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Bala na Cesta

Aos 22 anos, Tati Pacheco se firma como titular da ala na seleção

Fábio Balassiano

30/09/2013 15h30

No primeiro dia de agosto de 2009, a seleção feminina Sub-19 venceria a República Tcheca por 75-70 na prorrogação para terminar o Mundial da categoria, disputado na Tailândia, na nona colocação. Com uma boa geração, foi um resultado decepcionante, e muita gente se perguntou o que aconteceria com aquele grupo. Haveria continuidade na categoria adulta? Elas seriam aproveitadas também na seleção principal?

O tempo passou, e das 12 meninas que estiveram em Bangkok em 2009 seis ganharam o bronze com a seleção brasileira feminina na Copa América de Xalapa, no México, no sábado passado (Débora, Damiris, Fabiana, Tainá, Patricia e Tatiane). E foi justamente ela, Tatiane, a que mais se destacou na competição de 2009, tendo terminado o campeonato com 12,8 pontos (cestinha brasileira) e 3,9 rebotes, a que mais me chamou a atenção na Copa América (12,2 pontos, 2,5 rebotes, 1,8 assistência, 58,6% nos tiros de quadra e soberbos 50% nas bolas de fora).

Depois daquela competição na Tailândia eu conversei com uma menina sorridente, porém tímida pra caramba (veja aqui), e falamos sobre o problema que seria a transição juvenil-adulto para ela, que não disputaria o Nacional daquele ano. E assim foi feito. Seu time, o Jundiaí, não jogou a competição, Tati ainda por cima operou o joelho (parou oito meses), ficou um pouco estagnada e algumas das meninas de sua geração caminharam mais rápido (principalmente Patricia e Damiris, eleita a melhor do Mundial Sub-19 dois anos mais tarde, em 2011, no Chile).

O tempo passou, e Tati só foi jogar uma competição nacional na temporada 2011-2012 com São José (ou seja, dois anos depois daquele Mudnial Sub-19). Por ser uma caloura, impressionou-me demais vê-la em quadra, por sua volúpia, por sua intensidade, por sua força em direção a cesta e principalmente por seu jogo solto, fluído, parecendo aquelas meninas que jogam basquete de rua em uma quadra de basquete (tal qual acontece nos Estados Unidos com algumas das que dominam o jogo atualmente – sem comparar os talentos, por favor, mas é o TIPO de basquete que apresentam Maya Moore, Seimone Augustus e Diana Taurasi, por exemplo). Ela tinha 21 anos, e seus 8,3 pontos de média em ano de novata pareciam preceder algo ainda melhor (foram 26,3 minutos de média).

No ano seguinte, ainda em São José, Tati foi reserva de novo (desta vez de Ariadna), suas pontuação cresceu muito pouco (9,3 pontos), seu tempo de quadra diminuiu (22,3) na temporada regular e eu fiquei com medo de aquela menina de 1,80m ter caído na vala comum do basquete feminino brasileiro. Vieram as finais, seu time foi eliminado pelo Sport, que acabaria campeão, mas nas semifinais, mas com a contusão da cubana Ariadna ela deu sinais de que, sim, aquela menina das infiltrações insinuantes, dos dribles rápidos em direção a cesta e da defesa forte e rápida poderia vingar (fez 19 pontos no jogo 1 e 10 no jogo 2, sem se importar muito com a marcação da norte-americana Alex, solenemente ignorada pela ala em cada uma de suas investidas a cesta).

Tatiane terminou a temporada valorizada, foi contratada pelo próprio Sport (onde jogará ao lado de Tiffany Hayes, que se destaca atualmente no Atlanta Dream, da WNBA) e convocada por Zanon para preencher uma lacuna importante na seleção adulta – a ala. Era uma aposta, e ninguém (nem ela, nem o técnico e nem quem via de fora) sabia o que aconteceria com a jovem que vestiria a camisa 10 da seleção adulta pela primeira vez com tanta importância. Ela jogou bem o Sul-Americano, até (8 pontos de média), mas todo mundo sabia que poderia ir além, jogar mais, ser mais incisiva, mais "folgada", mais agitada em relação a sua conhecida intensidade (faltava um pouco de "fogo", sobrava a timidez que citei acima).

A Copa América veio, e Tati, titular mesmo com as experientes Karla e Chuca no retrovisor pedindo passagem, começou muito bem (fez 12 e 15 pontos nos dois primeiros jogos). Sentiu um pouco o jogo contra a Argentina, não foi tão bem contra Cuba, mas no jogo decisivo, no jogo mais importante contra Porto Rico, pela vaga no Mundial e pelo bronze na competição, ela desencantou. Deu cinco assistências (o máximo entre todas as da seleção na partida), apanhou cinco rebotes e saiu-se com 18 pontos para liderar a equipe (acertou suas cinco tentativas de bolas de fora para terminar o torneio de forma consagradora).

Formada pela ótima Kátia de Araújo no Círculo Militar, de São Paulo, Tatiane ainda tem muito o que melhorar em termos técnicos (seu arremesso pode sair mais "de cima", sua defesa pode ser ainda mais agressiva pelo porte físico que possui, seu passe pode ser mais rápido, seu arsenal ofensivo precisa de ajustes e muito mais), mas está muito claro que o Brasil ganhou uma ala com jogo fluído, plástico e bonito de se ver depois dessa Copa América em Xalapa. O principal de tudo, agora, é ela ser mais ativa, entender que o talento que ela tem é ótimo, e que assumir o jogo em momentos críticos será fundamental para sua continuidade não só no alto nível dos clubes mas principalmente na seleção (jogue a timidez e a inibição pra lá, menina!). Habilidade e potencial atlético ela já provou que possui, agora é tentar atuar em alto nível por um período mais longo em todas as partidas (sua inconstância é natural das jovens, e de quem não atua muitas vezes em competições de nível alto – ela vai sentir isso na pele no Mundial de 2014, podem ter certeza).

A tal espinha dorsal que Zanon tanto buscava depois de seu primeiro ato como técnico começa a se desenhar. Adrianinha será a armadora titular. Érika e Damiris, a dupla do garrafão. E agora aparece Tati, 22 anos, para assumir um pouco da pontuação de fora do garrafão. Deu gosto vê-la jogando contra Porto Rico. Dá gosto ver que uma menina tão determinada e focada está chegando lá.

Que ela continue assim. O basquete feminino e ela só têm a ganhar.

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