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Bala na Cesta

Coordenador do Fluminense explica convite pro NBB6 e afirma: 'Não fizemos nada ilegal'

Fábio Balassiano

10/06/2013 10h33

No dia 26 de maio de 2002, o Fluminense fazia seu último jogo na elite do basquete brasileiro. Apesar dos 43 pontos de Marcelinho Machado (hoje ídolo do rival Flamengo), o tricolor perderia para o Vasco da Gama por 101-86 e seria eliminado por 3-2 nas quartas-de-final do Nacional daquele ano. Onze anos depois, Marcelo Bunte, o Tchelo (foto), assistente-técnico de Pingo naquele time (Alberto, Espiga, Keith Nelson, Magu, Gil, Marcelinho, Bernardo etc.), teve a missão de recolocar o clube no NBB6 como Coordenador do Basquete do Fluminense. Na volta de São Paulo, onde na semana passada o tricolor das Laranjeiras teve aceito o direito de pleitear a vaga na competição da próxima temporada, o carioca se emocionou com a notícia, chegou às lágrimas, recebeu ligações de muitos amigos e viu que o trabalho estava apenas começando. No clube há 18 anos, Tchelo, de 37 anos, conversou com o blog a respeito da celeuma envolvendo os convites, a formação do time e muito mais. O papo, completo, sem cortes, você lê abaixo.

BALA NA CESTA: Antes de falar sobre o convite em si, e vamos chegar lá, queria que você falasse sobre como começou essa história de o Fluminense voltar a pensar em basquete adulto.
TCHELO: Isso já vem de muito tempo, e houve uma série de encontros entre a Garra (empresa de Marketing responsável por toda a parte de gestão do basquete profissional do clube) e o Fluminense. Houve conversas, interesses, mas sempre, no Flu e na empresa, tivemos muito cuidado em não onerarmos a agremiação em nada e principalmente em termos muito cuidado com a marca, que sabemos ser fortíssima. Fluminense e Garra Marketing assinaram um contrato de quatro anos e meio de gestão, e começamos a trabalhar no começo de 2013 com quatro etapas muito claras: Copa Brasil Sudeste, Super Copa Brasil, Quadrangular de Acesso ao NBB (que depois virou Triangular) e NBB. Recorremos ao mercado para montar o time, cumprimos muito bem as três primeiras etapas e depois nos apresentamos ao Conselho de Administração do NBB para concluir a quarta. O que posso te dizer é que tivemos resultados muito bons, muito acima do esperado, em termos de ativação de marca, mídias sociais, envolvimento com imprensa, torcedores, tudo foi muito bom e acho que fundamental para nossa possibilidade de pleitear a vaga no NBB6.

BNC: Ainda antes de entrar na questão do convite em si, uma pergunta: como foi feita essa apresentação para a Liga Nacional na semana passada? Foi você quem fez a apresentação?
TCHELO: Fui eu, sim, que representei o clube. Na verdade você não participa da votação, porque ela é feita pelos membros do Conselho da Liga. Fui lá, apresentei o nosso projeto e aguardei o resultado.. Tínhamos uma apresentação-base do projeto, sobre patrocinadores, mídia, exposição, tudo, mas na semana passada sabíamos que tínhamos que fazer algo mais institucional sobre projeto e clube. Além disso, acrescentamos pontos administrativos, estruturais e técnicos também. Deu tudo certo, e voltei de São Paulo muito, muito feliz. Fui de carro, e no caminho até a minha casa foram inúmeras ligações, torpedos, tudo. Foi um dia muito emocionante, posso te dizer. Foi a realização de um sonho que estava conosco há alguns anos já.

BNC: A última antes do convite, prometo: na entrevista que fiz com o Sérgio, gerente da Liga Nacional, ele me disse que o Fluminense tem dois patrocinadores engatilhados – uma Universidade e uma empresa de embalagens. Quando serão fechados os contratos de patrocínio? Além disso, Grajaú e Tijuca serão as casas do Fluminense no NBB6?
TCHELO: Temos contato não só com estas duas empresas que você cita, e cujos nomes me reservo ao direito de não revelar agora, mas também com algumas outras. Há a intenção, o primeiro contato com todas elas, e acredito que no máximo em 15 dias estará tudo fechado, tudo acertado. Nossa estratégia é não falarmos em nomes, nem de jogador, nem de técnico e nem de apoiadores, até que tudo esteja fechado. Assim que tiver, a imprensa ficará sabendo sem problema algum. Em duas semanas acredito que tudo estará pronto, finalizado. Temos a intenção de mandar nossos jogos em Grajaú ou Hebraica, na verdade. Não podemos descartar o Tijuca, claro, que é uma casa conhecida, e deixamos o Maracanãzinho de sobreaviso porque caso precisemos de uma casa maior mandaremos as nossas partidas lá. É algo que também está sendo estudado neste momento.

