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Bala na Cesta

A escolha de Zanon para a seleção feminina e o urgente trabalho de renovação que deve ser feito

Fábio Balassiano

29/03/2013 01h55

Como você já deve saber, Zanon (foto) é o novo técnico da seleção brasileira feminina de basquete. A notícia foi o primeiro ato de Vanderlei como Diretor Técnico também das meninas e merece elogios. Mas este post precisa ser dividido em duas partes.

Em primeiro lugar, Zanon é de fato o melhor nome para assumir a seleção feminina. Tem experiência em time adulto, convive em uma equipe que tem uma divisão de base forte, é vencedor  (são inúmeros títulos em Americana, time que dirige há três anos com maestria), é um indignado (no sentido de quer sempre inovação, evolução e mudanças) e o cara que foi capaz de mexer na deteriorada estrutura tática e de treinamentos do basquete feminino brasileiro.

Foi ele que introduziu sistemas novos de treinamento para sua equipe (é só conversar com as meninas de Americana e ouvir o que elas têm a dizer – no sábado, na decisão da LBF, eu farei isso ao vivo), foi com ele que o basquete brasileiro voltou a ver defesas fortíssimas, foi com ele que evoluções técnicas foram vistas em pouquíssimo tempo (o melhor exemplo é o de Karla, ala que arremessava compulsivamente antes e que agora tem um punhado de jogadas e leitura de jogo acima da média). Ponto para Vanderlei, portanto.

A questão do basquete feminino, porém, não pode parar por aí, não. O esporte precisa ser ampliado, precisa de uma reformulação urgente – de ideias, de nomes, de times, de tudo. Sei que Vanderlei está chegando agora, é o responsável "apenas" pela parte técnica (e isso já é coisa pra cacete, por isso as aspas), mas obviamente seu trabalho vai "resvalar" na pouca "capilaridade" de equipes (seja na base, seja no adulto), na pouquíssima quantidade de boas meninas praticando a modalidade, na reinante pequenez de pensamento sobre o esporte que há entre dirigentes, técnicos e até jogadoras.

É um trabalho, portanto, que não termina com a contratação de Zanon (mas sim começa). E aí acho que Vanderlei precisará de ajuda, precisará de alguém com quem possa dialogar diariamente para sua tomada de decisões. É claro que ele não tem conhecimento sobre o universo do basquete feminino (e isso não é uma crítica, mas uma constatação de alguém que jogou e dirige o masculino há anos) e neste começo ele precisará de ajuda. Zanon será o comandante à beira da quadra e terá que começar uma urgente e necessária renovação com atletas, mas é necessário um nome para organizar todas as categorias, alguém com conhecimento de causa e com quem ele (Vanderlei) terá que dialogar diariamente.

Miguel Ângelo da Luz (campeão mundial e prata em Atlanta-96) é um bom nome, sem dúvida alguma, mas eu pensaria um pouco diferente. Maria Helena Cardoso (na foto à direita) seria a minha escolhida. Adoro ela, mas não é por isso que digo que ela é o nome mais indicado para a função, não. Maria Helena ajudou a formar (essa é A palavra que precisa ser dita na Confederação neste momento) a melhor geração do basquete feminino brasileiro em BCN e Piracicaba, conviveu com estrelas como Paula, Hortência e Janeth, não tem medo de lidar com estrelas (lembro até hoje da bronca que ela deu em Iziane, lá em Madri, quando a ala se negou a entrar em quadra no Pré-Olímpico de 2008) e entende como poucas dos fundamentos do jogo. Daria suporte a Zanon, reporte a Vanderlei e traria consigo um enorme respeito das mais jovens (base) e das mais experientes (adulta). É o nome perfeito, ao meu ver.

Se começar com um técnico de bom nível como Zanon na seleção feminina é uma ótima notícia, eu só espero que as mudanças no basquete feminino não parem no técnico, não terminem com a aquisição dele. É importante colocar em perspectiva e ter em mente: o basquete feminino do Brasil agoniza há 10, 15 anos, e não será um treinador na beira de uma quadra adulta que fará com que a situação da modalidade mude (e nem é pra ser isso mesmo).

Que a CBB arregace as mangas, dê subsídios para Zanon trabalhar (acho que fará isso), que enfim apresente um plano para estruturas/planejar/organizar o basquete e que renove as ideias e os conceitos da modalidade por aqui. Já são 10, 15 anos ignorando as meninas. Outro ciclo olímpico assim e o futuro reservará outro fiasco em Mundiais, Olimpíadas e Nacionais às moscas.

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