alguns momentos, mas todos sabem que terão um mínimo espaço para entrar no jogo – o que é ótimo.
O QUE AINDA PRECISA MELHORAR
1) Lance-Livre – Voltarei ao tema ainda nessa semana, mas está claro que time que quer ganhar alguma coisa em âmbito internacional não pode acertar menos de 75% de seus tiros livres da marca fatal. Não sei o que está realmente pegando, se é psicológico ou técnico, mas é bom a turma brasileira caprichar um pouco mais, viu. Nos oito amistosos, o aproveitamento foi de 59% (108/184), muito pouco.
2) Oscilações – Este aqui é outro tópico que pode fazer com que a seleção volte mais cedo pra casa. Em uma partida de mata-mata, cinco minutos de distração pode ser o suficiente para o rival tirar 12, 15 pontos, passar a frente no placar e não dar mais chance para a seleção brasileira. Isso ocorreu em quase todos os amistosos contra times bons ou ótimos (Argentina, EUA, Lituânia e Eslovênia). Frear esses momentos de pane é sem dúvida o mais recomendável para não passar sufocos desnecessários e nem "ressucitar" times que estão nas cordas. A falta de um marcador mais alto no perímetro também será sentida, mas quanto a isso não há remédio, pois a convocação já está posta e o Brasil terá que conviver com isso.
3) Ataque – Se a defesa está ótima, o ataque não apresenta a mesma intensidade ou fluidez que se espera dele. A insistência no jogo com os pivôs é ótima, mas acaba ficando um sistema muito manjado, facilmente detectado até. O Brasil se movimenta muito pouco e tem passado pouco a bola. Contra defesas europeias, que sabem fechar bem o garrafão, isso tende a ser um problema. Não matar bolas de fora, outro. A opção com Hettsheimeir por mais tempo me parece cada vez mais apropriada para a seleção brasileira – ele é ótimo na defesa e traz algo que o Brasil não tem tido nos amistosos, que é a segurança para acertar bolas do perímetro.
4) Huertas – O armador da seleção é um craque de bola, mas não foi bem na preparação. Ficamos sabendo no sábado da morte de seu avô, o que é uma pena (sentimentos a família!), e isso certamente deve ter mexido com a cabeça dele. Que ele se recupere logo, pois em termos técnicos e de liderança todos sabem o que Huertas pode fazer. Como disse aqui na sexta-feira, ele é o jogador mais importante da seleção brasileira.
SALDO
O saldo da preparação brasileira, ao menos para mim, é bem positivo. Se não dá para cravar que a seleção irá bem no Mundial, ao menos para mim fica claro que tudo o que tinha que ser feito (período bom de treinos e bons amistosos) foi realizado. Ainda dá tempo de fazer alguns ajustes (principalmente sendo mais rápido na tomada de decisões no ataque e em uma maneira de coibir as oscilações dos últimos jogos) para chegar ainda melhor na Espanha. Do meu canto, a expectativa segue sendo de o time de Magnano ir muito bem, muito bem mesmo. Pode ser que esteja sendo otimista demais, mas é exatamente assim que eu penso.
E você, concorda comigo? Está confiante para o Mundial? Comente!
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