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Bala na Cesta

Coluna ExtraTime: Ida de Ray Allen pro Miami reforça Era da união de estrelas na NBA

Fábio Balassiano

11/07/2012 11h30

"Eles estão enganando o jogo". Foi assim que eu recebi a informação da ida de Ray Allen para o Miami Heat na semana passada. Um amigo, que mora fora do Brasil, foi duro, mas ele tem boa dose de razão.

Nos Whatsapp's seguintes, depois de eu perguntar o porquê de uma mensagem tão enigmática, ele seguiu: "Isiah Thomas demorou uma vida toda para conseguir um título, e não trocou o Detroit por nada – Joe Dumars idem. Patrick Ewing terminou sem anel, e não trocou o Knicks pelo Miami por nada – e é venerado em Nova Iorque até hoje. O que está acontecendo atualmente é uma deformação, uma anomalia. Não é a franquia que desiste do jogador, mas o jogador que troca de time para um grande rival sem nem pensar no que está por trás disso tudo. Ray Allen tem título, fama, recordes e uma reputação que, se ele se aposentasse, garantiriam a ele facilmente um lugar no Hall da Fama e no coração dos torcedores do Boston. Ele pode ter jogado a segunda parte disso tudo no lixo".

Alexandre, meu amigo, tem razão. Estamos presenciando a era da união das estrelas. Se, como ele disse, é uma 'deformação' eu de verdade não consigo afirmar tão categoricamente, mas não é tão normal assim a gente ver um cara que fazia parte de uma franquia que tinha uma rivalidade cortante nos últimos anos trocar de casa justamente para o do vizinho até então detestado (caso parecido é o de Steve Nash, que duelou contra os Lakers em partidas históricas e agora vestirá o amarelo da Califórnia).

No livro 'When The Game was Ours', Larry Bird conta que uma vez um jogador muito famoso (ainda em atividade) perguntou a ele o que deveria fazer para evoluir. Seco, Bird disse: "Vá ao supermercado, vai lavar seu carro em um lava-jato, vá ao cinema. Saia de casa e conheça o mundo. Vocês, atletas milionários logo no primeiro contrato, vivem em uma bolha cercada de assessores e aspones de todos os lados e não conhecem o mundo. O dia que entenderem que uma decisão de vocês movimenta e influencia milhões de pessoas talvez vocês descubram o que eu e Magic passamos nos anos 80 e o que Jordan viveu uma década depois."

Bird ainda não se acostumou, mas 'deformações' como a de Ray Allen têm acontecido muito de uns tempos pra cá (pouca gente lembra, mas Shaq terminou a sua carreira no Boston).

Aconteceu, e este talvez tenha sido o estopim, há dois anos, quando LeBron James decidiu levar seus talentos para South Beach em uma atitude que foi criticada pela velha guarda (Jordan, Magic, o próprio Bird, Jabbar etc.) por causa de sua forma e conteúdo. Mas está claro: acontecerá cada vez mais daqui pra frente, gostemos disso ou não.

São mimados jovens ansiosos e sedentos por potes de ouro e anel nos dedos – seja lá com que meios eles usem para chegar aos fins que eles querem, anseiam.

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Coluna originalmente publicada em 09.07.2012 no ExtraTime, site hospedado no UOL.

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