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Bala na Cesta

Mais um pouco sobre a falta de cultura esportiva que há no Brasil

Fábio Balassiano

05/04/2013 11h30

Como vocês devem saber, no sábado passado estive em Americana para ver o primeiro jogo da final da LBF entre Americana e Sport-PE (vitória das pernambucanas, que podem ser campeãs nacionais pela primeira vez neste sábado a partir das 10h). Sempre gosto de ir ao ginásios, mas no sábado saí do Centro Cívico um pouco chocado.

Não com a estrutura do ginásio, com a torcida de Americana, nada disso. Na apresentação dos times, Alessandra teve seu nome falado no microfone e nenhuma reação da platéia foi vista. No meio da partida recebi uma mensagem: "Bala, a Cintia Tuiu está aí. Em cima de você". E cinco minutos depois: "A Janeth também, veja lá em cima". E eu olhei. Tentei manter contato com Cintia (na foto, ao centro), mas ela não me avistava. Pedi a um menino que sentava no lance da arquibancada abaixo do seu para cutucá-la, e ele me perguntou: "Qual o nome dela?". Depois tentei olhar pra Janeth, mas não consegui. Ela estava em um dos últimos lugares do ginásio com crianças (não sei se parentes) espremida como se fosse uma anônima. Senti como se tivesse levado um soco na boca do estômago.

Na verdade, não eram "só" Alessandra, Cintia e Janeth que lá estavam. No sábado passado estavam em Americana nada menos que seis campeãs mundiais em 1994 (Helen, Adriana Santos, Janeth, Cintia Tuiu, Alessandra e Roseli, com quem encontrei no estacionamento – na foto você vê Alessandra, Cintia e Adriana, agora assistente-técnica em Americana). Não sei se as pessoas têm noção do que significa isso, mas eu vou repetir: em um mesmo ambiente havia SEIS campeãs mundiais, seis mulheres que ajudaram o Brasil a entrar no seleto grupo de campeões mundiais de basquete, seis mulheres que, junto com a Rússia em 2006, foram as últimas a vencer os EUA nos últimos 20 anos em competições Classe A (Mundial ou Olimpíada), seis mulheres que fizeram parte da geração mais vitoriosa do basquete brasileiro desde Wlamir e Amaury (com exceção de Helen, todas conquistaram a prata em Atlanta-96, e Janeth, Alessandra, Cintia, Helen e Adriana Santos ainda tiveram talento para abocanhar o bronze em Sydney-2000).

Pedir algum tipo de homenagem a Liga de Basquete Feminino, que mal consegue organizar o campeonato, parece demais. Pedir qualquer coisa a Confederação, que vira e mexe esquece de datas importantes de conquistas brasileiras (que dirá dos artistas…), idem. Mas algo precisa ser feito para que mitos do basquete (e não uso a palavra 'mito' por qualquer coisa) não sejam tratados como anônimos, como meros torcedores de arquibancada em uma final de LBF.

Não cultivar o passado já é um enorme erro em qualquer tipo de situação ou época. Não relembrar as glórias, e quem fez essas glórias acontecerem, em um momento de terra arrasada (como é na atualidade), nem que seja para mostrar quão bom já foi o basquete feminino, é um acinte, um disparate, um tiro no pé.

Não sei exatamente o que eu, deste canto, posso fazer, mas voltei de Americana feliz por ter visto um ginásio cheio em uma partida de basquete feminino e triste por saber que dentro do Centro Cívido havia seis campeãs mundiais – e quase ninguém sabia quem eram elas.

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