BNC: Vamos lá a questão polêmica dos convites. A entrevista estava muito tranquila, né. Vamos lá. Por que o clube, que tentou entrar na quadra mas não conseguiu, não voltou a tentar entrar via basquete, via quadra? Por que tentar um convite e não via Segunda Divisão para entrar da forma esportiva em 2014?
TCHELO: Na verdade precisamos voltar um pouco para entender essa história toda. O Fluminense tenta entrar no NBB há muito, muito tempo. Já há um interesse de nossa parte há mais de dois anos, creio que desde 2010 já estamos conversando internamente sobre isso para te ser sincero. Não é algo novo, portanto. Vimos que Tijuca, Liga Sorocabana, Palmeiras e Mogi entraram via Super Copa Brasil, e sabíamos que deveríamos entrar assim também. Isso é um fato, e foi assim que começamos a nossa trajetória. Como te falei antes, tínhamos quatro etapas, e fomos até a terceira na quadra. O que acho que chamou a atenção foi não só a nossa solidez esportiva, com um time bem bacana para a Super Copa Brasil, mas todo o envolvimento que conseguimos trazer em tão pouco tempo para o basquete do clube, do Rio de Janeiro e até mesmo nacional. Enchemos o ginásio do Tijuca duas vezes no triangular de acesso, e isso é muito importante ser dito. A torcida abraçou a causa também, entendeu o momento fundamental de crescimento que passa o clube e também a modalidade. Aí acho que casaram duas coisas. O interesse da Liga e a gente querer entrar. Eles nos ligaram depois do triangular e pediram para que apresentássemos o projeto lá. Quero deixar claro, aqui, que isso não está fora do estatuto nem do esporte e nem da Liga Nacional. Entramos de forma legítima, legal, tal qual entrou outro clube que fiz parte do projeto, o Basquete Cearense, cujo sucesso você pode ver na edição do NBB que terminou agora. Olha o sucesso que aconteceu no Nordeste, a população enchendo ginásio, criança querendo escolinha pra jogar, olha o legado que será deixado para o esporte e para a população. Pode ter certeza que não somos um projeto de acaso, somos um projeto de longo prazo e cujo legado será visto. Em dois, três anos tudo o que plantamos será colhido, temos certeza disso. Nossa intenção é acertar, é fazer direito, é ir bem e ajudar o basquete.

BNC: Você não respondeu. Por que não tentar de novo via segunda divisão/Super Copa Brasil? Por que aceitar o convite?
TCHELO: A gente sempre quis ser convidado. Sempre quisemos jogar o NBB. E depois do triangular a Liga Nacional nos solicitou uma apresentação clara e objetiva sobre nossos interesses em entrar no NBB. Nunca emitimos nada contra isso. Sempre dissemos que queríamos entrar, então não houve surpresa. E para ser bem sincero, e sem desmerecer ninguém, veja o barulho que foi causado pela simples entrada do Fluminense na Super Copa Brasil, em termos de divulgação e público, e compare com outros times, como por exemplo o Palmeiras, que já estão no NBB. Mais uma vez: ninguém comprou vaga. Fomos convidados a apresentar um projeto, apresentamos e agora precisamos comprovar toda a nossa força.

BNC: Cara, desculpe insistir, eu vou ser chato aqui. Por que aceitar um convite e não jogar de novo para ter sucesso? Desculpe a insistência, mas você sabe que o Fluminense já tem um histórico chato disso de subir de uma segunda divisão para a primeira fora de campo, e isso acaba sempre voltando quando um caso como este do NBB aparece. Desculpe insistir, mas preciso de uma resposta mais clara.
TCHELO: Tudo bem, sem problemas. Acho que há algumas razões bem simples também. A primeira é que ainda não existe, de fato e concreta, a segunda divisão. A gente não tem como pagar por algo que ainda não existe, por algo que ainda não saiu do papel. Formar opinião é algo muito complicado, Fábio. Estão dizendo que a gente virou a mesa. Por favor, não fizemos nada disso. Jogamos uma competição da CBB por três meses, e fomos convidados pela Liga Nacional. São duas instituições diferentes. Não deu pela via esportiva, nossa primeira tentativa. Deu pela outra, também legal, também legítima, também bem clara para todo mundo. Não condeno quem não entende assim, mas normalmente estas opiniões são coisas de futebol. E aqui não tem nada a ver com futebol, que isso fique claro. Vincular futebol ao basquete, isso não tem nada a ver. Apenas aceleramos o processo. O basquete brasileiro carece de uma segunda divisão, isso é um fato. Mas ela ainda não existe. É necessária, mas ainda não existe. Se existisse, talvez nem houvesse o convite.

BNC: Há uma questão importante também, que muita gente tem colocado. Este é um projeto do clube Fluminense ou de uma empresa de marketing esportivo (Garra Marketing)?
TCHELO: Este é um projeto do Fluminense, do clube Fluminense. Sou funcionário do clube há 18 anos e represento o clube. O que há é uma co-gestão, uma gestão dupla. O Fluminense entra com toda a parte técnica. A Garra, com a parte administrativa, de marketing, de imprensa, redes sociais, essas coisas. O mais importante é o seguinte: projeto de longo prazo e sem onerar o clube em absolutamente nada. Sempre tivemos essa preocupação, e temos feito assim desde o começo. Não queremos criar passivo algum, nada. Estamos entrando com muita responsabilidade, pé no chão e não podemos criar expectativas exacerbadas em relação ao nosso desempenho no primeiro ano, certamente o mais difícil de todo o projeto. É tudo novidade, é tudo inédito, e precisamos caminhar com muita tranquilidade em relação a isso.

BNC: Sobre o time em si, como ficará a montagem? O técnico não será o Márcio Bronquinha, certo?
TCHELO: O Márcio seguirá trabalhando conosco, mas em outra função. Estamos procurando um técnico, e posso te adiantar que temos dois nomes em pauta – um brasileiro e um argentino. Mais que isso não posso falar. Sei que queremos um perfil de construtor, de alguém que chegue com a gente e nos ajude a construir um caminho bacana no basquete. Alguém que entenda, também, que no primeiro ano haverá problemas, obstáculos a superar. Queremos alguém que dirija bem o time, mas que também se envolva com ele de uma forma maior. Sobre o time, manteremos o Facundo Sucatzky (foto à direita), o Mafra, o Matão, o Perez e o argentino Juan Torres. Há conversas com outros jogadores, alguns de fora do país inclusive, e em breve teremos novidades. Repatriar nomes faz parte do nosso projeto, e isso já está em andamento.

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