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Bala na Cesta

Mais do mesmo: 3 times do NBB com salários atrasados

Fábio Balassiano

16/12/2013 02h23

salario1Neste sábado, a coluna De Prima, do jornal Lance! publicou a seguinte nota: "Caçula do Novo Basquete Brasil (NBB), o Macaé, do Rio de Janeiro, está devendo dois meses de salários para os jogadores da equipe. A expectativa é que metade da dívida com o elenco seja paga na próxima semana. Goiânia, Basquete Cearense e Flamengo são outras equipes que estão com vencimentos atrasados".

Antes de escrever o que penso a respeito, vamos a uma nota importante. Fui consultar a Associação de Jogadores, presidida por Guilherme Giovannoni (foto à direita), e assessorada pelo advogado Filipe Orsolini, e recebi o seguinte dos dois:  "Flamengo: conversamos com alguns atletas desta equipe, que pediram para não interferirmos, mas continuamos à disposição; Goiânia: já conversamos com a diretoria da equipe e demos retorno aos atletas. Estamos aguardando uma conversa entre as partes e, se for necessário, vamos agir de acordo com as necessidades. Macaé: até agora não recebemos contato de nenhum atleta desta equipe. Tão logo isso aconteça, vamos nos inteirar da situação e depois fazer o que tiver ao nosso alcance para resolver. A AAPB só pode agir quando os atletas procuram a entidade expondo seu problema, solicitando a nossa participação. Nós sempre estamos à disposição e com expectativa de fazer o possível para resolver a questão exposta da melhor maneira", explicou Orsolini.

Atualização do post às 13h31: Recebi uma mensagem do ala Felipe Ribeiro, do Basquete Cearense, e o mesmo negou qualquer atraso salarial no time. De acordo com ele, não há nenhum problema de pagamento para atleta algum. Deste canto, peço desculpas. Acabei confiando na informação divulgada pelo Lance! e dei andamento. Menos mal, então.

gui1Bem, este é um assunto chatíssimo e longe de ser algo novo. O que choca, neste caso, é o castelo de cartas que desmorona com uma notícia assim. Macaé e Goiânia são dois estreantes na competição. O primeiro ganhou a vaga em quadra e parecia ter uma estrutura bacana e bancada pela cidade (uma das mais ricas do Estado do RJ devido ao petróleo). O segundo, veio com convite da Liga Nacional. Em menos de três meses já teve problema com ginásio e agora com salário. Do Flamengo, atual campeão do NBB, é algo que se arrasta há décadas, e enquanto não sair o dinheiro da Tim, patrocinadora via Lei de Incentivo, os atletas continuarão sem receber (que situação bizarra, hein).

O panorama, triste pacas, é bem simples: dos 17 times que jogam o NBB, 3 (ao menos do que se tem notícia) estão com salário atrasado (18%). Dois deles entraram no NBB nesta temporada (Macaé e Goiânia) e o outro, além de ser um dos fundadores da Liga Nacional, é o time mais popular do país e atual campeão da competição. Mostra bem a quantas anda a administração dos clubes no basquete brasileiro e mostra bem quão difícil está para manter equipes na modalidade.

gui2Há um outro foco que merece ser analisado também. Respeito demais a Associação e seu presidente, Giovannoni. É ótimo que ela tenha saído do papel, e tenho certeza que vai acrescentar demais ao basquete brasileiro. Mas esperar que os atletas gritem um "salva a gente, mano" para que, aí sim, ela tome uma ação é demais pra mim.

A AAPB se manifestou quando do problema de datas recente, fez alguns protestos belíssimos em quadra (apoiados por imprensa, torcedores e até dirigentes!), mas na hora de demonstrar autoridade para lidar com um problema gravíssimo (atrasos de salários) ela simplesmente faz o que todos os mandatários dos clubes mais gostariam que ela fizesse – se cala e espera que os atletas, a mão de obra quase sempre com medo de agir, faça alguma coisa. Desculpem, mas isso é de uma falta de senso absoluta (e sei que Guilherme não gostará de ler isso – como foi da vez passada quando critiquei a Associação por motivo semelhante). Entendo que seja difícil comprar uma briga sem a (digamos) chancela dos jogadores que são a parte mais lesada na história, mas não se pode esperar apenas a solicitação dos atletas nisso. Se há um problema (e há, é um fato), que ele seja atacado e resolvido rapidamente, principalmente porque não é algo pontual, mas sim algo grande (são três times!).

nbb1As conclusões são bem óbvias. Os clubes precisam tratar essa questão de forma mais séria, dedicada e responsável. Se as folhas estão altas demais, que eles sentem e discutam o tema entre si, criando um teto salarial ou um ranking de atletas caso haja consenso nisso. Ninguém merece trabalhar sem receber. E a Associação, por sua vez, precisa tomar medidas enérgicas contra esse tipo de patacoada (com o perdão do termo). Há ótimas alternativas para isso (TODOS  não entrarem em quadra na próxima rodada, não treinarem durante a semana etc.). A única que não surte efeito algum é esperar que os jogadores envolvidos (quase sempre com medo de tomar alguma atitude – insisto neste ponto) comecem a se posicionar de forma mais objetiva.

Repito: 3 dos 17 clubes do NBB estão com salários atrasados. No mínimo 40 profissionais do basquete têm trabalhado na modalidade estão sem receber, impactando suas vidas às vésperas do Natal e do Ano Novo. Que os atletas, através da Associação, façam alguma coisa imediatamente. O campeonato já está em sua sexta edição, o século XXI está aí e não é mais admissível vermos este tipo de problema. Que comecemos 2014 sem este problema salarial e que não sejamos obrigados a divulgar este tipo de notícia no ano que está por vir.

Acreditem: ninguém gosta de perder 23 minutos pra escrever sobre isso.

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