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Bala na Cesta

Brasil perde dos EUA - resultado preocupa menos que a atuação

Fábio Balassiano

17/08/2014 01h47

tiago3Então o Brasil foi ao United Center, em Chicago, enfrentar a seleção dos Estados Unidos. Era o primeiro jogo (tirando aquele amistoso – o fatídico que lesionou Paul George, lembram?) de Derrick Rose depois de mais uma grave lesão no joelho, e os norte-americanos venceram por 95-78 diante dos fanáticos torcedores do Bulls, que a todo momento aplaudiram Rose e vaiavam os rivais da franquia (Nenê, Splitter, Irving etc.).

Como disse no texto deste sábado, o que valia para o Brasil não era o resultado em sim, mas principalmente a evolução técnica e tática do time de Rubén Magnano visando a Copa do Mundo da Espanha (começo em 30/8). E aí o saldo não foi positivo, não. Vamos a alguns pontos interessantes:

1) Em primeiríssimo lugar, perder dos Estados Unidos por menos de 20 pontos está longe de ser um desastre. Não foi, não é e nunca será. Podemos passar dessa neura, certo?

1.1) Antes das críticas, dois elogios importantes. Raulzinho, tão criticado por suas atuações no Sul-Americano e nos amistosos na América do Sul, foi muito bem. Dosou bem a sua velocidade, explorou a sua jogada favorita (os picks na cabeça do garrafão) e distribuiu bons passes (quatro assistências ao todo) nos 15 minutos em que esteve em quadra (só foi mal na defesa, batido facilmente a partir de dribles dos armadores norte-americanos). Rafael Hettsheimeir, autor de três bolas de três (bom vê-lo com confiança para matar bola de fora, o que pode ser uma opção boa para o Mundial), também foi muito bem com 13 pontos. Além deles dois, Tiago Splitter segue em fase exuberante. Foram 16 pontos (8/9 nos arremessos) e três assistências com bastante facilidade contra os rivais que tão bem o conhecem.

rose2) Dentro de quadra, me assustou um pouco a defesa brasileira, um dos pontos fortes do time desde que Rubén Magnano assumiu o time quatro anos atrás. Um lance bastante emblemático, como bem disse o amigo Daniel Neves, aqui do UOL, foi quando Derrick Rose cortou Raulzinho e viu o garrafão completamente vazio para fazer a cesta com a bandeja. A cobertura de Varejão demorou demais a chegar.

Não foi o único lance que isso aconteceu. Em vários outros houve problema de rotação, de coberturas, de comunicação, de ajuda defensiva. "É o ataque mais potente do mundo do outro lado, do que você está reclamando", vocês podem estar se perguntando. Mas os EUA estavam em segunda, terceira marcha, nem foram tão bem assim. E a intensidade defensiva brasileira, tão vista nos últimos anos, não compareceu de novo.

3) O jogo, todos sabem, não se divide e esse tipo de problema (defensivo) acaba se resvalando no ataque. Sem forçar erros, contra-ataques não saem e o jogo armado é cada vez mais exigido. O Brasil força muito o jogo com seus pivôs (o que é ótimo), mas os alas e armadores não têm conseguido pontuar de fora. Para vocês terem uma noção, 46 dos 78 pontos foram feitos por Nenê, Varejão, Hettsheimeir e Splitter (aproveitamento de 20/29). Os alas e armadores somaram 32 pontos em ruins 12/36. Esse é um problema crônico, já detalhei bastante isso no blog e neste sábado novamente aconteceu. Alex, Leandrinho, Marquinhos, Huertas e Larry foram muito mal neste sentido.

huertas4) Mas não é só no chute que está o problema. O time brasileiro "espaça" muito mal a quadra no ataque, deixando a defesa adversária concentrar esforços no garrafão e mesmo assim ter tempo de colocar um braço, ou um corpo, no arremesso quando a bola roda. Além do espaço, que é mal executado, a bola fica demais nas mãos dos pivôs. Quando há as dobras, ou os colapsos defensivos para impedir as cestas de perto (de maior % de conversão, lembremos), os pivôs (com exceção de Splitter) têm demorado demais a passar a bola. E quanto mais demorar, mais a defesa vai ter tempo de contestar os arremessos, tornando-os mais difíceis de serem convertidos. É o que tem ocorrido desde o começo da fase de amistosos, sem nenhuma correção prática por parte da comissão técnica brasileira. Isso, sim, é preocupante.

davis4.1) No ataque, e isso foi destacado por Splitter ao final do jogo no Sportv, o time desperdiçou MUITAS bolas (foram 20), gerou muitos contra-ataques (14 roubos americanos) e bandejas/enterradas para os americanos (30 pontos, quase 1/3 do total do rival portanto, através dos desperdícios brasileiros). Para um time que passa pouco a bola no setor ofensivo, errar tantos passes assim não é um bom sinal. Além disso, teve lapsos que não poderão se repetir no Mundial da Espanha (aqueles que a gente conhece e que fazem a seleção "dormir" um pouco durante as partidas).

5) Preocupante, aliás, também foi a atuação de Huertas. Foram cinco desperdícios de bola, condução de jogo ruim (para seus padrões, que sempre são muito altos – em seleção ou no Barcelona, craque que é) e defesa muito abaixo da crítica. Além dele, Larry Taylor não se houve bem. O norte-americano naturalizado brasileiro esteve em noite para esquecer. Diante de seus familiares de Chicago, Larry teve 1/4 nos arremessos e foi mal na marcação.

6) Dito isso tudo, outras duas coisas não podem passar batidas. O Brasil tentou mesmo marcar por pressão na saída de bola contra os Estados Unidos? Não pode, gente. Contra os EUA, não. Vai, sempre, sobrar espaço/buraco do outro lado da quadra (por motivos óbvios). Outro ponto: os americanos começaram a correr loucamente devido aos roubos de bola que vieram através de sua forte defesa. E o que fez o Brasil, em seguida? Começou a correr também. Foi ali no terceiro período, se não me engano. Isso não funciona com este time (envelhecido, sem tanto potencial físico e sem peças para isso) e a diferença americana aumentou bizarramente. É bom ficar atento a isso também.

ruben7) Nos números, o Brasil teve quase tantos erros (20) quanto assistências (21), 6/15 de fora (sendo 3/4 de Hettsheimeir), 8/16 nos lances-livres (céus!!!!) e viu os norte-americanos converterem 30 pontos através dos desperdícios de bola do Brasil. Os americanos tiveram 27 lances-livres convertidos, 30 pontos em contra-ataques e apenas 4/17 de fora. Ou seja: 57 dos 95 pontos dos EUA vieram em lance-livre ou bandeja/enterrada. Muita coisa, não?

E vocês, o que acharam do amistoso? O saldo, como se vê nos meus pontos acima, não foi bom, não. Comentem!

Sobre o blog

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