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Bala na Cesta

No título feminino sul-americano, brilham Tainá, Tati, Patricia e Clarissa

Fábio Balassiano

19/08/2014 01h19

clarissa1Terminou há pouco o Sul-Americano Feminino disputado em Ambato, Equador. E terminou bem para a seleção brasileira, que bateu a Argentina na noite dessa segunda-feira por 59-47 e conquistou o título da competição em uma partida MUITO abaixo do aceitável em termos de qualidade técnica. Melhor que o troféu foi a consolidação de alguns nomes no time de Luiz Augusto Zanon.

A melhor jogadora do time (e do torneio também) foi, sem dúvida alguma, Clarissa (pivô de Americana – na foto à direita), em que pese seus inúmeros erros de leitura de jogo, algo que incrivelmente mina sua capacidade atlética e de domínio de rebotes. Nem vale, neste texto, citar os números dela (ou de qualquer outra atleta) devido ao baixíssimo nível da competição, mas ver a menina revelada aqui no Rio de Janeiro brilhando como ela vem brilhando é muito legal. Aos 26 anos, a jogadora é presença certa na rotação de Zanon para a posição menos carente do basquete feminino brasileiro, o pivô. Com ela, Nádia, Érika e Damiris (as três na WNBA), no garrafão não há dúvida que o Brasil estará bem servido.

duas1Longe da cesta, Tatiane (à direita na foto) e Patricia (à esquerda), titulares nas alas, mostram-se cada vez mais seguras e confiantes (mais esta do que aquela) embora na final tenham combinado para 4/17 na final (muito pouco). Tati, que jogou pouco em sua última temporada (e sabe-se lá como será novamente no estelas América, de Recife), é um talento absurdo e falei dela há um ano. Patricia, de volta a São José, mostra-se mais consistente, concentrada e consciente do que o time precisa dela em determinados momentos do jogo. Ambas têm 23 anos e podem ir MUITO além em termos técnicos e físicos.

Além delas duas vale citar Joice Coelho e Isabela Ramona, que foram bem quando acionadas mas que ainda pagam o preço da falta de experiência em grandes jogos (algo natural). Sem terem completado 22 anos, as duas, recém-contratadas por São José, mostraram espasmos daquilo que poderão ser com regularidade no futuro – boa defesa, ataque feroz à cesta e arremesso regular. Não posso deixar de falar da experiente Jaqueline, brilhante na decisão com 15 pontos (4/5 de três pontos).

taina1A maior das confirmações, porém, veio na armação mesmo. Desesperado devido a aposentadoria de Helen, Claudinha e Adrianinha, o país pensou em naturalizar uma norte-americana (não rolou), suplicou pelo retorno de Adrianinha (algo que aconteceu) e precisava de uma ou duas meninas para unir-se à experiência da veterana. A dúvida que ficava era entre Tainá (América, de Recife) e Débora (Americana). No começo, colocava mais fichas nesta, mas agora, passados quase 12 meses desde que Zanon assumiu com a missão de renovar o elenco (árdua missão, diga-se), Tainá mostra-se bem mais preparada para vôos mais altos, vôos mais difíceis. Sua atuação na final, porém, inspira cuidados. Foram três desperdícios de bola, 1/6 nos chutes e MUITA ansiedade.

Aos 22 anos, Tainá evoluiu muito de um ano pra cá, muito mesmo. Tornou-se uma condutora de bola segura, desenvolveu boa visão de jogo, melhorou seu arremesso e tem tudo para ir bem no Mundial da Turquia, sua primeira competição adulta de alto nível, aprendendo com Adrianinha, a provável titular e acrescentando seu ritmo. Se conseguir conter a ansiedade e dosar velocidade e paciência para armar o jogo com calma sem dúvida terá um futuro brilhante.

zanon1O título do Sul-Americano vale, no final das contas, muito pouco. Conquistas nesse nível de competição na verdade são mais ilusórias do que parâmetro para qualquer coisa (o Brasil é o único que ainda tenta fazer basquete profissional no continente, isso é bom que se diga). O melhor, no caso do torneio em Ambato, foi ver que principalmente Patricia, Tatiane, Tainá e Clarissa estão cada vez mais prontas para representar a seleção brasileira adulta em torneios de alto nível (como será o Mundial da Turquia).

Deste canto eu só posso esperar duas coisas: 1) que o desenvolvimento delas continue para muito além do que já vimos pois o caminho para se tornar um time de ponta ainda é longo; 2) e que os clubes enfim se dêem conta que precisam abrir espaço para estas e outras jovens jogarem.

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