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Bala na Cesta

Vitor Faverani segue brilhando na Espanha, mas é ignorado na seleção - como entender?

Fábio Balassiano

28/05/2012 17h49

No jogo que fui entre Barcelona e Valencia na quinta-feira passada em Barcelona, válido pelas semifinais da Liga ACB (triunfo dos donos da casa por fáceis 84-57), um jogador chamou a atenção no ginásio. Foi o pivô Vitor Faverani, que anotou 19 pontos, cinco rebotes e 19 de eficiência. Ontem, também em Barça, os valencianos deram o troco, empataram a série com os 81-76 e viram o gaúcho novamente se sair muito bem com 15 pontos e três rebotes.

E Vitor, de fato, me impressionou nas duas partidas Ativo no ataque (os seis primeiros pontos dos laranjas foram dele no jogo 1) e bem presente na defesa, o pivô sempre foi bem acionado pelos armadores para participar do jogo (seja com passes para jogadas de um-contra-um, seja para jogadas de bloqueio ou pick). De quebra, ainda deu uma enterrada sensacional que foi aplaudida pela torcida do Barcelona (aqui o link – vejam com 01:35).

Não consegui falar com Vitor depois da parida inicial da série, mas algumas coisas precisam ser ditas. O jogador fez o que fez com uma fascite plantar. Tem jogado no sacrifício e com muita dor há quase dois meses, o que só aumenta o seu valor. Ele tem propostas para participar das Ligas de Verão na NBA (dizem por lá que Serge Ibaka o recomendou para o Oklahoma). E, sim, todo mundo diz que o temperamento do cara era explosivo ao extremo, mas que desde que virou "garoto da moda" no Valencia, tal qual aconteceu com Rafael Hettsheimer no Zaragoza (este não pelo temperamento, mas pela confiança mesmo), tudo mudou.

O cara é talentoso, com um potencial físico cavalar (ele bateu de frente com Boniface Ndong de igual pra igual – e acho que não preciso falar mais nada depois disso, né…) e parece ter adquirido uma maturidade bacana para não só domar o seu temperamento até então explosivo, mas principalmente para entender melhor o jogo de basquete. É, sem dúvida, um jogador pronto para alçar voos maiores – seja no Valencia ou em outro clube europeu.

Na entrevista coletiva, quando o assessor de imprensa do Barcelona anunciou que eu, um jornalista do Brasil, faria uma pergunta ao treinador do Valencia (o rígido Velimir Perasovic), ele me respondeu sobre Vitor ("foi o jogador que transformou o nosso time de mediano para bom da metade final da temporada pra cá, simples assim", disse-me) e terminou com uma indagação a mim: "Você pode me explicar por que diabos ninguém no seu país o convoca?". É bom lembrar que as médias do jogador são de oito pontos e três rebotes, mas seus números melhoraram incrivelmente (a partir da 27ª rodada, em apenas três ele atuou por 16 ou menos minutos, e em nove das 13 partidas desde então ele obteve dez ou mais pontos).

Não consegui, sinceramente, tirar a dúvida dele, mas fiquei assustado ao constatar que para a comissão técnica da seleção brasileira um pivô de 24 anos, 2,08m e titular de um bom time da segunda melhor liga do mundo não está entre os 45 melhores atletas do país.

Estranho, não?

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