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Bala na Cesta

O que esperar de Bruno Caboclo no Toronto Raptors?

Fábio Balassiano

27/06/2014 12h30

cab1Nesta altura dos acontecimentos você, atento leitor, já deve estar sabendo que Bruno Caboclo foi escolhido pelo Toronto Raptors na 20ª posição do (concorrido) Draft da NBA de quinta-feira à noite. Foi uma surpresa, um choque em todo mundo, mas está escrito, está lá e o agora ex-ala do Pinheiros torna-se um dos atletas brasileiros selecionados no Draft da melhor liga de basquete do mundo. A pergunta que fica, agora, é: é possível prever o que acontecerá com ele nas quadras norte-americanas? Para responder a esta questão, alguns pontos importantes. Vamos lá:

1) Em primeiro lugar, vale destacar o ótimo trabalho que fizeram Liga Nacional de Basquete e Esporte Club Pinheiros (além de Barueri, claro). A LNB criou a sua Liga de Desenvolvimento de Basquete (Sub-22), xodó do blog diga-se de passagem, e foi nela que Caboclo não só de destacou, evoluiu, mas como foi ali que foi notado pelo Toronto Raptors pela primeira vez. Isso foi falado por Masai Ujiri (foto à esquerda), Gerente-Geral do Toronto, ontem à noite. Viram Caboclo na LDB em dezembro passado e ficaram "intrigados, assustados com o potencial apresentado". Ao clube de São Paulo, vale o parabéns por acreditar no menino que treinava no Barueri e por treiná-lo incessantemente para melhorá-lo. Os técnicos da base (Brenno, José Luis Marcondes, Thelma etc.) merecem ser valorizados.

A PRIMEIRA ENTREVISTA DE CABOCLO COMO ATLETA DA NBA

PJT-Raptors-4.jpg2) Muita gente afirma que Bruno sai de forma precoce do país e que teve pouco espaço na rotação do Pinheiros na temporada 2013/2014. É óbvio que quanto mais pronto um atleta estiver para alçar um vôo desta natureza é melhor. Mas a NBA viu o Caboclo, olhou, gostou e passou a monitorá-lo, seduzi-lo com a chance de ele desembarcar no melhor basquete do mundo antes mesmo de ele completa 10 anos. É fácil compreender como isso mexe com a cabeça das pessoas, não? Outra coisa: Tiago Splitter foi para a Espanha com 15 anos. Lucas Bebê, com 18. Idade nem sempre é tudo. Sobre os (poucos) minutos que ele teve no clube, vale dizer que ele, além dos treinamentos com o time adulto, vinha fazendo exercícios específicos com o ótimo técnico José Luis Marcondes TODOS os dias da semana. Jogar é sempre válido, claro. Mas ele não estava parado, esquentando o banco a toda hora. Tanto foi assim que mesmo não jogando 25, 30 minutos por jogo ele foi selecionado. O Toronto Raptors, através da sua equipe de Scouts, veio ao Brasil para vê-lo três ou quatro vezes, como disse o próprio Ujiri na coletiva. O "prospecto" Caboclo estava ali – jogando ou não.

caboclo13) Masai Ujiri foi MUITO sincero em sua entrevista coletiva pós-Draft. Ele disse que o Toronto estava muito interessado no armador Tyler Ennis, de Syracuse. Era o foco inicial dos canadenses, mas Ennis foi selecionado pelo Phoenix Suns na posição 18. Quando chegou a vez do Toronto, com a vigésima, o GM teve que fazer a sua escolha. Ele conta que ficou com medo de o próprio Suns selecionar Caboclo na posição 27 e por isso colocou o nome do brasileiro para Adam Silver "cantá-lo" em Nova Iorque. De acordo com Ujiri e também com o técnico Dwane Casey, o Phoenix teria consultado Leandrinho, que jogara pela franquia do Arizona na temporada 2013/2014, a respeito do ala do Pinheiros. O óbvio interesse aliado ao medo de perder Caboclo influenciaram bastante no imenso desejo de os canadenses em contar com ele ao invés de vê-lo partindo para outra equipe. Ao invés de selecioná-lo em uma eventual segunda rodada, o Toronto ficou temeroso de Caboclo não estar disponível até lá. Por isso a aposta com o pick 20.

