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Bala na Cesta

De cabeça fria, uma análise sobre a derrota feminina no Pan-Americano

Fábio Balassiano

25/10/2011 00h02

Evitei escrever logo depois da derrota da seleção feminina para Porto Rico por 69-68 nos Jogos Pan-Americanos. E foi proposital. Preferi esperar, refletir, conversar com meu guru Bert, do PBF, antes de rabiscar qualquer coisa (até porque, pelo que li, foi difícil tentar se manter tranquilo tal o volume de reações absurdas). Então vamos lá.

1- Sim, é uma vergonha perder para Porto Rico no basquete feminino. Quanto a isso, não há a menor dúvida. Mas, de verdade, não consigo dizer que um time entrou com o tal "salto alto". Acho muito temerário alguém que não está com o grupo falar isso como verdade absoluta.

2- Acho muito mais justo falar em falta de concentração e controle emocional, "mal" que assola o basquete brasileiro há alguns anos – e sem sequer uma tentativa de solução engatilhada. Hortência e seus power-points não resolverão isso, posso garantir.

3- Em termos individuais, é inegável que Érika teve uma partida muito fraca. Onze erros de arremessos em 12 tentativas, erros em todos os quatro lances-livres tentados. Tarde para ela esquecer. O que a gente, de fora, não pode esquecer, é que ela está há dois anos sem férias, é a segunda melhor pivô do mundo e que foi fundamental no Pré-Olímpico. Jogou uma peleja péssima e ponto. Assim como ela, Iziane (foto) foi mal em sua seleção de arremessos pós-primeiros cinco minutos.

Sobre Palmira (1/9 de fora) eu prefiro nem comentar. Damiris não foi mal, mas pecou em lances importantes no último minuto: na falta e cesta de Placido e nos dois arremessos não convertidos logo depois. Faz parte, e é bom lembrar também quão brilhante foi o ano da menina de 18 anos (MVP de um Mundial Sub19, medalha de bronze na competição e titular da seleção adulta no Pré-Olímpico).

4- Para mim, vamos lá, o principal está aqui: o Brasil é um time absolutamente comum sem Iziane, Érika e Adrianinha. A primeira foi preterida por Ênio Vecchi no segundo tempo inteiro (erro absurdo!), a segunda teve um dia ruim e a terceira não estava lá. Pronto: sem elas, a seleção feminina é um time fraquíssimo, de verdade. Com as três em um dia bom, o time tem chance de ficar entre os quatro do mundo. Sem elas, é capaz de perde para times horríveis – e perdeu para um ontem.

5- Ênio Vecchi foi muito, muito mal ontem. O maior mérito da seleção sob seu comando era a defesa. Ontem ele não conseguiu ver que saíam pontos via infiltrações com facilidade impressionante (Sepulveda, com 22, e Escalera, com 17, engoliram a marcação sem sobra do Brasil). Com isso, o volume de pontos tentados foi alto, e o percentual de acerto também (48% é muita coisa).

O ataque, como sempre, oscilou muito, e aí eu acho que Ênio vacilou demais (nem vou entrar no mérito tático do jogo "escolhido" pela equipe, que teve 18 rebotes ofensivos, correu uma barbaridade e pouco pensou). A armação não funcionou com Babi e Tássia, e deixar Iziane no banco foi uma opção infeliz demais. Se ela estivesse "atrapalhando" o time chutando desesperadamente, tudo bem. Mas, não, não era isso o que se via. O ataque estava terrível com ou sem ela. Tirá-la foi uma decisão ruim, que privou a equipe de sua jogadora mais talentosa fora do garrafão. Sem ela, Palmira, Silvia e Tássia chutaram 3/18 de fora e somaram seis erros. Já que estava uma desorganização cruel, não seria mais inteligente deixar Iziane ao menos tentar? Não foi o que o treinador pensou.

6- Por fim, fica aqui minha tristeza com as mensagens e comentários que li na internet após a derrota de ontem – e de gente que respeito. Dizer que jogadora A é boa ou ruim é "do jogo", mas acho que profissionais da imprensa deveriam estudar um pouco mais antes de emitirem opiniões "futebolísticas" a respeito de algo que pouco conhecem. Dizer que sente falta de Paula e Hortência em quadra é o mesmo que eu falar que sinto falta de Romário e Ronaldo no ataque da seleção de futebol – uma declaração tão vazia quanto saudosista. Poucos têm ideia de como é a dura realidade do basquete feminino por aqui.

E você, concorda comigo?

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