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Bala na Cesta

Titular, Tiago Splitter quer curar 'ressaca' do vice com título da NBA

Fábio Balassiano

29/10/2013 01h19

A temporada da NBA que começa hoje com três jogos (Pacers x Orlando, Heat x Bulls às 22h no Space e Clippers x Lakers às 00:30 já de quarta-feira) tem um brasileiro com reais chances de chegar à final da liga. É o mesmo que disputou, e bem, a temporada passada até o sétimo e decisivo jogo. Tiago Splitter, que completará 29 anos no primeiro dia de 2014, inicia seu quarto ano no melhor basquete do mundo ainda com o sabor amargo de ter perdido o título para o Miami Heat naquele tiro de Ray Allen no jogo 6 da Flórida (relembre aqui), mas ao mesmo tempo com confiança de sobra por ser o pivô titular do poderoso San Antonio Spurs, um dos favoritos a voltar a ganhar o Oeste. Conversei com ele ontem à tarde sobre a expectativa para a temporada que começa, para os texanos, na quarta-feira contra o Memphis, curiosamente o rival batido na decisão de Conferência passada por inapeláveis 4-0. Vamos ao papo completo (seleção, Popovich, toco do LeBron e tudo mais).

BALA NA CESTA: Como está a expectativa do time depois de tudo o que aconteceu no final da temporada passada? O título esteve muito, muito próximo e acabou não vindo.
TIAGO SPLITTER: A expectativa é grande, bem grande. Sabemos que temos que fazer exatamente o que fizemos no ano passado para conseguir o nosso objetivo, que é o título. Vamos trabalhar duro pra chegar lá. Mudamos muito pouco, em relação a elenco, e estamos prontos para o desafio. Mais um título para a franquia. É só nisso que pensamos.

BNC: Imagino que essas férias não foram comuns para vocês, atletas do San Antonio. O título esteve muito perto, né, todos sabemos. Você chegou a rever aquele jogo 6, aquele tiro do Ray Allen? Chegaram a se falar, os jogadores, durante as férias a respeito disso?
SPLITTER: Não, se falar especificamente sobre isso, não. Sobre o arremesso do Ray Allen, já vi, vi umas mil vezes e não aguento mais (risos). Está na cabeça de todo mundo, não tem motivo pra esconder. Nunca nos esqueceremos disso, mas não ficamos comentando, não. É do esporte, é da vida. Esse tipo de coisa machuca, dói, mas acontece. Era uma final de NBA, os melhores jogadores do mundo, não tem muito jeito. O que posso dizer é que estamos com fome, estamos famintos para que a temporada comece logo. A perda do título na temporada passada nos motiva a tentar, nesta, trazer o troféu para San Antonio. Estamos muito focados em conseguir isso nesta temporada. Todos nós que passamos pelo que passamos temos o mesmíssimo pensamento. O que passou no campeonato passado já passou. Não temos razão para ficarmos de cabeça baixa, hoje, com o que vivemos meses atrás. Temos fome de vitória.

BNC: E sobre você, como você individualmente está para esse campeonato? O que podemos esperar do agora titular absoluto da posição cinco do Spurs?
SPLITTER: Meu foco é sempre seguir melhorando para fazer parte desse time. A mentalidade aqui é sempre pensar coletivamente, pensar no grupo e eu acredito muito nisso também. Temos três jogadores excepcionais aqui (Manu Ginóbili, Tim Duncan e Tony Parker), e são eles que vão decidir mesmo. Não tem como fugir disso. Tenho minhas funções, meu jogo de pick and roll com Parker e Manu é uma das armas da equipe e sei muito bem do meu papel por aqui. Todos os jogadores que não os três que são os mais veteranos da franquia são coadjuvantes, fazem parte da rotação, possuem suas funções muito bem definidas e determinadas por toda comissão técnica.

BNC: Muita gente diz que você poderia ser mais ativo no ataque. Você concorda com isso?
SPLITTER: Olha, não existe limite para evoluir no basquete. Quanto mais você treina, quanto mais você joga, mais você melhora. Isso é óbvio e é uma regra que levo pra mim a vida toda. Mas aqui o Gregg Popovich (técnico) pede algumas coisas e temos que cumprir. É assim que a banda toca aqui. É óbvio que é bem diferente do que estava acostumado quando jogava na Europa, mas eu respeito, respeito a hierarquia. Tenho muito a melhorar, muito a evoluir e sei que até chegar ao ponto de decidir partidas preciso contribuir de outras formas. Somos um time, e sou uma engrenagem importante. É óbvio que gostaria de ter 25, 30 arremessos por jogo a minha disposição, mas não é assim que funcionam as coisas aqui. Na temporada passada já recebi mais bolas de costas pra cesta, já tive mais jogadas de um-contra-um, e aos poucos vou crescendo. Posso melhorar muito ainda na questão de rebotes e até mesmo nas assistências, assim como já evoluí nos lances-livres. Com os lances-livres, aliás, foi interessante. Eles mudaram toda a minha mecânica de arremesso. No começo sofri um pouco, mas no campeonato passado já estava bem melhor (Tiago saltou de 54% em 2011 para 71% em 2013). Aos poucos eu vou crescendo, melhorando no meu ataque e as oportunidades vão aparecendo. Manu, Tim e Tony têm uma história aqui e é natural que eles sejam as estrelas da equipe. Quanto a isso estou muito tranquilo.

