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Bala na Cesta

De volta, Varejão estreia hoje na NBA querendo ficar longe de lesões

Fábio Balassiano

30/10/2013 01h48

O Cleveland Cavaliers estreia nesta quarta-feira contra o Brooklyn Nets repleto de muita expectativa. O time terá a volta de Mike Brown ao comando técnico, mais uma temporada do excelente Kyrie Irving, os reforços de Earl Clark, Andrew Bynum (ainda sem previsão de estreia), Jarrett Jack, a chegada de três calouros talentosos (entre eles o número 1 do Draft, Anthony Bennett) e o retorno de Anderson Varejão, que se machucou na temporada passada, teve uma embolia pulmonar e no final da tormenta casou-se com Marcelle e começa o campeonato com a expectativa de jogar mais do que nos últimos anos, quando se machucou (entre 2010 e 2013 ele não conseguiu atuar em mais que 31 partidas). Mais experiente de um renovado grupo, Varejão conversou com o blog sobre seu papel na franquia, expectativa para voltar ao playoff e, claro, seleção brasileira. Confira!

BALA NA CESTA: Você está de volta ao Cleveland para esta temporada depois de uma grave embolia pulmonar. Qual é a sua expectativa individual para o campeonato?
ANDERSON VAREJÃO: Individual é estar bem, estar saudável e ficar longe do Departamento Médico. O mais longe que eu puder (risos). Tive lesões sérias e uma doença grave nos últimos três anos, quero passar essa temporada sem problemas.

BNC: Exato. Há três temporadas você tem tido lesões seguidas que acabam por terminar com campeonatos muito bons (no passado você quase foi selecionado pro All-Star Game). Não é algo que você consiga controlar, obviamente, mas há alguma meta de minutos e/ou jogos que você ou o time tenham pensado para a temporada 2013/2014?
VAREJÃO: Não. Quero estar bem, entrar em quadra para jogar o meu melhor. Espero ser útil, ser produtivo, jogar bastante, mas sem essa pressão por minutos ou número de jogos. Farei meu máximo para ajudar o Cleveland a ter um bom ano e alcançar os objetivos.

BNC: Fazer sua primeira temporada como homem casado muda algo pra você? Traz mais responsabilidade? Alguém do time chegou a brincar em relação a isso?
VAREJÃO: Não muda nada. Eu e a Marcelle já levávamos uma vida de casados, só oficializamos a nossa união. A responsabilidade já existe, tanto como marido, quanto como jogador do Cleveland. Algumas fãs que não gostaram muito da ideia, mas isso faz parte. Sei que elas torcem por mim, gostam de mim e vão ficar felizes me vendo feliz.

BNC: Falando especificamente do Cleveland, você chegou ai há quase uma década e agora é o jogador mais velho do elenco (é a sua décima temporada). A responsabilidade por guiar um elenco tão jovem aumenta muito?
VAREJÃO: Acho que tenho, sim, uma responsabilidade, assim como todos possuem uma parcela de responsabilidade na equipe. Dentro do grupo, todos sabem o tamanho da expectativa da torcida, dos fãs, e estamos confiantes de que vamos corresponder bem. Acho que tenho uma função um pouco diferente, que é de tentar aconselhar mais os novatos, passar um pouco de experiência, porque já fui novato na equipe e recebi essa 'ajuda' dos mais veteranos. Tento fazer isso, mas de forma natural. Temos um objetivo em comum, que é fazer do Cavs um time forte, então tudo é válido. Eu não ensino apenas a eles. Aprendo também. Essa troca é muito saudável.

BNC: Apesar de jovem, o Cleveland se reforçou com boas peças (Clark, Bynum, Jack e Miles), trouxe três calouros muito bons e conta com a evolução de Irving e Waiters. Chegou a hora de voltar aos playoffs? Ou ainda é cedo?
VAREJÃO: Voltar aos playoffs é o nosso objetivo. Claro, a temporada ainda nem começou, mas estamos muito confiantes. A equipe vem mostrando evolução nos últimos anos, estamos construindo uma base sólida e espero que possamos contar com todos bem para esse campeonato. Nossa meta, nosso primeiro objetivo, é voltar aos playoffs, e temos condições para isso.

BNC: Como está sendo este retorno do Mike Brown a Cleveland? Ele mudou muito, mudou alguma coisa em termos de sistema de jogo ou comportamento?
VAREJÃO: Aos poucos, ele vai passando a filosofia dele, implantando sua forma de trabalhar. Aos poucos, vai colocando em prática o que quer para o nosso time, ajustando, enfim, dando a cara dele à equipe. Ele me conhece bem e eu o conheço bem também. Os fãs também sabem da sua capacidade e ele quer muito fazer um bom trabalho novamente com a equipe.

BNC: Sobre o Andrew Bynum, pivô que foi contratado, todo mundo sabe que ele precisa se recuperar fisicamente primeiro. Sair do banco, como foi quase sempre pra você aí em Cleveland, seria um problema ou vale tudo pelo time?
VAREJÃO: Estou à disposição do Mike Brown e da equipe para o que precisarem, como precisarem de mim. Não existe rivalidade. Acho que temos o mesmo objetivo: eu, Bynum, Brown e Cleveland, que é fazer uma boa temporada. Bynum é um jogador que está com vontade, com fome de bola, está vindo de lesões e todos sabem do seu potencial. Foi uma grande contratação e espero que ele, assim como eu, fique longe das contusões e possa nos ajudar bastante.