MINHA ENTREVSITA COM ELE MESES ATRÁS

4) O termo 'aposta' utilizado acima é proposital. No melhor Draft dos últimos 10 anos segundo a imprensa americana o Toronto utilizou seu pick de primeira rodada para escolher o jogador mais jovem disponível. É arriscado, tendo tão boa oferta de mão de obra mais pronta a disposição? Sim, sem dúvida que é. Mas Casey, técnico do Toronto que também deu entrevista depois do Draft, deu uma pista no que eles enxergaram em Bruno Caboclo: "Ele é longo, aprende rápido. Tem apenas 18 anos e é um projeto para o futuro". A comparação com Kevin Durant eu não sei de onde saiu, e não acho bacana embarcar nessa, não. De um lado temos o MVP da temporada regular de 2013/2014. Do outro, Caboclo, com 18 anos, poucos jogos no profissional e com fundamentos ainda a serem desenvolvidos. Melhor ir devagar neste caso.

caboclo25) Não vale, portanto, a comparação com Rafael Araujo, escolhido em oitavo pelo Raptors anos atrás. São situações completamente diferentes. Baby saiu da BYU credenciado por quatro anos no basquete universitário e foi escolhido para ser o "par" que Vince Carter tanto precisava para o Toronto ir longe. Já era uma figura conhecida, consolidada e com mais "golpes" para apresentar em quadra. A pressão, no caso do pivô, foi imensa e Baby não foi longe. Faz parte do esporte. Caboclo, por sua vez, chega, apesar de sua vigésima (e alta) escolha no Draft de ontem, como um projeto de futuro, um projeto de desenvolvimento. O próprio Ujiri avisou: "Ele irá jogar a Liga de Verão conosco e depois vamos avaliar. Quem sabe a D-League (Liga de Desenvolvimento da NBA)". Ou seja: nenhum maluco espera que ele chegue na temporada 2014/2015 jogando na ala ao lado de DeMar DeRozan para levar a franquia canadense às finais do melhor campeonato de basquete do planeta.

caboclo2Dito isso, acho que está claro o cenário, não? Bruno Caboclo não é um projeto para agora, mas sim para o futuro do Toronto Raptors. Ele tem três anos (garantidos) de contrato, mas ainda é incerto se os canadenses irão utilizá-lo de cara. De longe eu não acredito que ele será enviado para jogar na Europa ou ficar no Brasil, não. Pela empolgação apresentada pelos dirigentes, pela urgência em desenvolvê-lo, acho bem provável que Masai Ujiri queira acompanhar todos os passos do menino que completará 19 anos em setembro muito de perto. Pela urgência em desenvolvê-lo (fundamentos, físico, inglês etc.), é muito mais fácil burilá-lo no Canadá com a franquia inteira à disposição do brasileiro do que monitorá-lo de longe, não?

caboclo1Agora, neste dia 27 de junho de 2014, é muito óbvio para todo mundo: Bruno Caboclo AINDA não está pronto para jogar na NBA. Mas eu creio que ele estará em breve. Em quanto tempo, porém, é impossível prever de forma exata. Dependerá dele, do Toronto e de inúmeros fatores (alguns até externos às quadras, como a adaptação à cidade). Cabeça boa, físico (o físico de albatroz que eu mencionei tempos atrás), vontade e boa técnica ele já tem. É hora de potencializar tudo à enésima potência como só a NBA sabe fazer todos os aspectos de seu jogo. A tacada do Raptors, e do próprio Caboclo (e seus agentes) só poderá ser medida mesmo nos próximos meses.

No momento, o mais recomendável é acompanhar o seu desenvolvimento, que pode ser lento, e verificar em que patamar ele vai acabar se encaixando na melhor liga de basquete do planeta.

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