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Bala na Cesta

Incansável, Marcelo Vido destaca conquista e projeta futuro do Flamengo

Fábio Balassiano

24/03/2014 13h35

vido33Marcelo Vido chegou ao Flamengo no começo de 2013. Saiu do Minas, um clube absurdamente estruturado e com dinheiro em caixa, para assumir a função de Diretor-Executivo de Esportes Olímpicos do rubro-negro em um momento delicado. Era a transição de gestões ruins para uma tentativa de algo mais profissional e arejado com o que há de mais moderno no mercado e uma chance de mudar o modelo de administração esportiva do país. O começo foi tenso, com atrasos de salário, perdas de patrocínio e a saída de alguns atletas de renome (Cesar Cielo, da natação, principalmente).

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Mas Vido, calmo toda vida, esperou, manteve a paciência. E está colhendo os resultados. Com três patrocinadores na camisa do basquete (Tim, Estácio de Sá e Brasil Brokers), ele, ex-atleta do basquete da Gávea, viu o ginásio lotado no sábado e se emocionou ao ver a festa da torcida e a possibilidade real de o clube conquistar algo que, como atleta, ele ganhou – um Mundial de Clubes de basquete. Mas "só" vencer, vencer, vencer não é suficiente para o dirigente. Conversei com ele a respeito disso depois da conquista de sábado diante do Pinheiros.

BALA NA CESTA: Em primeiro lugar queria que você falasse do evento como um todo, da conquista e já da expectativa para o Mundial, campeonato que você ganhou em 1979…
MARCELO VIDO: Verdade, em 1979, no Ibirapuera lotado contra o Sarajevo jogando pelo Sírio. Era um sonho ganhar a Liga das Américas desde o início da temporada. Depois que nos classificamos para a decisão passou a ser um sonho trazer as finais para o Rio de Janeiro e, assim, ganhá-la diante de nosso torcedor. Foram pequenos sonhos que vivemos intensamente. Agora é pensar no NBB. O Flamengo está indo muito bem, tem a possibilidade real de conquistar o tricampeonato e este precisa ser o nosso foco agora. Depois, sim, teremos o Mundial aqui no Rio de Janeiro contra um Real Madrid, um Barcelona, um Olympiacos, sei lá. São etapas. Estamos longe de sermos uma excelência no basquete, sabemos disso. Estamos longe disso, mas estamos sedimentando um modelo bacana pensando no Flamengo hoje e no futuro.

vido1BNC: Quando você fala nesta excelência, poderia explicar melhor?
VIDO: Sim. Estamos falando de categoria de base, de formação, de escola de basquete. Não só formação de atletas, mas principalmente de pessoas. O que estamos tentando colocar é que, apesar dos problemas financeiros, é que temos um caminho a percorrer, um objetivo a cumprir. Não é fácil, mas são etapas que precisam ser cumpridas. O que queremos é ter um programa de excelência não só no basquete, mas no clube como um todo. E isso você não constrói apenas ganhando. Ganhando às vezes você esconde alguns problemas, acha que está tudo bem. Programa de excelência é desde a base até o profissional.

BNC: Você assumiu no começo de 2013 e passou por um turbilhão de problemas financeiros, mas tem tentado trazer um modelo de gestão diferente para o Flamengo. Como tem sido isso no clube?
VIDO: Tivemos, de fato, muita dificuldade no começo de 2013 mesmo. Perdemos um patrocinador forte, pegamos a modalidade com atrasos financeiros e o mínimo que a gente pode fazer é colocar as contas em dia. É o mínimo, mas que não estávamos conseguindo fazer. Caminhamos, os patrocinadores chegaram, as contas estão parando de pé e hoje, pelas minhas contas, estamos a 85%, 90% autossustentáveis no que tange o basquete. Precisamos de um patrocinador para subir essa régua aí para 100%. Quem sabe essa conquista da Liga das Américas e o Mundial que está por vir façam com que cheguemos lá. Tenho que agradecer muito ao Alexandre Póvoa, Vice-Presidente de Esportes Olímpicos que nos dá todo suporte para evoluirmos. Não é ganhando que você chega a excelência, faço questão de bater neste ponto, mas a vitória ajuda muito a você sedimentar seu trabalho e sua filosofia de esporte. Daqui a dois, três anos eu quero ver o basquete nas escolas, deixar um legado bacana para o clube.

vido1BNC: Pra fechar: sei que está cedo para planejar qualquer coisa, mas o que você sentiu quando o relógio zerou o Mundial se concretizou?
VIDO: Olha, foi uma emoção muito grande. Foi uma conquista inédita, um título invicto, com o ginásio cheio. Todos os componentes aqui, né. Quem gosta de basquete, quem gosta de entretenimento teve um bom espetáculo neste fim de semana aqui no Rio de Janeiro. Para te falar a verdade eu estava sofrendo havia uma semana já. Estava nervoso, muito tenso. Nem quando era atleta eu sofria tanto. Não é só ganhar ou perder, mas sim fazer um evento bacana, um espetáculo legal. Tendo a não avaliar meus trabalhos por vitórias ou derrotas, porque nem sempre você é excelente quando triunfa e nem ruim quando não ganha. Mas, de fato, foi um jogo muito difícil esta final. Não esperava nada diferente, mas até os segundos finais, quando o arremesso do Pinheiros não caiu, a partida estava aberta, disputada. Foi uma vitória que temos que comemorar, mas segunda-feira já começa o NBB de novo e vamos lutar por lá. Deixa eu aproveitar o espaço para agradecer aos amantes do basquete, a quem acompanha a modalidade. Todos que fazem parte dessa indústria, na parte de divulgação, de crítica, de tudo. Sabemos que temos muito o que melhorar, muito, muito mesmo, e vocês fazem parte disso. Temos é que agradecer pela quantidade de profissionais que aqui estiveram. E o número de profissionais de imprensa que aqui estiveram mostra que o basquete ainda tem um espaço maravilhoso.

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