BNC: O Leste se reforçou bastante, mas o Oeste continua sendo fortíssimo. O que você está esperando dessa temporada em relação aos rivais? Alguma coisa especial por enfrentar o Dwight Howard aí do lado, em Houston?
SPLITTER: Não, não. Howard é um grande jogador, físico pra caramba, mas não tem nada de diferente em enfrenta-lo. É mais um dos grandes pivôs que há nessa liga. Vai ajudar demais o Houston junto com o James Harden e o Chandler Parson, dois grandes jogadores. Acredito que os Rockets podem surpreender. No Oeste, pra mim, o grande favorito segue sendo o Oklahoma City Thunder, que só não foi muito longe na temporada passada por causa da lesão do Russell Westbrook. Eles mantiveram a base e são realmente uma grande equipe, favoritos ao meu ver.

BNC: E o Spurs, onde entra nisso?
SPLITTER: Eu nunca me coloco entre os favoritos (risos). Deixo isso para a imprensa e para os outros. O Oklahoma vem bem, o Clippers contratou o Doc Rivers, um dos melhores técnicos da NBA, o próprio Houston mesmo está empolgado. No Leste acho que o Miami segue como o time a ser batido, mas tem Indiana, Nets, Chicago e Knicks. Vai ser realmente uma temporada empolgante. Todos aqui estão bastante empolgados com o campeonato deste ano. Do treinador aos jogadores, todos estamos animados.

BNC: Falando no Popovich, você tem noção que muita gente, inclusive eu, perde horas e horas rindo das suas (dele) entrevistas no YouTube, né…
SPLITTER: (Risos) Sei, sei bem. A gente ri bastante também. Chega a ser engraçada a maneira que ele trata a vocês da imprensa. É totalmente distinta da forma que ele lida com os atletas. Aqui ele é um paizão, um avô, sei lá. Briga quando tem que brigar, mas nos protege muito também. Já são quase 20 anos como técnico, quase sempre chegando longe nos playoffs, você deve imaginar que as perguntas se repetem demais também. Quando chegamos no playoff, principalmente semifinal, final de conferência, é um absurdo o volume de perguntas, volume de gente querendo saber das coisas. Ele deve ficar um pouco cansado disso. O divertido é que ele chega no vestiário, pra gente, e diz: "Não falem besteira lá fora. Deixem comigo que eu falo com a imprensa" (Risos).

BNC: Você falou do Miami, certamente o maior dos favoritos ao título dessa temporada. Muita gente também não tira da cabeça o toco que o LeBron James te deu nas finais da temporada passada…
SPLITTER: Pois é. Faz parte, né. A NBA adora esses momentos, sabe promover o evento, sabe se promover também. A liga se vende muito bem, e é preciso respeitar. É o basquete. Aconteceu e é algo que a internet ama repetir inúmeras vezes.

BNC: Houve o primeiro jogo da NBA no Brasil por aqui, você chegou a ver? Alguma expectativa em jogar por aqui no próximo ano? O que achou das vaias ao Nenê?
SPLITTER: Sobre um possível jogo do Spurs, eu só li, mas não tem nada oficial. É óbvio que eu gostaria, adoraria sair um pouco dessa rotina aqui. Seria espetacular, mas não dá pra prever nada por enquanto. Sobre o jogo entre Washington e Chicago, sim eu vi daqui dos Estados Unidos mesmo. Foi uma vergonha o que aconteceu com o Nenê. Uma vergonha mesmo. A NBA preparou tudo com tanto carinho, o pessoal da NBA no Brasil se mobilizou tanto, se dedicou tanto para acontecer aquilo. O público misturou as coisas,  misturou as bolas entre clube e seleção. Aquele era um momento de celebração do basquete, celebração de um momento importante do basquete brasileiro perante a NBA. E tudo isso acabou ficando em segundo plano, infelizmente. Não conversei com o Nenê depois disso, mas obviamente ele ficou triste. Ninguém gosta de ser vaiado, ainda mais em seu próprio país. Ele teve todos os motivos do mundo para não jogar, e em 2012, na Olimpíada, quem esteve lá viu o que ele sofreu para defender o Brasil. O cara tomou injeção direto, quase todos os dias, e a temporada passada dele foi cheia de problemas físicos. Até hoje ele não se recuperou direito, é só ver que ele ainda não está bem. Na vida você precisa tomar algumas decisões, e ele agora está jogando pelo time que lhe paga. O povo não entende, vai criticar, paciência. Mas achei uma vergonha o que aconteceu. Misturaram as estações entre clube e seleção e ficou um clima muito chato. Ficou claro, pra mim, que faltou uma comunicação maior entre todas as partes para evitar o que acabou acontecendo.

BNC: Pra fechar, uma pergunta que se não quiser responder não precisa: você acabou não jogando pela seleção brasileira este ano, teve até uma situação chata de você e Anderson terem que se justificar nas redes sociais e o Rubén Magnano (técnico) criticando vocês publicamente. Como fica isso pra 2014? A CBB já te procurou para enviar um vídeo, carta, sei lá, pedindo o convite para o Mundial de 2014?
SPLITTER: Sim, a Confederação já chegou a me contatar e farei o que estiver ao meu alcance para ajudar na questão dos convites para o Mundial. Para ser sincero, já estou cansado de falar sobre essa situação toda. O grupo não encaixou, o time não encaixou e não conseguiu a vaga na Copa América. Vi tudo e fiquei bem triste. Agora é esperar o futuro para ser convidado. Temos que limpar nossa imagem, limpar a barra do basquete de todo Brasil. Melhoramos nos últimos anos e precisamos seguir nessa linha. Quanto ao Magnano, acho que ele foi infeliz em relação ao que disse no calor daquele momento, mas não há nada contra ele. Foi infeliz, mas sou jogador e não tenho problema algum em trabalhar com ele novamente no próximo ano. Vamos conversar para melhorar e pronto. Agora é esperar pelo convite no Mundial, só isso.

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