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Bala na Cesta

Os méritos do Paulistano, finalista do NBB

Fábio Balassiano

24/05/2014 09h18

gustavo1Nesta altura dos acontecimentos você, leitor atento que é, já sabe que o Paulistano venceu São José na noite de ontem por 81-68 com 30 pontos de Holloway e se classificou para uma inédita final na história do clube (mais que isso: é o primeiro time da capital de São Paulo que chega à decisão na história do NBB). Mas a conquista (já se pode falar em conquista, sem dúvida alguma) começou lá atrás, bem antes do triunfo contra os joseenses na noite desta sexta-feira.

No dia 30 de outubro de 2010 o técnico Gustavo de Conti, então com 29 anos, dirigia o Paulistano pela primeira vez no NBB. Foi em Vila Velha, na vitória contra o time local por 63-60. Assistente-técnico por muito tempo no time de São Paulo, ele ganhou a sua primeira chance como treinador principal em um time jovem e que precisava ser lapidado. Betinho, o cestinha da companhia (15,1 pontos), era considerado à época uma das grandes revelações do basquete brasileiro, por exemplo.

O tempo passou, Gustavo continua com cara de garoto, mas seus resultados começam a aparecer (foi vice-campeão Paulista, perdendo a decisão passada para Bauru por 3-0). Sempre com elencos medianos (ou modestos, como queiram), ele conseguia extrair o máximo que tinha em mãos. Preocupava-me (e eu disse isso a ele uma vez) como seria para ele dar o próximo passo (ou seja, dirigir times fortes e levá-los longe). Nesta temporada veio seu grande teste.

holloway1O Paulistano não montou um esquadrão, mas peças fundamentais foram pinçadas e o investimento aumentou (não muito, a patamares de Flamengo e Brasília, por exemplo, mas aumentou um pouco). Da temporada 2013/2013 poucos ficaram (Pedro, por exemplo, era titular e se tornou ótima arma vindo do banco), e chegaram o excelente Holloway (18,1 pontos – na foto à esquerda), o "capetinha" Dawkins (12,1 pontos), o inteligente Pilar (11,2 pontos e muita entrega), o útil César (9,8 pontos) e o pivô Mineiro (8,5 pontos, 4,3 rebotes e muita defesa). Não é, portanto, um time espetacular, não foi contratada (até então) nenhuma estrela de primeira grandeza do basquete brasileiro, há jogadores ali que NINGUÉM queria, NINGUÉM mesmo.

E como o Paulistano respondeu? Com a segunda melhor campanha da temporada regular (23-9), com duas vitórias de 3-2 no playoff (Franca e São José), com a vaga na final e com o melhor basquete da competição. O mérito de Gustavo de Conti que eu citei lá em cima ("extrair o máximo de seu elenco") continua o mesmo, mesmíssimo. A diferença é que agora ele, eleito justamente o melhor técnico da temporada (na foto que abre este texto ele com o troféu), tem de fato um grupo melhor, com mais opções, mais possibilidades de troca.

O Paulistano tem a melhor defesa do NBB (não em pontos sofridos, mas em forma de "combate", agressividade), conceitos de jogo muito arejados (10 jogadores atuam por 10 ou mais minutos e 7 possuem 7 ou mais pontos de média, com Holloway anotando apenas 20% do total) e uma entrega impressionante. Como disse um amigo, "os caras têm uma fome assustadora". E foi demonstrado isso no campeonato inteiro.

gustavo2Cansei de dizer aqui, mas não custa repetir: aos 34 anos, Gustavo de Conti já não é uma promessa. É uma realidade, é um dos melhores técnicos do país sem dúvida alguma (junto com o Neto, do Flamengo, de quem ele foi assistente no Paulistano). Tem, óbvio, defeitos (como disse aqui ontem, ainda reclama muito dos juízes) e pode evoluir em todos os aspectos do jogo (liderança, parte técnica e tática etc.), mas é estudioso, chato na medida certa para cobrar evolução de seus atletas a todo tempo e (o principal) tem bem claro em sua cabeça como se joga o basquete atualmente (e os conceitos são ótimos, ainda bem). Em uma classe com tanta dificuldade de renovação (mais de ideias do que nomes em si, diga-se de passage), ver alguém assim tão novo, e tão bom, é bastante animador.

Não sei se isso lhe fará ganhar a final no próximo sábado (seu time entra como o azarão, é um fato), mas em um NBB com tantas histórias incríveis (como foi a do Mogi semifinalista) a do Paulistano e seu elenco batalhador talvez seja a mais bonita delas. Uma história, tal qual a do Atlético de Madri, campeão espanhol de futebol mesmo com investimento muito menor em relação aos gigantes Real Madrid e Barcelona (as cores do time de Gustavo e do argentino Diego Simeone são iguais, hein!), que mostra que quando há trabalho sério, planejado e com um grande líder os resultados podem acontecer.

Abaixo todas as campanhas de Gustavo de Conti com o Paulistano:

campanha1

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