BNC: Ano passado seu nome foi envolvido em uma série de possíveis trocas, e neste campeonato a concorrência no garrafão do Cavs é imensa. Além disso, seu contrato pode chegar ao fim caso o Cleveland não exerça a opção de renovação. Como fica a cabeça do atleta sabendo que ele pode ser negociado a qualquer momento ou que os minutos podem cair drasticamente quando todos estiverem a disposição (Thompson, Zeller, Bynum, você)?
VAREJÃO: Sinceramente, não penso nisso. Nunca pensei. Penso em ser útil, em me doar ao máximo ao Cleveland, em ajudar a equipe, como sempre fiz. Já falei algumas vezes que a minha vontade é e sempre foi permanecer aqui. Não me envolvo quando surgem notícias ou boatos sobre trocas, deixo isso para o Cleveland e para os meus agentes. Temos um bom garrafão hoje e isso é fundamental para aguentar a temporada, para manter o nível e a equipe forte. Isso é muito bom.

BNC: Queria que você falasse sobre as três peças jovens do time, o número 1 Anthony Bennett (foto à esquerda), o russo Sergey Karasev, carrasco do Brasil em um Mundial sub19 recente, e o australiano Dellavedova. O que tem a dizer sobre eles?
VAREJÃO: São jogadores de muito potencial, jovens ainda, mas que podem e vão ajudar muito o Cleveland. Acho que conseguimos nos reforçar com bons garotos, que chegam cercados de muita expectativa e que podem corresponder, que vão ser importantes para a equipe. Mike Brown sabe trabalhar com jogadores novos também, isso conta muito. Eles vão ter espaço e confiança para se desenvolverem.

BNC: Há menos de um mês ocorreu a primeira partida da NBA aqui no Brasil. Como foi a repercussão aí nos EUA? Muita gente já comenta que o próximo que rolar aqui no país será com o seu Cleveland. Já pensou em como seria a recepção?
VAREJÃO: Ouvi muitos elogios. Não apenas sobre o evento, mas sobre o país, sobre os fãs, sobre as belezas do Rio de Janeiro. Sobre jogar com o Cleveland no Brasil, não pensei sobre isso. Vai, na verdade pensei, porque fiquei feliz de saber que haveria esse jogo no Brasil, fiquei feliz por isso estar acontecendo, porque é um sonho antigo dos brasileiros. E espero que esse comentário sobre o Cavs vire verdade. Ia ser maravilhoso. Todos aqui sempre perguntam sobre o Brasil, ainda mais com Copa do Mundo e Olimpíadas, sabem que é um lugar especial e seria uma boa oportunidade deles conhecerem o nosso país.

BNC: As vaias que o Nenê levou te assustam? Chegou a falar com o Nenê depois do ocorrido? O que você, mesmo de longe, achou da manifestação do público e de todo clima que acabou se criando?
VAREJÃO: Não falei com ele. Acho que não foi legal. Entendo que parte do público esteja sentido pela ausência dele de algumas convocações, mas se ele fez isso teve suas razões. Não estou aqui para julgar ninguém, defender ninguém, nem o Nenê, nem os fãs, acho que as vaias foram pesadas, ainda mais num momento tão importante, do primeiro oficial da NBA no Brasil. Torço para que tenha ficado apenas ali. É claro que ele ficou triste. Sem falar com ele depois do que houve, tenho certeza disso. Qualquer um ficaria. Mas espero que isso tenha passado. Temos competições importantes pela frente, Nenê é um jogador importante nessa caminhada para o Mundial, para as Olimpíadas e a torcida é fundamental para que a Seleção Brasileira possa fazer um bom papel principalmente nesses campeonatos. Temos um grupo forte e o apoio do torcedor brasileiro torna nossa seleção ainda mais forte.

BNC: Pra fechar, um assunto que não poderia faltar – seleção. Como você viu a eliminação do Brasil na Copa América? Foi um choque pra você? A CBB disse que irá procurar os atletas que atuam no exterior para gravar um vídeo em que eles (no caso vocês, atletas) se comprometem a jogar o Mundial de 2014. Isso chegou até você? É mesmo possível se comprometer com isso sem saber o que acontecerá até lá?
VAREJÃO: Fiquei chateado, como todos que estavam lá, como todos que fazem parte do grupo e que torcem pela Seleção Brasileira ficaram. Me procuraram, sim, e vou dar esse depoimento, sem problemas. Acho que esse não é um pedido meu, é um pedido do basquete brasileiro e eu estou entre os que querem ver o Brasil no Mundial. Se posso dar a minha parte de contribuição para que esse convite venha para o Brasil, vou fazer. Não pude estar na Venezuela, mas fiquei chateado e triste também. Não foram apenas os 12 que viajaram que perderam, todos que fazem parte do grupo, que gostam e que torcem pela Seleção Brasileira também perderam. Vou manifestar minha vontade de ir ao Mundial, como sempre estive à disposição da Seleção Brasileira. Sofri com as lesões ultimamente e espero não ter mais problemas nesta temporada. Nem quero pensar em lesões, quero pensar na temporada, em ter um bom ano e ver o Brasil na Espanha em 2014.

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