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Bala na Cesta

Com o título da NBA, a coroação do brilhante Tiago Splitter

Fábio Balassiano

16/06/2014 10h19

splitter1No final da temporada passada (2012/2013) Tiago Splitter ficou marcado mais pelo toco que levou de LeBron James (algo natural, do jogo) do que pelas suas boas atuações pelo San Antonio Spurs. Seu mundo também sofreria um grande abalo quando, pela primeira vez em 12 anos, ele não poderia disputar uma competição pela seleção brasileira – sendo criticado publicamente pelo técnico do time nacional, um verdadeiro absurdo que revoltou até mesmo o contido jogador. Naquele momento confesso que temi pelo que aconteceria com os próximos passos de Splitter (embora na entrevista que fiz com ele antes do campeonato ele se mostrasse muito tranquilo com tudo).

Para a sorte de todo mundo (dele, do Spurs e nossa) Splitter voltou ainda melhor para a temporada 2013/2014. Gregg Popovich, o técnico que promoveu uma verdadeira transformação em seu jogo (vide sua nítida melhora nos lances-livres), lhe deu confiança, transformando-o em titular absoluto do garrafão ao lado de Tim Duncan. O desempenho dele melhorou, o rendimento do time crescia com Tiago em quadra (principalmente quando ele era efetivos nos corta-luzes para Tony Parker ou Manu Ginóbili) e o brasileiro passou a ser uma peça importante em um dos times mais importantes da NBA. A crítica especializada dos Estados Unidos o elogiava, enfim "descobrindo" quão bom ele realmente é (algo que quem o acompanha sabe há anos, diga-se).

tiago1Os playoffs vieram, Tiago foi fundamental contra o Dallas (marcando a Dirk Nowitzki) e Portland (em cima de LaMarcus Aldridge), mas foi sacado contra o Oklahoma City Thunder e Miami Heat quando a opção de Pop foi jogar com um ala-pivô mais móvel (primeiro Matt Bonner na final do Oeste e depois Boris Diaw na decisão da liga). Não foi por deficiência sua (pelo contrário, já que ele foi titular em 50 das 59 partidas que participou na temporada), mas sim uma opção do técnico para enfrentar times cujos duelos individuais (matchups) passaram a não favorecer aos dois gigantes mais fixos do Spurs. O título da NBA veio, e é só isso que importa, não? Tony Parker teve um final de série horrível, e pouca gente vai lembrar que nos jogos 4 e 5 quem destruiu mesmo na armação texana foi Patty Mills. No final das contas, o mesmo vale para Tiago (principalmente pelo que ele conseguiu fazer na temporada como um todo – e não apenas nos 7, 8 duelos finais).

Aos 29 anos Tiago Splitter tornou-se o primeiro brasileiro a ganhar um título na melhor liga de basquete do mundo. Mas não é "só" isso que deveria ficar na nossa cabeça (embora ter um anel de campeão já seja coisa pra caramba, obviamente…). O pivô do Spurs é um exemplo de comprometimento profissional (no Baskonia, no Spurs, na seleção ou onde quer que ele jogue), de humildade para reconhecer seu papel dentro da rotação da equipe e de dedicação para evoluir sempre. Foi morar sozinho na Europa (em Vitória, País Basco) com 15 anos, ralou muito no Baskonia, aprendeu com alguns bambas na posição (Oberto, Scola etc.), viu de longe o sofrimento de sua irmã (falecida em 2009, um ano antes de ele chegar à NBA) e comeu o pão que Popovich amassou no começo de sua vida com o Spurs. Sem sobressaltos, sem reclamar, sem mimo, sem nenhuma linha (nenhuma linha!) que possa ser criticada. O que os americanos chamam de Work Ethic (ética de trabalho) em Tiago é irrepreensível, portanto.

tiago3Nesta segunda-feira, portanto, ele colhe os frutos não de uma temporada brilhante com os texanos, mas de toda uma vida pautada pelo trabalho bem feito e pela evolução constante. Seu toco final em Dwyane Wade deveria valer tanto (ou tão pouco) quanto o que ele levou de LeBron James (faz parte do jogo, insisto nisso), mas se no caso do ano passado o barulho foi imenso, que o mesmo se faça agora na internet, nos jornais, nas TV's (sendo que ele também deu um belo toco em LBJ no começo da série e pouca gente lembra).

Não pelo bloqueio em si, mas sim porque Tiago merece toda a reverência por tudo o que conseguiu em sua brilhante carreira. Ninguém fica anos como melhor pivô da Europa, e é campeão da Liga ACB (como MVP das finais) e da NBA sem ter muito mérito, sem ter trabalhado muito. É o caso dele, respeitado e admirado por torcedores, companheiros e comissões técnicas com quem teve/tem contato.

Se tem algum brasileiro que merecia terminar a temporada 2013/2014 com o título da NBA, este alguém é Tiago Splitter.

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