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Bala na Cesta

O começo de Lucas Bebê e Bruno Caboclo no Toronto

Fábio Balassiano

20/07/2014 01h20

caboclo6Em primeiro lugar, vale dizer o seguinte: a Liga de Verão (Summer League) da NBA não vale absolutamente NADA. Se você está esperando duelos táticos, exibições espetaculares ou arranjos coletivos sublimes, esqueça. A maioria dos atletas que vão a Las Vegas todos os anos busca apenas uma coisinha bem básica: contratos com as franquias para a temporada seguinte. Nada mais do que isso. O "grosso" dos jogadores que vai pro torneio é para isso mesmo. A minoria, por incrível que pareça, pertence a jogadores escolhidos (ou trocados) duas, três semanas antes no Draft e que precisam ser testados/vistos pelos seus times.

E é justamente neste segundo grupo que se enquadram Lucas Bebê e Bruno Caboclo, que atuaram pelo Toronto na Liga de Verão de Las Vegas até esta sexta-feira, quando a equipe canadense se despediu da competição. Além da barreira da língua, tiveram que disputar espaço com nove, dez jogadores (inclusive o armador brasileiro Scott Machado, que não foi bem) em busca de algo que eles já têm – contratos garantidos com um time para a temporada 2014/2015. Houve momentos das cinco partidas (e eu vi todas) que Bebê e Caboclo eram solenemente ignorados por caras que, com a bola na mão, preferiam arremessar marcados ao invés de passá-los a bola.

bebe2E isso, por incrível que possa parecer, é natural e não pode ser condenado. Estavam, os que não têm contrato, brigando pela sobrevivência, pela chance de integrar a elite da elite do basquete mundial. Se há um arremessador sendo olhado pelos times da NBA, o que você espera, se fosse um olheiro, que este cara faça em uma partida que não tem valor (em termos de resultado) algum? Que arremesse… Mesmo assim é possível excluir este fator "contrato" da equação e analisar Caboclo e Bebê neste começo de vida no Toronto.

Comecemos por Lucas Bebê. O pivô, que ainda não teve sua situação com o Estudiantes completamente resolvida (ao que parece o Toronto irá pagar a rescisão, mas não tem nada certo até o momento), foi muito bem na marcação (5,8 rebotes por jogo), mostrou-se rápido para jogar na posição cinco e até que não fez feio com a bola na mão. Embora tenha desperdiçado bolas demais (duas por jogo), terminou com cinco pontos de média (53% de aproveitamento nos chutes). Seu problema continua sendo (e já escrevi isso antes – aqui e aqui) seu repertório de jogadas ofensivas. Lucas ainda baseia demais seu jogo em enterradas e/ou pontos provenientes de rebotes ofensivos.

caboclo4Mesmo sendo mais jovem (18 anos) e com muito menos experiência internacional, Bruno Caboclo foi muitíssimo bem em sua primeira incursão no mundo da NBA (o adjetivo "intrigante" da imprensa americana cabe aqui perfeitamente). A revolta dos torcedores do Raptors no dia do Draft deu lugar a uma grande esperança a partir do momento em que ele despejou 12 pontos em 24 minutos na sua estreia pelo time contra o Lakers na Liga de Verão.

A tal frase do analista da ESPN, de que o "ala estaria a dois anos de estar a dois anos de ser efetivo", não pareceu muito apurada, embora seja cedo para negá-la ou confirmá-la, sejamos justos.

Caboclo terminou com 11,3 pontos (em todas teve entre 10 e 12 pontos), 3 rebotes e 1,2 roubo de bola nos 26 minutos de média em que esteve em quadra nos cinco jogos que fez. Ainda tímido devido ao problema da língua, não conseguiu construir muita coisa em termos coletivos, desperdiçou muita bola (3,6 erros/jogo), teve aproveitamento apenas razoável (39%), mas mesmo assim deixou os canadenses animados com o que está por vir. Seu potencial físico e técnico são gigantescos, e sua curva de crescimento é imensa. Ninguém, na real, sabe bem o que o "produto" Caboclo pode vir a ser em dois, três, quatro anos. Nem o Raptors. Pode vir a ser um All-Star, pode vir a ser um jogador mediano. Pode vir a ser algo não tão bom assim.

bebe1O diagnóstico, para os dois, Lucas e Caboclo, é muito semelhante. Ambos precisam ser desenvolvidos à exaustão pelo Toronto para estarem prontos para um jogo (valendo) de NBA. E isso é muito natural, esperado e até óbvio. Lucas não tem 23 anos. Caboclo, nem 19. Os Raptors trocaram por um e escolheram o outro sabendo disso. A boa notícia é que a dupla é jovem, a temporada começa em quase quatro meses e há tempo suficiente para treiná-los individualmente (seja para este campeonato, de forma imediata, ou para o próximo), principalmente na parte física (ambos ainda são muito "magros" pra enfrentar o jogo físico da liga).

Se eles estarão prontos para entrarem na rotação de Dwane Casey para a temporada 2014/2015 ainda é impossível dizer. No momento a resposta é "não", mas, insisto, isso não quer dizer absolutamente nada. Nem de forma positiva e nem de forma negativa. Não quer, no presente, dizer nada, nada, nada mesmo.

O Toronto selecionou os dois sabendo e confiando justamente no desenvolvimento deles para o futuro (que a franquia espera que seja algo próximo, obviamente). Na Liga de Verão foi o primeiro gostinho deles jogando pelo time. E os dois, cada um a seu modo, cada um de acordo com uma expectativa diferente, foram muito bem.

caboclo3O caminho é longo, duríssimo e recheado de percalços que Lucas e Caboclo terão que passar (frio, língua, distância da família/amigos e, claro, um nível assustadoramente alto de basquete e de carga de treinamentos). Ainda está (o caminho) apenas no começo, mas para eles só resta uma coisa a fazer: trabalhar muito para demonstrar que a cartada do Toronto neles foi bem dada.

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