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Bala na Cesta

Passada a Olimpíada, fica a pergunta: a Confederação aprendeu as lições de Londres?

Fábio Balassiano

13/08/2012 00h47

Confesso que não é fácil escrever um dia depois de terminar a Olimpíada (vou tentar, aqui, ver se consigo escrever dos Paralímpicos também), e imagino que pra vocês lerem também, mas já faz quase uma semana que a seleção masculina perdeu da Argentina em Londres e mais tempo ainda que a feminina foi eliminada ainda na primeira fase. Não sei o que está sendo pensado pela Confederação Brasileira para o próximo ciclo olímpico, mas muita coisa precisa mudar. Vamos lá a alguns pontos (não pela ordem de importância, diga-se):

1) Não é porque sou um profissional da área, mas o lado de comunicação e marketing da entidade máxima precisa mudar muito. A CBB só colocou, via Netshoes, camisas para serem vendidas com a competição rolando – e camisa de apenas uma cor, com apenas um nome nas costas. Pouco, não? Isso, claro, sem falar do site, que foi remodelado, mas ainda assim fica longe de atender aos anseios do público que (ainda) consome a modalidade. Eu não sei se a Confederação notou, mas a galerinha que (ainda) ama basquete vive na internet, e criar um ambiente ela (essa galerinha) é básico, elementar.

Isso, claro, sem falar em anúncios básicos em jornais ou revistas falando que a seleção masculina estava voltando às Olimpíadas. Nada foi feito, embora, é bom que se destaque, José Carlos Brunoro, que trabalha na CBB tenha exibido, orgulhoso, um anúncio publicitário de seu time de futebol que subiria a primeira divisão de futebol aqui no Rio de Janeiro, quase na mesma data da estreia olímpica do Brasil (bizarro!) Que tal a Confederação começar a pensar nisso?

2) Na parte de planejamento, já passou da hora de a CBB conversar, trocar uma ideia com os clubes formadores, que, como se sabe, estão definhando. E sem formação, vocês sabem, o produto final, que já não é dos melhores, ficará ainda pior. Ninguém aqui está dizendo para Confederação e suas respectivas federaçoes bancarem tudo e tirar a responsabilidade das agremiações, mas algo precisa ser feito para que os clubes voltem a querer investir no basquete com condições disso.

No sábado eu comentei aqui sobre o vice-campeonato olímpico da França entre as meninas. Vale a pena repetir pra mensagem ficar bem gravada: "A conquista da prata não vale 'só' pela medalha, mas sim pela continuidade do trabalho com uma geração muito boa. Para se ter uma ideia, em 2003 as francesas foram medalha de bronze no Mundial Sub-21 da Croácia. Daquele time, cinco estiveram na Olimpíada (Godin, Gomis, Dumerc, Ndongue e Lepron). Ou seja, houve sequência de trabalho. Ah, sabe quem ficou com a medalha de prata naquele Mundial de 2003? O Brasil. Sabe quantas meninas de nove anos atrás estavam nos Jogos de 2012? Apenas Érika e Silvia Gustavo de um elenco com muitas atletas que, com menos de 30 anos, já PARARAM de jogar. Explica muita coisa, não?".

3) Na questão da popularização, a CBB precisa apresentar algum fato novo para trazer a meninada que começa a praticar esportes para o basquete. Eu não sei se a entidade máxima percebeu, mas o vôlei de quadra conseguiu ouro e prata (sexta olimpíada SEGUIDA com medalha – muita coisa!) e deve continuar a dar as cartas por aqui. Há espaço para todos os esportes, mas em recente entrevista ao Sportv, Ary Graça, (ótimo) presidente da CBV disse que o orçamento de sua Confederação corresponde a "50% do da CBF". E vocês conseguem imaginar o quanto isso representa, não? Pois então. Com uma receita que gira em torno de R$ 25 milhões/ano, a Confederação de Basketball tem obrigação de apresentar um plano decente de iniciação da molecada. E pra ontem.

4) Na parte técnica, é bom a CBB abrir o olho principalmente com as meninas (na próxima semana começa aqui o especial sobre o basquete feminino brasileiro – serão sete capítulos). O basquete que se joga aqui é atrasadíssimo, e a capacitação dos treinadores do Brasil deve passar por um ajuste fino muito rápido. Muita gente viu a Olimpíada e se perguntava se era o mesmo esporte que a gente assiste por oito, nove meses em LBF e NBB – e a resposta, na prática, é não, claro. Formar times, e técnicos, de alto nível demora, e talvez no basquete demore ainda mais. O foco, para uma transformação técnica grande e notável por aqui não aconteceria até 2016 (não dá tempo), mas precisa começar o quanto antes.

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